Rock é Rock Mesmo

Kurt Cobain e Jimi Hendrix morreram por falta de ajuda

No aniversário da morte de um dos grandes heróis do rock, é a biografia de outro grande ícone que ganha espaço. Alguma coisa eles têm em comum.

Meus amigos, o que é a tecnologia. E o que é o fracasso da tecnologia. Vejam vocês que desde janeiro não consigo postar em meu próprio site uma vírgula sequer sobre qualquer assunto. A derrocada foi tão grande que tive que convocar às pressas (nem tanto às pressas assim) o Super Webmaster para começar tudo do zero outra vez. E aí, depois de três meses, olha nós aqui de novo, soltando o verbo pra tudo que é lado nesse mundinho do rock’n’roll. Foram longos dias, mas que, lançando um olhar mais profundo, podemos ver esta data como o início do sétimo ano – eu disse sétimo – desta Rock é Rock Mesmo. Ainda que descontinuada, por força de mudanças e fracassos virtuais, nunca parou. Logo, logo (“já, já” a minha irmã não gosta) essas sete primaveras estarão republicadas aqui.

Datas e mais datas. É o tempo, meus amigos. Pois percebam que no próximo domingo completa 15 anos o dia em que Kurt Cobain disparou uma bala contra o próprio cérebro. O último grande herói do rock, dizem. Mas heróis não morrem jamais, fazem parte para sempre do imaginário do rock. Para lembrar a data, estou publicando na seção “Fazendo História” uma bela matéria assinada pelo grande Ricardo “Cebola” Fernandes, feita há cinco anos, quando fui editor da Revista Dynamite. No mundo da música pop não se pode deixar passar em branco o aniversário de dez anos da morte de um ícone dessa envergadura, e precisávamos fazer uma matéria sem cair na retrospectiva fútil.

Assim partimos para responder perguntas que deveriam rondar a cabeça dos fãs na época (boa parte delas ainda persiste), e buscamos as respostas na boa pesquisa (e no conhecimento) do Cebola. Entrevistamos dois biógrafos do grupo, Charles R. Cross, de “Heavier Than Heaven – Mais Pesado Que o Céu: Uma Biografia de Kurt Cobain”, e Marcelo Orozco, que assina “Kurt Cobain – Fragmentos de Uma Biografia”, além de André Barcinski, autor de “Barulho – Uma Viagem Pelo Underground do Rock Americano”. Foi com orgulho que constatamos que nenhum outro veículo abordou o assunto dessa forma. Vale dar uma olhadinha, substituindo o “10” do título por “15”, é claro.

Falei tanto em Cobain, mais o assunto aqui não era para ser o ícone maior do grunge. Queria falar - com certo atraso, admito - de outro herói do rock. Jimi Hendrix. Sim, meus amigos, utilizei Kurt como reles subterfúgio para chegar ao maior guitarrista em todos os tempos. É que, enfim, terminei de ler o livro que, por um outro motivo, começava e largava no meio. Eis que, semana passada, li “Jimi Hendrix – A Dramática História de Uma Lenda do Rock”, todinho, de cabo a rabo. A biografia é assinada por Sharon Lawrence, que, no final dos anos 60, quando o cometa Hendrix virou a grande sensação do rock mundial, se tornou uma pessoa próxima do guitarrista, que tinha o hábito de fazer confidências a ela. Depois de tantos anos, resolveu colocar tudo no papel e mais um pouco, na parte em que assinala o legado musical, comercial e familiar de Hendrix.

Ora, meus amigos, que a história de Hendrix é manjada por todos não se discute. Mas ao menos dois fatos esmiuçados por Sharon me chamaram a atenção. No primeiro deles, a escritora deixa claro que o guitarrista tentou cometer o suicídio e acabou morrendo por falta de socorro, negligenciado por um groupie que não fez nada com medo de uma repercussão ruim na mídia, já naquela época. Segundo o livro, Jimi Hendrix tomou vários comprimidos, passou mal na cama, vomitou e começou a se sufocar com o próprio vômito. Além de nada fazer, a mocinha ainda encheu a boca do guitarrista de vinho, achando que assim poderia “ajudar”. Anos mais tarde, depois de tentar faturar ao máximo como a “última namorada de Jimi Hendrix”, a fofa se suicidou explodindo o carro com ela própria dentro. É mole?

Amiga de Hendrix, Sharon Lawrence mostra revolta com a mulher “que deixou Jimi Hendrix morrer”. Mas não explica porque, se o músico passava por problemas emocionais por conta de uma disputa pelos direitos autorais de suas músicas, não havia nenhum amigo por perto para ajudá-lo. Ela, por exemplo. O que me faz voltar a Kurt Cobain. Quem leu “Heavier Than Heaven” sabe que ele estava nas últimas, se entupindo de drogas, e que logo seu corpo sucumbiria. Mas ninguém fez nada. Ou, por, outra, não fez o bastante ou não conseguiu fazer, já que lidar com drogados é barra pesadíssima. Não seria exagero afirmar que Hendrix e Cobain morreram por falta de um amigo por perto. Piegas, mas verdade.

Disse que Hendrix estava atormentado por conta de disputas entre advogados para chegar ao segundo ponto que mais me chamou a atenção no livro. Nosso ídolo tinha a incrível vocação para se enrolar todo, antes da fama, depois dela e mesmo depois da morte, uma vez que tudo que ele produziu (uma verdadeira mina de ouro) gerou briga num dos espólios mais disputados do mundo. Acreditem que, certa vez, Hendrix, antes da fama, chegou a assinar um contrato de exclusividade de gravação e lançamento por U$ 1. Isso mesmo, um dólar. O enfoque dado por Lawrence é o que o guitarrista foi explorado e manipulado quando era vivo e depois de morto, quando uma “falsa irmã”, adotada pelo pai de Hendrix num outro casamento, já que a mãe dele morrera cedo, tomou conta de tudo. Fazendo marketing pesado, a espertinha conseguiu que todos acreditassem que ela é a verdadeira irmã, e que o irmão legítimo é que é o “aproveitador”. Para o mal ou para o bem, o fato é que a empresa administrada pela tal irmã adotada, a “Experience Hendrix”, permitiu o lançamento do material de qualidade do guitarrista, a partir de 2000. Se nenhum amigo interferiu no processo (nem a autora do livro), e se Hendrix tinha a vocação para se enrolar, aí já é outro problema.

Falei que eram dois fatos que me chamaram a atenção no livro, mas já corrijo. Há, ao menos, mais um. O senso comum na história do rock é que Hendrix era um drogado inveterado, o que faz muitos acreditarem que ele teria morrido, tal qual a contemporânea Janis Joplin, de uma overdose. Na primeira camiseta com estampa de rock que eu comprei, em 1981, na Praça Costa Pereira, em Vitória, Hendrix aparecia tocando com uma faixa amarrada na testa, quase uma bandana. De volta às aulas, uma colega de turma disse que a tal facha era para esconder os furos causados por agulhas que o guitarrista usava para injetar drogas. Na testa. Disse isso só para dar a dimensão da imagem de drogado de Hendrix.

Pois na história contada por Sharon Lawrence, Hendrix tinha pânico de ser furado por agulhas, e não era um contumaz usuário de drogas. A própria Lawrence chegou a cobrar dele sobre o assunto, e a resposta é que não, Jimi Hendrix não era um viciado, embora fumasse lá seus baseados. Acreditar na visão da moça é só uma opção, mesmo porque, em suma, ela endeusa Jimi. Tudo de ruim que ele viveu e deixou para terceiros viverem, para ela, é responsabilidade das pessoas más que estiveram do lado do guitarrista. Mas um ponto é pacífico: faltou gente de bem ao lado de Hendrix. Talvez a própria Sharon Lawrence. E de Cobain também. Sabe-se lá quem.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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