Fazendo História

Em show histórico, Judas Priest atropela no Rio; Whitesnake decepciona

Cobertura do show que Judas Priest e Whitesnake fizeram no Rio de Janeiro, no Claro Hall, no dia 6 de setembro de 2005. Serve para comparar com a resenha do show do Judas da última sexta, que aconteceu no mesmo lugar. Publicado no site Laboratório Pop, no dia seguinte ao show.

Demorou, mas aconteceu. Depois de catorze anos longe do público brasileiro com a clássica formação, o Judas Priest fez ontem, no Claro Hall, no Rio, um show digno de sua trajetória e, desde já, histórico. Tudo se deu graças ao retorno do vocalista Rob Halford, 54 – que passara anos em carreira solo - e do lançamento do álbum “Angel of retribution”, no ano passado. Uma platéia de cerca de 6 mil pessoas – o dobro do público que esteve no show do Judas de 2001, sem Halford - era o prenúncio do que estava por vir.

Abrindo o set com uma seqüência de clássicos que incluía “Electric eyes”, “Metal gods” e “Touch of evil”, a banda mostrava um cenário simples, mas suntuoso: plataformas de três metros de altura em todo o perímetro, sustentadas por colunas metálicas com o símbolo da banda, bateria bem alta, escadas na frente do palco e elevadores laterais impressionavam o público. Ao nível do palco, K.K. Downing e Glenn Tipton (guitarras) e Ian Hill (baixo) faziam as típicas coreografias que consagraram a banda (e o metal em si), e, lá no alto, Rob Halford, com roupas de couro cravejadas de metal (calça, jaqueta, capa, luvas, tudo num misto de preto e prateado) comandava um público altamente participante, num início matador. No fim de “Touch of evil”, Halford “cai” ao fundo, e renasce sobre fogo para iniciar a apresentação das músicas do último álbum, e seguem-se a emblemática “Judas rising” e “Revolution”. A essa altura o Metal God já trocou de roupa duas vezes, e o cenário do fundo do palco já mostra o tema de “Angel of retribution”. Em seguida “Breaking the law”, o clássico máximo da banda, faz o público delirar e abrir diversas rodas. Nunca uma música tão simples (para um estilo sofisticado como o metal) foi tão bem aceita.

Mais duas músicas do disco novo, a cadenciada “Deal with the devil” e a ótima “Hellrider” provaram porque o Judas se mantém com o frescor dos bons tempos: a banda se renova e cria novos clássicos a cada álbum, não vive só do passado glorioso. No entanto, executa esses hinos do metal que atravessam gerações (a banda existe há 35 anos) sem perder uma grama de peso, e com a emoção à flor da pele. Foi assim com a espetacular “Painkiller”, “Exciter” e “Victim of changes”, só para se ter uma idéia. Em alguns intervalos, Halford lembra que o Judas está de volta, das duas edições do Rock In Rio em que ele participou (com o Judas em 1991 e com sua própria banda dez anos depois), e “rege” o público cantarolando à Fred Mercury. Depois de uma hora e meia de show, volta para o bis em sua tradicional motocicleta metálica, quando um fã rompe a barreira dos seguranças e faz o gesto de adoração, antes de ser aplaudido pela multidão e retirado do palco. O bis trouxe outros momentos de forte emoção, com a clássica “Hell bent for leather” e a festeira “Living after midnight”, com Halford envolto à bandeira brasileira. Mais uma pausa e o gran finale, com “You’ve got another day coming”, cantada quase em uníssono, e finalizada com a tradicional pose da banda, quando, no topo da escadaria do palco, em frente à bateria, Halford cruza as guitarras de K.K. e Tipton. Lindo.

Antes, na abertura, o Whitesnake tão teve a mesma sorte. Com um público bem menor, um pálido David Coverdale tentou por cerca de uma hora entreter os fãs de hard rock, mas nem sempre conseguiu. Com “Burn” (da sua fase com o Deep Purple) abrindo o set, a banda chegou a empolgar, mas logo Coverdale, 53, mostrou que, além de não ter a voz de outrora, também não conseguiu adaptá-la de modo se sustentar cantando os clássicos da banda – o Whitesnake não lança um disco de inéditas desde 1998.

Mesmo assim, não deixou de ser emocionante ver o Mr. Feeling cara a cara, em músicas como “Love ain’t no stranger” (aquela mesmo do tempo em que o cigarro nos levava ao sucesso), a dramática “Crying in the rain” e a solitária “Here I go again”. Se a voz não ajudava, Coverdale mostrou mais uma vez que continua em boa forma física, manipulando como nos velhos tempos o pedestal do microfone, em seu único e inconfundível estilo. E o batera Tommy Aldridge (ex-Ozzy, Thin Kizzy), 55, arrasou, não só durante as músicas, mas num solo excepcional, no qual chegou a esmurrar (com as mãos mesmo) pratos e tambores. Já os outros integrantes, ordinários, passaram batido.

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