Som na Caixa

Guns N’Roses

Chinese Democracy
(Arsenal/ Universal)

gunschineseO problema maior não é esse disco ter demorado cerca de 14 anos para se lançado, mas sim, de no meio de todo esse tempo as músicas terem sido modificadas inúmeras vezes, de modo que hoje nem mesmo Axl Rose deve saber como era cada uma delas ao ser composta. De um lado isso é até bom, porque, de uma ou outra maneira, é sinal de que Axl procurou se atualizar a atualizar o disco também, fosse com a inclusão de novos trechos de determinados instrumentos, produção ou mixagem alternativas e assim por diante. Daí os créditos ocuparem quase três páginas do polpudo encarte, numa confusão dos diabos.

Trata-se notadamente de um trabalho solo de Axl Rose, como se o vocalista recrutasse milhares de amigos para fazer um disco, que, ainda assim, tem a marca do Guns N’Roses. Porque estão aqui os indefectíveis vocais estridentes de Axl, as guitarras típicas do hard rock – se não têm a criatividade de Slash, carregam a marca do gênero -, e todo o peso que lhe é característico. E há ainda a mesma megalomania que acometeu Axl na hora de fazer os dois “Use Your Illusion”, elevada à maior potência que a matemática pode aplicar a uma banda de rock. A simplicidade espontânea de “Appetite For Destruction” (na verdade o único grande disco do Guns) foi enterrada de vez. E nem poderia ser diferente no mundo globalizado de hoje, que contém como bônus um Axl mais afetado que nunca.

Nada disso, entretanto, tira a qualidade de uma boa música. “Street Of Dreams”, por exemplo, reedita os melhores momentos do Guns N’Roses. Trata-se de uma típica balada do grupo, com excelente intervenção de guitarra (sabe-se lá de quem), solos emocionantes, um acompanhamento de orquestra e Axl usando a voz como nos bons tempos. É a “Sweet Child O’Mine” da vez. Da mesma forma “Catcher In The Rye”, do verso chiclete “guess I’d have more fun”, carrega a identificação pop de longa data do grupo. O trecho cantarolado e as guitarras solando em fade no final mostram que Axl não perdeu a medida, ao menos não completamente. Caso também de “Riad N’ The Bedouins”, que, se não é do mesmo nível, faz os berros de Axl grudar logo de cara; e do refrão colante de “Shackler’s Revenge”.

A grandiloqüência de Axl por vezes também afasta o disco do próprio Guns. Caso da esquisita “If The World”, que passa boa parte dos seus cinco minutos sem guitarra, erro fatal pra um ícone mundial do hard rock. Em “Scraped”, Axl se esgoela em vão, porque o contraponto que faz com si mesmo, alternando graves e agudos, não salva a música, uma das mais fracas do CD. Talvez até por sofrer muitas intervenções de produtores, soa pouco “orgânica” – se é que o termo pode ser aplicado num álbum remexido durante mais de uma década.

O que chega a irritar em todo o disco é que não há 30 segundos sequer sem aparecer um barulhinho a mais, uma percussão eletrônica pentelha ou algo que soe notoriamente gratuito – talvez só no trecho vocal/guitarra/teclado de “This I Love”. A perda da noção ganhou proporções tão grandes que até ela é desmedida. E não joga a favor de músicas ruins como “There Was a Time”, por exemplo. Nem turbina, como poderia fazer, a fraca “Sorry”, cujas partes formam um quebra-cabeças sem solução. Assim como na época dos “Use Your Illusion”, cujos álbuns, somados, talvez dessem um único bom CD, aqui talvez se limássemos umas quatro, cinco músicas, fosse melhor.

Isso falando de um disco em si. Porque para o bem do Guns N’Roses (e de Axl), o melhor é que tudo que ele tinha guardado e finalizado esteja nesse “Chinese Democracy”. E que as questões legais em que ele insiste em se meter o deixem lançar discos regularmente do Guns N’Roses como qualquer grupo faz. Caso contrário periga Axl reaparecer como um Michael Jackson: falido e leiloando objetos pessoais para matar a fome.

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