Fazendo História

10 anos sem Kurt Cobain
10 perguntas sobre o Nirvana

Matéria feita há cinco anos, quando a morte de Kurt Cobain completava uma década. Pautada por Marcos Bragatto (que também ajudou na coleta de depoimentos) e assinada por Ricardo “Cebola” Fernandes, dono de um excelente texto. Publicada na edição número 72 da Revista Dynamite, de abril de 2004.

nirvana

No dia 5 de abril de 1994 morria Kurt Cobain. O corpo do último grande ídolo da música pop foi encontrado por um eletricista três dias depois, e a partir dali o mundo da música jamais seria o mesmo. Hoje, passados dez anos, é bom olhar um para trás e compreender o legado deixado pelo Nirvana. Você se lembra como era a programação das rádios e da MTV antes do grupo? Como o rock era considerado um doente em estado terminal? Ou mesmo como o chamado “rock alternativo” era confinado aos guetos? O Nirvana alterou as regras, provando que o underground poderia ser viável comercialmente, sem precisar desviar um milímetro de suas convicções. Ao invés de uma simples retrospectiva, apresentamos dez perguntas sobre o que aconteceria com o rock e a música pop se Kurt Cobain estivesse vivo, além de tentar esclarecer alguns mistérios que rondam a história do grupo. Para isto, fizemos um verdadeiro trabalho de investigação, ajudados por pessoas que conhecem bem a trajetória do Nirvana. Onde estaria Kurt Cobain? Ele pode ter sido assassinado? Ainda existem músicas inéditas do Nirvana? As respostas estão aqui.

1- Que tipo de música Kurt Cobain estaria fazendo hoje?

Uma entrevista com Cobain gravada oito meses antes de sua morte e divulgada recentemente pela revista Uncut dá algumas pistas. Somente uma parte desta entrevista havia sido utilizada, mas o trecho que permaneceu inédito é o mais revelador. Kurt teria afirmado que preferiria entrar para o Hole, por empatia com os membros da banda, ou se tornar um músico como Johnny Cash. Ele não queria ser lembrado como um “roqueiro grunge”.

Uma coisa que se comentava muito na época era uma parceria com Michael Stipe, do REM, com quem Kurt havia feito amizade. Logo após sua morte, Courtney Love declarou que apesar de estar desanimado com relação à música, ele gostaria muito de tocar com Stipe. Os dois nunca chegaram a trabalhar juntos, mas Stipe escreveu a música “Let Me In” em homenagem póstuma a Kurt Cobain. Em entrevista à Newsweek, publicada em 94, Michael Stipe deu um parecer sobre o futuro de Cobain: “O próximo álbum do Nirvana seria bem quieto e acústico, cheio de instrumentos de cordas”.

Opinião semelhante possui Marcelo Orozco, autor do livro “Kurt Cobain - Fragmentos de Uma Autobiografia”, que arrisca um palpite. “Nos últimos meses ele estava propenso a crescer o lado acústico. Mas não creio que passaria o resto da vida tocando violão. Ele não teria se distanciado muito de tudo que fez no Nirvana, era basicamente um conservador”, comenta Orozco.
Charles R. Cross, autor do livro “Heavier Than Heaven - Mais Pesado que o Céu: Uma Biografia de Kurt Cobain” também aposta as fichas numa musicalidade mais acústica. “Kurt estaria tocando música mais calma, com menos gritos. Ele provavelmente seria como um cantor de blues ou folk, pois esta era direção de suas demos. Ele era fascinado pelo Leadbelly”, afirmou Cross em declaração à Dynamite. André Barcinski, autor do livro “Barulho – Uma Viagem Pelo Underground do Rock Americano”, também faz sua previsão. “Acho que ele estaria tentando uma linha mais confessional e menos barulhenta, de artistas que ele gostava, como Leonard Cohen e Neil Young”, acredita o jornalista.

2- Qual seria o futuro do Nirvana se Kurt permanecesse vivo?

Mesmo se Kurt Cobain não tivesse morrido, não teríamos mais o Nirvana, com a formação Kurt, Krist e Dave. Pouco antes de morrer Cobain havia declarado que gostaria de “reformular o Nirvana”, ou seja, continuar sem os outros integrantes. O fim definitivo do grupo também é outra possibilidade a ser considerada. Dave Grohl afirmou em entrevistas que o grupo estava bem perto de acabar na época em que Kurt Cobain cometeu suicídio. O próprio Cobain, em entrevista concedida a revista Howl, confessou que a pressão que sentia era enorme e que havia pensado mais de uma vez em terminar com a banda. Ele estaria cansado das proporções de sucesso que o Nirvana havia atingido. Charles R. Cross também acredita que o grupo não iria tão longe. “Ele certamente não estaria no Nirvana, estava falando em acabar com o grupo desde 93”, diz Cross.

3- Kurt Cobain pode ter sido assassinado?

Segundo o detetive Tom Grant, sim. Ele é um investigador que foi contratado por Courtney Love para encontrar Kurt após ele ter fugido de uma clínica de recuperação para drogados, no início de abril de 94. Após meses de investigação Grant teria concluído que Cobain não havia cometido suicídio, mas sim, sido assassinado.

Quais os argumentos para sustentar esta teoria? Segundo a autópsia, Kurt Cobain teria injetado uma dose de heroína três vezes maior que a suficiente para matar uma pessoa, e não teria forças para atirar em si mesmo. Outra prova seria a espingarda encontrada sobre seu corpo, que não possuía impressões digitais legíveis, algo que aconteceria se Kurt tivesse usado a arma. Por fim, sobra até mesmo para a carta de suicídio, que seria apenas um comunicado para os fãs, dizendo que Cobain estaria se despedindo da carreira musical. As últimas linhas teriam sido escritas depois (com outra letra), para forçar a impressão de ser uma carta de suicídio.

Grant não diz quem estaria por trás disto, mas os adeptos da teoria apontam Courtney Love como suspeita número um. Segundo eles, ela estaria furiosa por Kurt recusar a oferta para que o Nirvana fosse a atração principal do Festival Lollapalooza, vaga que acabaria sendo ocupada pelo seu grupo, o Hole. Courtney também não estaria satisfeita com um pedido de divórcio que seria iminente por parte de Cobain. Se ocorresse um divórcio, ela ficaria com no máximo metade dos bens de Cobain, enquanto que um “suicídio” lhe garantiria tudo, sem falar na publicidade gratuita para ela e para o Hole, que lançou “Live Through This” dias após a morte de Cobain. Existem dezenas de sites que apóiam esta teoria e até mesmo livros, como “Who Killed Kurt Cobain?: The Mysterious Death Of An Icon” de Ian Halperin e Max Wallace.

Mas há quem não bote nenhuma fé nisso. Marcelo Orozco duvida da capacidade de Courtney Love. “As teorias de conspiração são até bem boladas, mas não dá para levar a sério. E se Courtney Love fosse capaz de bolar o crime perfeito, não estaria fazendo uma estupidez atrás da outra”, afirma ele. Charles R. Cross é ainda mais enfático: “Pelo amor de Deus, não existe a menor evidência de que ele tenha morrido de outra coisa que não seja suicídio”.

4- O Foo Fighters existiria se Cobain não tivesse morrido?

Dave Grohl compunha músicas e tocava guitarra antes de ser recrutado por Kurt Cobain. Quando estava no Nirvana, Grohl já mostrava suas aptidões como compositor, em músicas como “Marigold”, lado-B do single “Heart-Shaped Box”, que havia sido composta e cantada por ele, e “Scentless Apprentice”, para a qual criou o riff de guitarra. Em 93 Grohl gravou uma demo com o amigo Barret Jones, que foi lançada somente como cassete por uma pequena gravadora. Assim, quando o Nirvana acabou, Grohl voltou-se exclusivamente para o material que ele já vinha trabalhando para lançar aquele que seria o disco de estréia do Foo Fighters. Dave Grohl, com ou sem Cobain, mostraria ao mundo seu projeto pessoal.

5- O que aconteceu com o espólio de Kurt Cobain?

Quem herdou o espólio de Kurt Cobain foi Courtney Love e Frances Bean Cobain, filha do casal, hoje com onze anos. Na época da morte de Kurt Cobain o espólio foi avaliado em 30 milhões de dólares. Só pela venda dos diários de Kurt Cobain Love recebeu quatro milhões. Os diários foram compilados no livro “Journals” e lançados em 2002.

No entanto, a situação do espólio é complicada. Nos últimos anos Courtney Love se envolveu em diversas batalhas judiciais com Krist Novoselic e Dave Grohl pelo controle dos direitos sobre o grupo. Em 97 os três formaram a empresa Nirvana L.L.C., para cuidar dos direitos do Nirvana. Love quis desfazer o acordo em 2001, afirmando que estava muito “perturbada emocionalmente” quando assinou o contrato que garante a divisão igual, em três partes, dos lucros. O contrato também determinava que todas as decisões referentes ao grupo deveriam ser tomadas em unanimidade. No ano seguinte, o trio conseguiu entrar em um acordo judicial que permitiu o lançamento da coletânea “Nirvana”, com a música inédita “You Know You’re Right”.

6- O que seria da música atualmente se o Nirvana não tivesse existido?

Um artigo recente da revista inglesa Q tenta prever como seria o mundo se o Nirvana não tivesse existido. Jon Bon Jovi rei do mundo, Courtney Love longe do showbiz, uma série de bandas que não existiriam, vários discos que nunca seriam gravados. André Barcinski aponta as bandas que devem sua existência ao Nirvana. “Teve muita cópia ruim do Nirvana, como Bush e Vines. E acho que o acústico do Nirvana influenciou até gente como Gomez”, afirma ele. Segundo Charles R. Cross “existem bandas influenciadas pelo Nirvana aos montes, basta ouvir rádio. Creed, Stained, Jimmy Eat World, e estas são apenas as influenciadas pelo ‘In Utero’. De certa forma, o último disco do Nirvana, com um som punk mais cru, influenciou mais gente que o ‘Nevermind’. Há dezenas de bandas que nunca existiriam se não fosse o Nirvana”.

7- O que aconteceria com o casal Kurt/Courtney se ele não tivesse morrido?

Em seus últimos meses de vida, Kurt Cobain passava por uma crise conjugal. Apesar de Courtney Love afirmar que tudo corria bem no relacionamento entre eles, é sabido que em março de 94 Cobain pensava em pedir divórcio. Segundo Hank Harrison, pai de Courtney, ela estaria tendo um caso com Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, quando ainda era casada. Três semanas depois da morte de Cobain este relacionamento veio a público.

8- Por que depois de Kurt Cobain não apareceu nenhum grande ícone no rock?

O mundo continua esperando um outro artista que consiga causar o mesmo impacto que o Nirvana. Marcelo Orozco acredita que isto será difícil, pois os tempos são outros. “Eu vejo que o jeito de se consumir música mudou bastante, principalmente por causa da Internet. Houve uma descentralização e as pessoas podem ouvir o que gostam com maior facilidade. E mesmo que alguém tenha características que agradem a vários públicos, algo que ajudou o Nirvana, acho difícil que alguém centralize tanta adoração quanto o Nirvana”, diz Orozco.

Talvez a reposta seja mais simples do que se imagina. Charles R. Cross acha que “é uma das razões pelas quais a influência de Kurt Cobain permaneça ainda tão forte. Ainda não apareceu ninguém para desafiá-lo. Mas acredito que a força das canções de Cobain criou esta reputação. Se as músicas não fossem boas ninguém se importaria com ele”. André Barcinski também vê as coisas de um ângulo semelhante. “Não apareceu ninguém que tivesse o carisma e o talento do cara”, resume bem.

9- Ainda existem músicas inéditas do Nirvana?

Quando a coletânea “Nirvana” foi lançada em 2002, muita gente duvidava que existiria uma versão completa em estúdio de “You Know You’re Right”. Até então, esta música só era conhecida porque havia sido tocada em um show em Chicago, em 93, e era chamada de “On A Mountain”, “Autopilot” ou “You Know Your Rights”. Hoje se sabe que ela foi gravada na última sessão de estúdio do Nirvana, realizada no final de janeiro de 94 no Bob Lang Studios, em Seattle. “Butterfly” e “Skid Marks”, outras duas músicas desta mesma sessão, continuam inéditas.

Outras canções que permanecem ocultas também foram gravadas em estúdio, como “Old Age”, “Song In D” e “Verse, Chorus, Verse” (conhecida por “In His Hands”), produzidas por Butch Vig durante as sessões do álbum “Nevermind”, mas não se sabe se elas estão completas. Cerca de duas semanas antes de morrer Cobain teria gravado junto com Pat Smear e Eric Erlandson, do Hole, algumas músicas em sua casa, entre elas “Dough, Ray & Me”, a última música composta por Kurt Cobain, segundo Courtney Love.

Além disto, existem diversas demos gravadas pelo grupo, sendo que algumas delas já caíram nas mãos dos pirateadores, mas nem sempre com uma boa qualidade. Mas é sempre bom desconfiar da legitimidade do material. Durante anos circulou a chamada “Fecal Matter Demo”, com sete músicas que acabou sendo confirmada como uma farsa. Fecal Matter era o nome da primeira banda de Kurt Cobain, formada junto com Dale Crover (Melvins) e Greg Hokanson. No final de 85 o grupo gravou uma demo com quinze músicas, com as primeiras composições de Kurt Cobain. A verdadeira demo do Fecal Matter foi descoberta em 2000 por Mike Ziegler, uma amigo de Dale Crover, que a seu pedido a mantém guardada.

10- Será lançado um box de CDs do Nirvana?

Desde 98 se comenta muito sobre o lançamento de um box com raridades do Nirvana, mas as brigas de Grohl e Novoselic com Courtney Love atrasaram o projeto, cuja data de lançamento é incerta. O box deve conter músicas inéditas, demos, outtakes e gravações ao vivo, mas o conteúdo exato é um mistério. Segundo Dave Grohl, o box terá muitas coisas “estranhas” e boa parte das faixas foi gravada antes de ele entrar na banda. O produtor Butch Vig também confirma que existe material de boa qualidade para ser lançado. O problema maior com o box não é a seleção de faixas, mas sim as burocracias corporativas. Em entrevista recente ao Chinook Observer, um jornal do estado de Washington, Krist Novoselic explicou que a grande questão atual é negociar com as gravadoras. Segundo ele “a gravadora Geffen foi vendida uma série de vezes. Antigamente tínhamos que lidar com gente de Nova Iorque ou Los Angeles, mas agora acho que deve ser alguém de Bruxelas ou sei lá de onde”.

10 FATOS SOBRE O NIRVANA

Antes de serem conhecidos por Nirvana, Kurt e Krist formaram uma série de bandas, utilizando os nomes Stiff Woodies, Bliss, Throat Oyster, Pen Cap Chew, Skid Row (não a de hard rock) e Sellouts.

A gravadora Sub-Pop não costumava trabalhar com contratos até 89. O Nirvana foi a segunda banda a assinar um contrato com ela, antes de gravar o álbum “Bleach”, a pedido do grupo.

“Bleach” foi gravado por 600 dólares, sendo que 500 foram fornecidos por Jason Everman, que não toca no disco, apesar de seu nome constar nos créditos.

O single “Sliver” foi gravado com o baterista Dan Peters, do Mudhoney, durante uma pausa nas gravações do TAD, tomando emprestado o produtor Jack Endino e os instrumentos do grupo.

“Smells Like Teen Spirit” foi tocada ao vivo pela primeira vez em 17 de abril de 1991, no OK Hotel, em Seattle, que também foi usado como locação no filme “Singles - Vida de Solteiro”, de Cameron Crowe.

O álbum “Nevermind” foi gravado no estúdio Sound City em Los Angeles, o mesmo utilizado pelo Fleetwood Mac para gravar “Rumours”.

O bebê da capa de “Nevermind” tinha cinco meses quando foi fotografado e se chama Spencer Eldon. A nota de dólar não fazia parte da foto original e foi adicionada depois.

“I Hate Myself And I Want To Die” e “Verse Chorus Verse” foram os títulos originalmente planejados para o álbum “In Utero”.

Três músicas do “In Utero” foram tocadas pela primeira vez ao vivo nos shows do Festival Hollywood Rock. “Serve The Servants” e “Heart-Shaped Box” estrearam em São Paulo em 16 de janeiro de 93, enquanto que “Scentless Apprentice” foi tocada pela primeira vez diante de uma platéia no Rio de Janeiro, na semana seguinte.

As únicas músicas creditadas coletivamente aos três membros do grupo são “Scentless Apprentice” e “Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip”, ambas do álbum “In Utero”.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Lucas Castelar em novembro 9, 2010 às 22:51
    #1

    Eu também acho que o Kurt foi assasinado, pois a Courtney Love estava querendo a grana do kurt, e acho que a música morreu junto com ele.
    Ele era doidão, fumava e tals, mas todos os rockeiros fazem isso. Ele foi o gênio da música, lançou as músicas mais perfeitas. Foi o pior crime contra a humanidade e a música a morte de Kurt Cobain.
    As memórias de Kurt existirão para sempre e sempre que se falar em musica terá o nome de Kurt Cobain no meio.
    Que descance em paz o deus do rock! E que continuem vivas as memorias de Kurt Cobain.

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