Som na Caixa

Titãs

Sacos Plásticos
(Arsenal/Universal)

titassacosEmbora tenha sido uma banda de numerosos integrantes, o Titãs sempre precisou de um produtor sagaz para arredondar a diversidade sonora produzida pela troupe. No seu grande momento, nos anos 80, coube a Liminha essa tarefa, e aqui, nesse “Sacos Plásticos”, é Rick Bonadio quem resgata um formato de trabalho que parecia esquecido dentro da própria banda. Bonadio é um sobrevivente do jeito que as gravadoras trabalhavam no passado e, acumulando a função de proprietário, ofereceu o único esquema de trabalho que pode satisfazer a grupos consagrados como o Titãs, incluindo os vícios de mercado que contribuem substancialmente para a exposição e a manutenção do sucesso.

Referenciado pelo passado do grupo, Bonadio aplicou no disco aquilo que ele conhecia de melhor nos Titãs. Assim, as programações de bateria, samples e guitarras adicionais, em sua maior parte, lembram a fase emblematizada pelo disco “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987). Estão de volta, ainda, os reggaes (“Nem Mais Uma Palavra”, “Quanto Tempo”) e até uma recente parceria com o mesmo Liminha e Arnaldo Antunes - o primeiro ex-Titã -, na ótima “Problema”, irmã gêmea da dançante “O Quê”, de “Cabeça Dinossauro” (1986). Na mesma linha, “Múmias” é quase um tecnopop à anos 80, não fosse o sample de uma pesada e funkeada guitarra, e ainda o refrão brega, outra típica artimanha “titânica” que embola o meio de campo.

Mas há exceções, como na pesada “Deixa Eu Entrar”, não por acaso uma parceria com Andreas Kisser, que também fez a guitarra e tem em “Polícia”, que há anos faz parte do repertório do Sepultura, uma eterna dívida. Outra é a melosa “Deixa Eu Sangrar”, que acabou ganhando um arranjo de cordas gravado em Nashville, assim como “Quem Vai Salvar Você do Mundo?”, essa com belos requintes de drama. Uma desnecessária extravagância típica do áureo passado das grandes gravadoras. Ecos dos anos 90 aparecem em “Agora Eu Vou Sonhar”, com samples que vão direto ao baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, referência também para o Charlie Brown Jr, grupo pinçado ao mercado pelo mesmo Rick Bonadio - é bom que se lembre.

As variações vocais são as de sempre. Não chega a ser uma regra, mas é Sérgio Britto quem se esgoela em temas mais comportamentais, Paulo Miklos o que pega leve em conteúdos suaves ou de relacionamento – caso de “Antes de Você” -, e Branco Mello, cada vez mais baixista, circula pelas duas facetas, com grande desenvoltura, como nas antônimas “Deixa Eu Entrar” e “Quanto Tempo”. Embora tenha se escorado nas habilidades de Rick Bonadio, o Titãs se fechou em si próprio em “Sacos Plásticos”, tanto que não foi preciso um guitarrista de apoio para o lugar deixado por Marcelo Fromer, como aconteceu em “Como Estão Vocês?”, seu antecessor. O grupo também, obviamente, passou ao largo da temida guinada emo anunciada na crônica musical.

Apesar das 14 faixas, todas têm duração concisa, o que resulta num álbum enxuto como “Cabeça Dinossauro” e cujo repertório poderia até caber num LP. “Sacos Plásticos” é apenas mais um bom disco dos Titãs, que continua a se reinventar, dessa vez olhando para sua própria trajetória, que, a bem da verdade, nunca viu melhor sentido que não fosse no típico (se é que existe) pop brasileiro.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Antônio joventimo machado em março 21, 2014 às 16:37
    #1

    Quero saber de vocês se o novo CD vai estar ótimo igual ao “Sacos Plásticos”, ao “Titasnomaquia” e aos outros. Na minha opinião todos os CDs dos Titãs são nota 10.

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