O Homem Baile

Encontro dos mundos real e virtual não seduz público no Humaitá Pra Peixe

Supergalo, com integrantes de grupos de sucesso da década passada, e o rock juvenil do Catch Side não atraíram grande número de fãs. Foto: Tomas Rangel/Divulgação

Para quem tocou para um público reduzido, até que os rapazes do Supergalo estavam bem animados

Para quem tocou para um público reduzido, até que os rapazes do Supergalo estavam bem animados

Maré baixa no primeiro domingão do Humaitá Pra Peixe. A aposta da produção no rock juvenil do Catch Side não se mostrou eficaz, parece que a grande quantidade de amigos virtuais que a banda fez na internet nos últimos tempos preferiu ficar em casa vendo a transmissão (ao vivo) do show dos rapazes. As cerca de três fileiras empoleiradas na beira do palco não chegaram nem perto da expectativa de público que se tinha, se comparada aos grupos “teens” que tocaram em edições anteriores, como Forfun e Scracho. Se havia aí um filão de mercado, já começa a se esvair.

Mas o som surpreendeu, e muito. Nada do hardcore doce e meloso que tem habitado a cabeça dos adolescentes. Em seu lugar, o Catch Side atira para tudo quanto é lado, como se estivesse em busca de uma identidade, tal qual adolescentes em dúvida sobre o que ser quando crescer. O vocalista Kaká diz que a maior influência do quarteto – que se apresenta quase que com terninhos em branco e preto – são os Beatles, antes de mandar um cover para “Twist And Shout”. Mas o grupo bota Beto Guedes no meio numa cover de “Quando Te Vi”, que é versão dos Beatles também, e ainda toca “Anna Julia”, a música menos Los Hermanos de que se tem notícia. Dá pra sacar?

Não dá. Ainda mais se considerarmos que, para uma banda de sete anos de estrada, com o segundo disco no forno, três covers em show de 40 minutos é demais. Das próprias, a balada dramática “Um Sonho” deve estourar no segundo disco, que a Deckdisc promete pra esse ano; “Eu e Você”, que curiosamente é hit numa FM popular de gosto questionável no Rio, se saiu bem; e – pra variar – a boa “O Sonho Não Acabou”, parece conservar a sonoridade antiga e mais pesada do grupo. O que mais chama a atenção, entretanto, é o encontro dos mundos virtual e real: enquanto os primeiros conhecem tudo e cantam o repertório ensaiadinho, os segundos tentam entender o que se passa.

Quem não entendeu nada foi o Supergalo. O grupo veio de Brasília, mas, mal escalado, teve que ver enfrentar a concorrência com uma tarde de autógrafos dos rapazes do Catch Side, que acontecia em paralelo no saguão da Sala Baden Powell. Trairagem dupla da produção do Festival. Sorte é que os cascudos Fred (ex-Raimundos), Alf (Ex-Rumbora) e Salsicha (ex-Maskavo Roots) não se abalaram e partiram para a diversão, mandando as músicas do álbum de estréia deles. Sorte também que aqueles interessados no mundo real – e nem eram tantos – garantiram o mínimo de participação.

Sorte porque Alf e cia. conseguiram reunir um repertório raro, com vocação para o pop. Músicas certeiras como “Bombando em Bagdá” e “Rei do Não”, que juntas abriram o show, ou mesmo a inibida “Perigo Perigo” já têm lugar certo no panteão das melhores composições do rock nacional dos últimos tempos. Ao vivo, é bom ver esses veteranos (sim, Salsicha, o tempo passa pra você também) com a disposição de garotos, sem ter que buscar refúgio em versões de sucessos de suas ex-bandas, muito embora covers de Sex Pistols e Devo serviram para fermentar um repertório ainda reduzido – só um disco foi lançado.

Os mais céticos podem anotar que o Supergalo não passa de uma continuação do Rumbora – e a observação até procede -, mas dessa vez o grupo se superou nas composições e depurou arranjos subtraídos de pretensões que não levavam a lugar algum. Agora, não. A simplicidade dá a tônica e faz das músicas um coletivo de boas idéias que incluem desde a melodia de cada música até sutis passagens instrumentais que enriquecem o chamado “conjunto da obra”. Pena o que o pífio comparecimento do público não contribuiu para uma apresentação, no mínimo, mais intensa. Ficou para a próxima.

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