Som na Caixa

Heaven & Hell

Live From Radio City Music Hall
(Warner)

heavenhellradiocityNão há como não chamar de sinistra a introdução do show que trouxe de volta uma das melhores formações do Black Sabbath: “E5150” emendada com “After All (The Dead)”. A peça funde a fase pós Ozzy com a do bom disco “Dehumanizer”, pérola isolada no tempo. Ocorre que, por um motivo comercial ou outro (leia-se Sharon Osbourne) Ronnie James Dio, Tony Iommi, Geezer Butler e Vinny Appice não puderam usar o sagrado (profano?) nome do Sabbath para voltar à ativa, e então decidiram arregaçar as mangas assim mesmo. Você pode até achar esse entrave algo ridículo – de fato é -, mas não ficará incólume ao apresentado nesse CD duplo, gravado ao vivo em 2007.

Anunciada como uma das primeiras músicas feitas pelos três (Appice não estava na época), “Children Of The Sea” estoura pesadíssima, carregada com um riff que só Iommi poderia executar, forrado pelo baixo mais pesado do planeta. Dio, dentre os gogós veteranos o que mais se mantém em forma, sobra por cima disso tudo, num dos grandes momentos do show. Eles poderiam ter tocado em sequência as músicas de cada um dos álbuns que fizeram juntos (“Heaven And Hell”, de 1980; “Mob Rules”, de 1981; e “Dehumanizer”, de 1992), mas preferiram embaralhar tudo, sem deixar, entretanto, nada que importasse de fora – talvez só “TV Crimes”, que ganhou a MTV com um videoclipe.

O realce, no entanto, não se dá por essa ou aquela música, mas na naturalidade com a qual a dupla Iommi/Butler solta riffs pesadíssimos, jamais reproduzidos por outras bandas com a mesma pegada. Ou seja, o tempo não lhes subtraiu uma grama da balança que heavy metal adota como medida de qualidade. “Lady Evil”, por exemplo, torna o bater de cabeça irresistível: tente ouvir e ficar parado. Algumas dessas músicas têm sido tocadas em turnês de Dio, mas por mais que o Baixinho sempre apareça acompanhado de grandes músicos, jamais conseguiu o peso que encontra no Sabbath. É o caso da própria “Heaven And Hell” (com o dobro da duração da versão original), da veloz “Neon Nights” e de “The Sign Of The Southern Cross”, cujo brilhantismo em alternar silêncio e distorção, aqui, é ainda mais salientado.

Mas como se trata de um álbum ao vivo, por que não apresentar algo de novo? Assim Dio anuncia “The Devil Cried”, lenta, arrastada e ultra pesada. Dessa vez Iommi manda um solo pra ninguém pensar que ele parou no tempo. A atmosfera sombria e de apreensão faz qualquer música de um grupo de doom metal contemporâneo parecer canção de ninar. Isso sem falar no solo de bateria emendado para fechar o primeiro CD. Outra nova é “Shadow Of The Wind”, identificada com a fase Dio dos anos 80, e que coloca a pulga atrás da orelha: é ela retrô ou o som do Sabbath nasceu, nos tardios anos 80, à frente do seu tempo? As duas, somadas a “Ear In The Wall”, são a cereja no bolo da coletânea “Black Sabbath – The Dio Years”, lançada em 2007.

No computo final, as quase duas horas deste imperdível álbum mostram um grupo que resiste ao tempo pela qualidade e inovação que tem pautado o rock e a música pesada em todas as suas ramificações. Resta saber agora, às vésperas do lançamento de “The Devil You Know”, o disco só de inéditas, o que o futuro lhes reserva. Da última vez em que eles estiveram juntos, despertou o ciúme de Ozzy, que ao convidá-los para abri um show da “No More Tours”, apontou para a saída de Dio. Por hora o negócio é usar a máxima de aproveitar enquanto é tempo.

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado