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Legião Urbana e Paralamas do Sucesso

Legião Urbana e Paralamas Juntos
(EMI/Globo Marcas)

legiaoparalamasA iniciativa de resgatar o que realmente aconteceu nos anos 80 por si só já vale esse DVD, que traz a íntegra de um programa levado ao ar pela Rede Globo em 1988. Soma-se a isso o fato de as bandas terem se apresentado ao vivo (coisa rara na TV) para o especial, gravado no Teatro Fênix, a coisa ganha ares de “documento histórico”, sobretudo em épocas de banalização da expressão.

Embora exibido em setembro, provavelmente as gravações foram feitas ainda no inverno, o que justifica os trajes pesados de Herbert Vianna e de Renato Russo, que usa um cachecol para tentar preservar a voz rouca de dar dó. Assim como a platéia, encasacada, que se delicia com a dancinha típica de new wave made in Brazil dos anos 80. Afora os indispensáveis hits das bandas, gigantes na época de ouro do rock nacional, como “Tempo Perdido” e “Que País é Este” (Legião), e “Meu Erro” e “Alagados” (Paralamas), todos absolutamente ao vivo e com erros facilmente perceptíveis de parte a parte, há alguns trechos que fazem do programa algo “único”. Herbert e violão canta “Nada Por Mim” (dos Paralamas) com Renato, e “Ainda é Cedo” é encerrada com as duas bandas – aí sim – juntas no palco, com citação a “Jumpin’ Jack Flash”, dos Stones.

O problema é que o especial foi feito pela Rede Globo, e a emissora nunca soube (até hoje não aprendeu) gravar um show de rock. Primeiro que as tomadas são banais, pouco mostram dos músicos tocando. Não se vê detalhes de cada instrumento nem a performance de cada um, exceto dos vocalistas. Depois, a Globo não se preocupa em mostrar como as coisas acontecem; cria sua própria realidade. Em vez de gravar, por exemplo, um show das bandas para fazer o programa, com o público delas de verdade, cria seu show particular com público de plástico, importado diretamente dos camarins de suas novelas. Antecipava, assim, o idiotizante culto às celebridades.

Chega a ser patético a participação de globais, seja interpretando um fã de uma ou outra banda ou dando depoimentos vazios como os de Tony Ramos. Ou ainda apostando na retórica de Baixo Gávea do autor de novela Carlos Lombardi. Até uma juvenil Cláudia Abreu, ao falar sobre o Paralamas, aparece repetindo a crítica que leu no jornal rapidinho antes de as gravações começarem. E o Fernando Gabeira, que teve que parar uma sessão de fotos para falar sobre o que não conhecia? Se tivesse optado por gravar o show da Legião no Jóquei Clube do Rio, no dia 7 de julho de 1990, ou o do Paralamas no Maracanãzinho dentro da série “Alternativa Nativa”, aí sim a Globo teria prestado um grande serviço à música brasileira, e teríamos efetivamente o registro Histórico (com H maiúsculo) da época. Uns pitacos da crônica musical também não fariam mal.

Mas há, sim, no DVD, uma fotografia do que acontecia naquele 1988. O Paralamas em fase de transição, depois de ter estourado com a new wave à Police, flertado com o reggae e a mpb, e em clara fase de transição, musical e de sucesso; e a Legião com um disco de músicas antigas desenterradas para cobrir o vácuo deixado pelo sucesso grandioso do segundo disco, que beirou o fanatismo do show de Brasília, transformado em bagunça por conta da falta de organização dos produtores. As duas bandas muito boas no palco, apesar de se tratar de uma fria gravação. “Que País é Este” era o grande hit de um Brasil a caminho da mudança, enquanto “Alagados” mostrava um cruel realidade carnavalizada pela classe média. Vale, também, as entrevistas gravadas com Herbert e Renato, exibidas entre as músicas, mostrando o pensamento “daqueles jovens”.

Os extras do DVD trazem aparições das duas bandas no “Globo de Ouro”, um programa de TV dominical em que tudo era gravado em playback, como única opção em tempos pré MTV. Ao todo são quatro pra cada um, sendo que a Legião ganhou um “clipe” um especial para, claro, “Que País é Este”, gravado para o “Fantástico” em 1987. Um belo retrato de como era ruim a TV brasileira naqueles tempos. Um CD bônus vem com o áudio de 12 músicas, numa qualidade apenas razoável, mas que não tira o mérito do registro ao vivo em si. Oxalá venham outros resgates como esse.

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