Fazendo História

Release
Mão na cabeça que Uzômi tão na área!

Release feito em 2005 para o lançamento do CD de estréia da banda carioca Uzômi

uzomicdA grafia pode não ser das mais convencionais, mas a expressão é conhecida. Quando alguém grita “uzômi!” é porque é hora de mostrar que nada demais está acontecendo e a caravana da repressão policial pode passar despreocupada.

Mas normalidade não é o que acontece quando o Uzômi, a banda, sobe no palco. O desavisado que se deparou com o grupo tocando no underground nos últimos dez anos se espantou com o que viu. Dois caras se alternando em vocalizações que mais parecem a reprodução do som de uma betoneira, um guitarrista cabeludo que gira a cabeça sem parar, um baixista que empunha o baixo como se fosse guitarra e um baterista que senta o braço num processo quase terapêutico.

O Uzômi se formou no estúdio onde Sales, um dos vocalistas, trabalhava, e Heron, o outro, perambulava. No início, era um bando de adolescentes que precisava “liberar testosterona”, e a primeira demo, “Crau Puro”, de 96, trazia títulos como “Ted Bronha” e “Quero Comer Girl”.

A formação ainda não estava consolidada, mas a música já era pesada, fruto de referências comuns que não deixam dúvidas: o thrash/death metal mais pesadão, vocais guturais (de onde vêm os berros de Heron), o hardcore de Nova Iorque e bandas nacionais como o Gangrena Gasosa, clássica pela mistura de vocais guturais e limpos.

Em 98 o CD Demo que levou o nome da banda já trazia mudanças nas letras, que aos poucos assumiram a temática filmes de terror/guerra/destruição de hoje. Mas a formação mesmo só se estabilizou com China (guitarra, também Matanza), Vinicius (baixo) e Vítor (bateria), além de Sales e Heron. Em 2001 a banda decidiu começar a trabalhar nas músicas que resultaram neste álbum (chamado Uzômi mesmo) que agora chega ao mercado.

Algumas músicas são até mais antigas, mas ganharam unidade com as demais, porque, via de regra, as letras abordam temas indigestos como chacinas feitas por prazer, como em “Freak Show”, que tem a essência de um Napalm Death. “Thrash” vem quase emendada, e como o nome sugere, é praticamente um tributo às bandas californianas dos anos 80, como o Slayer, por exemplo. Assim também é a ótima “May Day Marte”, que contém jaulas, espíritos, hippies, estupros e desgraças.

Já “Âmbar”, que traz aquela cadência típica para pogar, é curiosamente mais limpa, e uma das que deve levar o público para o meio da roda. Ela contrasta com a ultra-rápida “Jogo de Hades”, onde o vocal gutural é que domina, assim como na anterior, “Zombification”, que no final do disco ganha um curioso bônus remix, com jeitão hip hop, feito pela galera do Inumanos. Outra que vem como bônus é a regravação do “hit” “Califórnia”.

O quinteto insano encomendou a arte da capa para Marco André Donida, guitarrista do Matanza. Donida, ótimo ilustrador, captou o espírito da coisa e deu vida a hiena Jéssica, uma mascote que literalmente “caga” para a devastação que causou.

Toda a tiragem inicial do disco saiu no formato digipack, e com um encarte que não ficou atrás: trata-se de um álbum em que cada página representa uma das treze músicas do disco, criado pela Sociedade Alternativa, grupo especializado em arte visual, piercings e tatuagem.

E não é só. O clipe para “Freak Show” aparece numa faixa multimídia produzida pela Rattaria Digital e dirigido pela Pepa Filmes, produtora responsável por títulos do naipe de “Depressão Fudida” e “Monstrengo, o Incenso da Discórdia”, só para se ter uma idéia. No videoclipe a banda não aparece, mas Heron interpreta um dos personagens.

A produção de luxo, além de fazer jus à trajetória do Uzomi, marca a estréia da Ant-Discos, gravadora independente que lançou o disco de estréia do impagável Cara de Porco, e promete para breve o relançamento de “Menorme”, do Zumbi do Mato, além de uma grande lista de novos artistas, que inclui, entre outros, Remold, Speaknine e Filhos do Silêncio.

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