O grupo O Rappa e o cantor Caetano Veloso vão se apresentar juntos hoje à noite no Canecão para ajudar a saldar as dívidas do percursionista Paulo Negueba com o Hospital Copa D’Or. O músico foi vítima de uma ação policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no último dia 9, na comunidade de Vigário Geral, onde mora. Confundido com traficantes, ele teve o carro alvejado pelos policias e foi atingido nas costas e na perna direita. Outras duas pessoas saíram feridas e uma morreu durante ação, que durou cerca de duas horas.

Caetano será o primeiro a se apresentar, e fará um show solo, somente cantando e tocando violão. Depois o Afroreggae, grupo que revelou Negueba, subirá ao palco, e por último, o Rappa fará o show completo da turnê “Instinto Coletivo”. A turnê foi até à Europa, passando pelo Festival de Montreux e pela cidade de Reading, na Inglaterra, onde anualmente acontece o festival que é berço da música pop mundial. No show de hoje, a vaga de Negueba será ocupada por Cléber, baterista do Afroreggae.

Segundo o vocalista Falcão, a idéia do show beneficente surgiu naturalmente: “A gente lida com música, pensamos no que a gente poderia fazer para ajudar, e o Alexandre Santos, nosso empresário, teve a idéia”. O encontro com Caetano Veloso aconteceu numa das visitas ao Copa D’Or, e o seu interesse em ajudar deixou o grupo satisfeito.

Caetano Veloso é uma espécie de padrinho do grupo Afroreggae, formado por moradores da comunidade de Vigário Geral, e na qual o Paulo Negueba se destacou, sendo mais tarde convidado para fazer parte d’O Rappa.

Mas Falcão lamentou que outros artistas não tenham também se manifestado em favor de Negueba: “Poucas são as pessoas que nessa hora que se dispõem a ajudar, independente de conhecer o Negueba ou não. Por exemplo, se acontecesse uma problema desse tipo com alguém que a gente conhecesse a história, eu duvido que o Rappa não iria se dispor a tocar. Por isso a gente tá muito feliz com essa atitude do Caetano”.

Perguntado por uma jornalista, Falcão admitiu, entretanto, que mesmo que o show tenha lotação esgotada, algo em torno de 3 mil pessoas, o dinheiro arrecadado ainda não será o bastante para saldar a dívida com o hospital. “Escolhemos o Canecão porque a gente tem um convívio legal com o pessoal de lá, e por termos ter conseguido essa data no meio da turnê, numa quarta-feira”, justificou.

Paulo Negueba recebeu o primeiro atendimento no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, e logo em seguida levado para o Copa D’Or, onde permanece internado até hoje. Como não tem plano de saúde, o músico não tem condições de arcar com os custos do hospital, que é da rede particular. O guitarrista Xandão admitiu o erro por parte da banda. “Esse tipo de preocupação, de todo mundo ter plano da saúde é uma coisa que a gente já tem porque de certa forma o grupo é uma empresa. É que o Negueba só esta com a gente há uns oito meses, acabou que não deu tempo”, explicou.

Essa não é a primeira vez que um integrante d’O Rappa é vítima da violência das ruas do Rio. Em 2000, o baterista Marcelo Yuka foi atingido durante um assalto na Tijuca, e perdeu os movimentos das pernas. Desde então ele tem se adaptado à rotina da cadeira de rodas, se revezando entre sessões de fisioterapia e o trabalho em um estúdio montado em sua casa. Ele foi substituído pelo tecladista Marcelo Lobato, que assumiu as baquetas.

Com tantos revezes, o grupo não lança apresenta trabalho inédito desde 1999, quando foi lançado “Lado B Lado A”. Mas segundo Falcão, o próximo álbum já está sendo preparado: “a banda está trabalhando em três estúdios: no de Tom Capone, na casa do Yuka, e no do tecladista Lobato. Pelo que o Yuka passou, dá o direito da gente esperar ele tomar as iniciativas de fazer ou não fazer alguma coisa, sem ter muita pressa”. A previsão de lançamento era para o final desse ano, mas o prazo provavelmente não será cumprido.

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