O Homem Baile

Ao vivo, Keane vê acerto de rota

Grupo britânico mostra amadurecimento e vibra com aumento de público em noite de festa

Não foi só a mudança do direcionamento musical e a decisão de tocar com uma banda completa (guitarra, teclado, baixo e bateria) que fez do show do Keane, ontem à noite, no Rio, um espetáculo empolgante. O grupo é do tipo que se preocupa com o palco e em levar para qualquer lugar um cenário diferenciado. Dessa vez, discretos néons chamavam a atenção à frente do palco, enquanto o fundo realçava os equiláteros coloridos da capa do disco mais recente, “Perfect Symmetry”. Os telões laterais exibiam imagens relativas às músicas, e o público, de seu lado, respondia com balões de gás e lenços coloridos numa coreografia bem sincronizada. Que lindo.

Foi do tal disco que saiu a primeira música da noite, “The Lovers Are Losing”, cujo refrão colante fez todo mundo sair do chão, como se fosse a hora de um dos clássicos dos dois álbuns anteriores do Keane. Quando o gente fina Tom Chaplin disse, em bom português “esqueçam seus problemas, divirtam-se”, já tinha o público nas mãos. Ele voltaria a falar na língua de Camões ao anunciar o hit “Somewhere Only We Know” – “pra você, Rio de Janeiro” – e ao definir “You Don’t See Me” como “a música mais linda”, entre outras sacadas. Músicas mais antigas como “Crystal Ball”, que finalizou o set e fez Chaplin descer do palco para cumprimentar alguns afortunados fãs, e “Is It Any Wonder?”, ganharam uma roupagem, senão tão dançante quanto o novo repertório, no mínimo mais acelerada. Foi a alegria de “Perfect Symmetry” fazendo a redenção da história do grupo.

Mesmo com todo o clima de festa, o quarteto insistiu no set acústico bem no meio do show, e isso depois de tocar a chiclete “Spiralling”, hit dançante de “Perfect Symmetry”. Primeiro, Chaplin ficou sozinho ao violão no canto do palco, suando em bicas ao trajar camisas de mangas longas sob um casaco térmico. Depois, a surpresa: uma versão para “Early Winter”, composta por Gwen Stefani e pelo tecladista Tim Rice-Oxley, mas inédita do repertorio do Keane. Entre as duas, a fraca “Try Again”, que reafirma a necessidade de o grupo deixar de lado o artifício, ainda mais nessa fase nova, na qual uma súbita alegria deixou a tristeza de outrora pra trás.

E ela ficou de lado mesmo, sobretudo em números dançantes como “You Haven’t Told Me Anything”, que ganhou ainda mais contornos dançantes ao lembrar o B 52’s, cheia de seqüências sintetizadas por Rice-Oxley. Mesmo quando Tom Chaplin ou o baixista Jesse Quin assumiam um outro teclado em paralelo, era ele quem se encarregava de tocar fogo no público, sobretudo nas músicas do disco novo. Até a faixa título, uma canção cabeçuda sobre as mazelas dos humanos, se encaixou bem no clima “esqueçam tudo e divirtam-se” proposto por Chaplin no início.

A julgar pelo público que venceu a tempestade que se abateu sobre a cidade, e não ficou parado um só minuto em mais de hora e meia, as mudanças do Keane estão dando certo. Seguramente havia mais que o dobro de fãs em relação a apresentação de 2007, e todos em sintonia e cantando tudo bem ensaiadinho. Mesmo a desnecessária cover para “Under Pression”, do Queen, não decepcionou. Serviu, isso, sim, para abrir um bis que levaria todos ao delírio com os clássicos “Is It Any Wonder?” e “Bedshaped”. Foi o último show no Brasil e Tom Chaplin saiu carregando uma bandeira brasileira que recebeu do público, prometendo voltar. Podem acreditar que ele cumpre.

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