Fazendo História

À procura da viola perfeita

Músicos identificados com a mpb e o pop rock falam de suas preferências e de como se deve escolher modelos diferentes de violão. Publicada na Revista Batidas de Violão, Volume 1, Fascículo 3, de março de 2008. Fotos: Divulgação (MM) e Flávio Colker/Divulgação (GI)

O primeiro violão a gente nunca esquece, mesmo porque a história mostra que muitas vezes ele vem como presente de algum familiar ou mesmo aquela coisa romântica de passar de uma geração para outra: pai para filho, tio para sobrinho e assim por diante. O que faz desse primeiro contato algo que não inclui a preferência de quem começa a tocar, mas, na melhor das hipóteses, a de quem passou o instrumento. E depois desse primeiro contato - se a coisa fluir - como chegar ao modelo exato de violão que se encaixe no tipo e som que se quer fazer? As opções são muitas, desde o violão clássico, o mais popular no Brasil, herança da bossa nova, passando pelo de caixa fina, ambos com cordas de nylon, até o aço folk, muito usado no pop rock nacional. Isso sem falar a variações como o ovation, em violões vazados, e no famoso 12 cordas, que sempre dá um toque de originalidade.

Maurício Maestro (Boca Livre)

Maurício Maestro (Boca Livre)

Maurício Maestro, integrante do Boca Livre, costuma usar violões com cordas de nylon, e já experimentou vários modelos, mas hoje seu preferido é um das antigas. “Meu primeiro violão era um Di Giorgio Romeu 3, de 1967, que eu usava em apresentações ao vivo. Depois comprei um Do Souto estudo, que já sofreu todos os tipos de rachadura em climas frios, mas mantém um equilíbrio incrível e é o violão que eu uso para tocar ao vivo”, conta. O músico chegou até a adquirir um modelo alemão Hopf (usado por Baden Powell e agora pelo filho Marcel), preferido para gravações acústicas, mas voltou mesmo para o velho Do Souto. “Ele tem um equilíbrio muito bom, um timbre acústico que me agrada muito”, justifica. O preferido de George Israel, do Kid Abelha, e que acaba de lançar o segundo disco solo, “Distorções do meu jardim”, é o aço folk. “É um Takamine Santa Fé, resistente na estrada e que tem um som ligado decente, além de ser um bonito violão e até funcionar bem no estúdio”, conta. O aço folk, ou simplesmente aço, é o modelo preferido pela maioria dentro do pop rock. Skank, Dani Carlos, Jota Quest e Charlie Brown Jr. que o digam.

George tocou num ponto interessante, o do violão bom para a “estrada”, já que as condições para se tocar e (principalmente) captar um som num estúdio e sobre o palco são bem diferentes. “No começo da turnê do acústico eu usava um de seis cordas, outro de 12 e o resonator (ou dobro, espécie de guitarra semi-acústica muito usada na música country), mas depois acabei usando só o Santa Fé”, explica. Para ele o momento de compor acaba sendo com o mesmo violão, já que pegou o hábito de fazer novas músicas na estrada mesmo: “Depois do show levo o mesmo violão para o hotel. Em casa é que às vezes uso de nylon”. Já com Maurício Maestro, como na maioria dos compositores advindos da mpb, ocorre o contrário. “Às vezes toco um violão de aço, um Takamine antigo que eu comprei do Claudio Nucci (ex-integrante do Boca Livre) e dei uma reformada. É bom porque varia o timbre e o modo de tocar”, acredita. Ele vê a composição como algo mais lúdico, uma verdadeira relação entre o artista e seu instrumento. “Compor é um exercício solitário, introspectivo. Às vezes, quando fico muito tempo sem tocar com um dos meus instrumentos, demora até conseguir ‘desenferrujar’ e tirar um som bonito, mas depois que isso acontece o instrumento agradece me dando inspiração para alguma musica”, teoriza.

George Israel (Kid Abelha)

George Israel (Kid Abelha)

Voltando ao assunto tocar ao vivo, a escolha do instrumento pode depender do tipo de captação – a forma que o som acústico vai ser amplificado para que todos ouçam – possível para cada situação. “Para mim, a melhor captação é a da marca RMC, mas estou me referindo a violões de cordas de nylon, que são mais difíceis de amplificar”, opina Maestro. “Para gravar eu deixo a responsabilidade com os técnicos, e ao vivo peço para deixar flat e com pouco reverber”, conclui. Israel, que no Kid Abelha e na carreira solo, tem que “traduzir” o rock de guitarras para seu violão, já passou por alguns apuros. “A amplificação sempre foi um problema”, dispara. “Chequei a usar um microfone de contato nos anos 70. Hoje uso um (microfone) Newman U 87 apontado para a parte do tampo, entre a boca e o braço, e um condensador mais para agudos e palhetadas apontado para a ponte”, detalha. Como se vê, nenhum dos nossos músicos citou o modelo Ovation, popularizado pelo mestre Al Di Meola, mas hoje fora de moda.

Técnicas e preferências pessoais de lado, que tipo de violão um iniciante deve escolher, assim, como quem não quer nada, só para ver se tem jeito para a coisa? Para George Israel, o novato deve optar por “um (violão) que afine e mantenha a afinação, com uma regulagem confortável para ser mais fácil de tocar”. Mas alerta: “como o violão vem com as cordas mais altas do que o necessário, é importante esse investimento com um luthier”. Já Maurício Maestro vai pela linha do custo/benefício, mas também aposta no contato com alguém que já seja “do ramo”. “Hoje em dia há alguns instrumentos baratos (já com captação) fabricados na China, na Coréia, etc. Eles são de série, mas são basicamente afinados e confortáveis. Mas eu recomendo ir (à loja) com alguém que já toque, pois pode haver diferenças entre dois violões da mesma série que um iniciante não vai perceber”.

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