Rock é Rock Mesmo

Tudo ao mesmo tempo agora é pouco

O sujeito ainda outro dia tinha a fralda trocada pela babá e hoje já é um especialista num determinado assunto que existe há cem mil anos. Estudou? Aprendeu? Teve aulas? Se formou? Não, viu na internet.

Meus amigos, a maré não está pra peixe no mercado fonográfico. Na verdade, nunca esteve. Dizem por aí os arautos da modernidade que nunca foi tão fácil para uma banda nova gravar um disco. No que eu concordo em gênero, número e grau. O difícil, meus amigos, é, uma vez com o CD na mão, fazer com que um certo número de pessoas escute as músicas que estão ali dentro. Ah, é só colocar na internet, que o mundo todo tem acesso - argumentam alguns. Mas é preciso ter um computador - dizem outros. No que eu rebato: alguém consegue, ao menos, fazer uma estimativa de quantos grupos musicais abriga hoje a internet?

A questão passa a ser, portanto, saber o que é que eu vou ouvir. E, para as bandas, num universo universal, o que fazer para que alguém se interesse pelas suas músicas. Não basta só elas serem sensacionais, agradáveis, “pop”, cativantes, revolucionárias. Não é só mais a música que conta. E digo isso falando em causa própria, porque aqueles que já nasceram e estão sendo criados com um mouse ao alcance das mãos é que não têm a mínima noção do que estão ouvindo. Imaginem então do que, eventualmente, gostariam de escutar.

Falava que a coisa está ruim para a indústria fonográfica e para quem quer gravar um disco. Mas, acreditem, nunca foi fácil. Antes, gravava-se uma demo que era enviada para as gravadoras, rádios e formadores de opinião em geral. Dependia-se da criação de um certo “alvoroço” em torno dessa fitinha demo e do interesse de uma das cinco grandes gravadora (ou, durante um período, de alguns selos independentes) para, enfim, ter um disco lançado. Como aparecem artistas a rodo nesse rico mercado musical brasileiro, o gargalo era grande, mas volta e meia aparecia alguém. Aparecia bastante gente, na verdade, ainda mais em períodos de fartura econômica, não por acaso a época em que explodiu o rock nacional.

Ocorre que, hoje, não tem mais esse caminho. Gravadoras praticamente não contratam novos artistas, e, se o fazem, não têm orçamento para investir em mídia e divulgação. As rádios faliram, muito por causa do novo modelo do mercado musical, mas também por conta da política excludente do jabá. Se no início a gravadora ia até a rádio contratar novidades, passou a impor seu produto na programação, e hoje, sem grana, faliram os dois – não são mais referência para nada. E os formadores de opinião estão se tornando cada vez mais obsoletos, num modelo de mercado em que a opinião está em extinção.

Digo isso porque, de outro lado, há opinião demais. Explico. Na internet, todo mundo tem opinião. O sujeito ainda outro dia tinha a fralda trocada pela babá e hoje já é um especialista num determinado assunto que existe há cem mil anos. Estudou? Aprendeu? Teve aulas? Se formou? Não, viu na internet. Tornou-se, e torna-se, cada vez mais, aquilo que o google apresenta, uma verdade absoluta que afiança a razão em qualquer discussão sobre qualquer assunto. Se há subjetividades como na música e no rock, aí então é que o bicho pega. Se a discussão é no meio virtual, o Fulano vai lá, dá uma conferida na Wikipedia e pronto: apresenta os argumentos mais convincentes.

Pois com tanta opinião de tanta gente que não sabe nada, que longe do teclado e do mouse são basbaques vocacionais, concluo que, na verdade, não há opinião nenhuma. Resenhas são feitas a partir de textos de outrem, traduzidos às pressas, assinados com autoria relativa que varia de endereço para endereço. Entrevistas são feitas com as mesmas perguntas e respostas, a ponto de entrevistados – mais de um, já vi – dizerem que guardam as respostas num arquivo e apenas copiam e colam a cada vez que recebem as idênticas pautas. Blogs inteiro são escritos com base em opiniões alheias, devidamente decalcadas para esta ou aquela realidade virtual.

Não podemos reclamar, então, vamos e venhamos, que o interesse da juventude pela música tenha diminuído. E não estou falando só do brutal aumento de entretenimento trazido pelo mundo virtual, mas de uma diluição generalizada da informação e do conhecimento que gera desinteresse daquele que, de fato, está com o HD cerebral totalmente formatado, querendo preenchê-lo. Só que, ao se deparar com um sem fim de informação, como saber qual é a relevante? Com tanta música para se baixar e ouvir, como saber qual é a mais legal, a que realmente importa?

Eis aqui uma questão que o google não resolve – não resolve nenhuma, a bem da verdade. Nunca as coisas mudaram tanto em tão pouco tempo, de modo que só ele mesmo, o tempo, é que vai verificar o que aconteceu. Só que pode ser tarde demais, porque o mundo é movimento puro, e não há como fazer amostragem no meio disso. É preciso fazer tudo ao mesmo tempo. Saber no que vai dar já fazendo que pode ser feito mais tarde, dependendo daquilo que aconteceu. Deu pra entender? Não? Nem eu.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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