O Homem Baile

Sombrio, Heaven & Hell revive magia do Black Sabbath

Segunda melhor formação do grupo que criou o heavy metal mostra que sua história ainda não acabou; fábrica de riffs continua funcionando muito bem. Foto: Divulgação.

heavenhell1Era para ser apenas um encontro de celebração do heavy metal, mas foi muito mais do que isso. E não só porque dentre as cerca de 5 mil pessoas que foram ao Citibank Hall, ontem, no Rio, estavam nada menos que dois fundadores do Black Sabbath. Mas havia a noção exata de que eles mudaram a história do rock e que ela – a história – estava passando ali, na frente de todos, em pleno movimento. Além de reviver hinos que marcaram época, Tony Iommi e cia., sob o nome Heaven & Hell, ainda mostraram, em três músicas que estão no novo álbum, “The Devil You Know”, que a fábrica de riffs ainda não acabou.

Ao final de “Mob Rules”, Dio, o baixinho de voz exuberante, pede que as luzes se acendam. “Quero ver todos vocês, meus amigos!”. Elas revelam um paredão cravejado de chapas de aço no fundo de palco, com um muro cheio de correntes e cruzes mais à frente, onde o baixista Geezer Butler de um lado, e Tony Iommi, de outro, não se fazem de rogados para disparar a base mais pesada do rock em todos os tempos – e com apenas um guitarrista. Em todo o set, não há um registro sequer do canhoto Iommi fazendo ajustes no amplificador, brigando com pedais ou apertando borboletas do braço da guitarra. É tudo tão natural que torna a performance ainda mais assustadora. Ao centro, o sempre correto Vinny Appice mostra duas séries de tontons posicionados na vertical, uma de cada lado, e, à frente, é Dio quem comanda.

O volume generoso reforça o quanto é extraordinário o riff de “Children Of The Sea”, e que só Tony Iommi, de longe o maior criador de riffs da história do rock, pode executá-lo com perfeição. Dio recolhe faixas e cartazes de agradecimento. Um deles, direcionado a Iommi diz: “Obrigado por ter criado e sustentado o heavy metal”. “Um sonho realizado”, estampa outro. Com o semblante discreto, Butler e Iommi não arrefecem um segundo sequer – é difícil seguir o bailar de dedos do baixista -, nem nas músicas mais recentes. Na melhor delas, “Falling Off The Edge Of The World”, a voz sexagenária de Dio arranca aplausos antes de um riff no mínimo sinistro fazer jus a toda trajetória sombria do quarteto.

O público responde com aquilo que o heavy metal tem de melhor: braços erguidos com punhos cerrados em coreografia ensaiada – puro instinto. E não só no enxuto solo de bateria em que Appice pede a participação de todos. Em “Die Young”, precedida por um solo discreto e surpreendentemente dramático de Iommi, a platéia não se contém, num dos momentos mais emocionantes da noite. Mesmo em “Fear”, dentre as novas a preferida de Dio, uma marcação pesadíssima leva a platéia a uma interação inesperada para uma música ainda pouco conhecida. É a força da canção e de seu arranjo atuando por si só.

Mas a celebração maior vem com a música chave para a época em que Dio salvou o Black Sabbath do ostracismo a que parecia estar condenado após a saída de Ozzy Osbourne, lá no final dos anos 70. “Heaven & Hell” dura mais de 20 minutos, entre o famoso cantarolar do público – que continuou fora da casa, tal qual nas torcidas organizadas -; solos de Butler e Iommi, devidamente embutidos na música; a destruição que Appice faz no seu kit; e a encarnação do Mal representada por um Dio iluminado por um facho de luz vermelha vindo do piso. No bis, logo em sequência, o volume do som parecia ainda maior para realçar a força de “Neon Nights”. Como se fosse um fã entre tantos naquela noite, Dio agradece a Tony Iommi e Geezer Butler: “Sem vocês não seríamos nada”, no que recebe um generoso sorriso do guitarrista.

Embora intensos, os 90 minutos que duram o show dão a sensação de que uma ou outra música poderia ter entrado no repertório. Mesmo porque, nas vezes em que veio ao Brasil com sua própria banda, Dio sempre tocou por, no mínimo, meia hora a mais. Mas talvez seja esse o segredo de longevidade desses senhores. Talvez por isso eles tenham influenciado tanta gente e se mantenham numa forma extraordinária. Que assim seja.

Set list completo:

1- E5150
2- The Mob Rules
3- Children of the Sea
4- I
5- Bible Black
6- Time Machine
7- Solo de bateria
8- Fear
9- Falling off the Edge of the World
10- Follow the Tears
11- Die Young
12- Heaven and Hell
13- Country Girl/Neon Knights

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Carlos em maio 27, 2009 às 17:55
    #1

    O show foi sensacional, mas achei a versão de HNH exagerada. Cinco minutos a menos e uma música a mais seria perfeito

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