Fazendo História

O canto do cisne do Megadeth

Entrevista feita com o vocalista e dono da banda, Dave Mustaine, no final de 2004. Na época, ele dizia que o disco “The System Has Failed” seria o último da banda, e que, depois, ele se dedicaria a uma carreira solo. Como se sabe, não foi o que aconteceu. Outro ponto interessante é o comentário sobre sua patética participação no filme “Some Kind Of Monster”, em que aparece reclamando que o Metallica teve mais sucesso que o Megadeth. Publicado na Dynamite número 79, de dezembro de 2004. Foto: Marcos Bragatto.

megadeth97-2Agora é sério, o Megadeth acabou mesmo. “The System Has Failed”, o disco que está sendo visto nas lojas, nada mais é do que o primeiro trabalho solo de Dave Mustaine. Após uma conversa com a empresa que edita suas músicas, ele viu que precisava ainda lançar um último álbum sob o nome Megadeth, antes de se embrenhar por uma carreira solo.

Tanto que, para este disco, Mustaine deu o bilhete azul para os ex-integrantes do Megadeth, incluindo o até então inseparável baixista Dave Ellefson, contratou músicos hábeis em estúdio (como o antigo guitarrista Chris Poland, do início da banda) somente para gravar o disco, e pretendia fazer uma turnê solo com outros músicos bons de estrada. Quando viu que precisava continuar como Megadeth, voltou atrás e convocou os ex-companheiros.

Ellefson se recusou a ser “apenas” um músico contratado, e completaram a formação que saiu em turnê, ao menos até o fechamento desta edição, Glen Drover (guitarra), Jamas MacDonough (baixo) e Shaw Drover (bateria). Em entrevista à Dynamite, Mustaine falou sobre os projetos para o fim do Megadeth e o início da carreira solo, e que diabos ele foi fazer num documentário sobre os problemas entre os integrantes do Metallica, banda da qual foi expulso na origem do thrash metal. Confira:

Quando você decidiu parar com o Megadeth, há dois anos, você alegou que tinha um problema como o braço esquerdo. Como foi a recuperação?

A recuperação levou uns quatro meses de fisioterapia e foi muito difícil, doía muito, além de ser mentalmente frustrante. Depois de um ano de treinamento físico, fazendo vários exercícios, tudo parece estar 100% agora.

Quando você decidiu voltar você pensou em fazer uma carreira solo?

Na verdade esse disco era um disco solo, e quando eu comecei a gravá-lo, conduzi tudo como um álbum solo. Então eu descobri, pela minha editora, que eu deveria lançar mais um disco do Megadeth, e converti o que seria um álbum do Dave Mustaine em um álbum do Megadeth.

Você pretende voltar a tocar sob o nome Megadeth?

Quem sabe daqui a dez anos eu possa decidir fazer um disco do Megadeth. Por hora esse é o último álbum do Megadeth que eu tenho que fazer. Aí termino meus compromissos, porque nesse ramo tem muitos músicos que não se importam com os direitos autorais, só querem a porra do dinheiro. Não estão nem aí se estão fazendo a coisa certa com a música deles. Para mim isso é importante, tenho três filhos, e não quero que eles cresçam e vejam que eu fiz coisas que me deixariam mal depois de velho. E também estou cansado desse negócio de banda. Depois do Megadeth eu fiquei bem exausto. Eu adoro os caras com quem estou tocando agora, mas fazer uma banda de novo…

Você chamou os mesmos músicos que estavam na banda quando vocês pararam?

Eu os chamei, mas não funcionou.

É verdade que o Dave Ellefson foi chamado como convidado, e recusou?

Não, isso não aconteceu. Eu o chamei, iria juntar a banda de novo… Eu realmente não posso falar sobre o Ellefson, desculpe por não poder explicar essa situação. (Dave Ellefson está movendo um processo contra Mustaine, no qual reivindica cerca de 20 milhões de dólares).

Depois das gravações do disco você tratou de dispensar os músicos e recrutar outros…

Sim, eu queria ter os melhores músicos de gravação para um disco solo. Nesse caso, os caras da gravação não são necessariamente as pessoas que querem sair em turnê e tocar o repertório de outras pessoas.

Você acha que há músicos melhores em estúdio e outros para uma turnê?

Às vezes você encontra alguém que é muito bom no estúdio e na estrada, mas isso não é muito freqüente.

E você, é melhor gravando ou no palco?

Eu sou um pouco melhor na estrada, porque eu me divirto tocando. No estúdio há muita pressão, eu me sinto tolhido na hora de tocar, é um pouco difícil para tocar da forma perfeita como tem que ser gravado para entrar num disco. Se eu fosse um guitarrista de estúdio, que tocasse sempre, eu me sairia bem melhor.

Como a música “Die Dead Enough” foi escolhida como single?

Eu escrevi essa música quando morei na Califórnia, e na verdade eu a compus para um filme com Angelina Jolie (“Tomb Rider 2”), a pedido da empresa cinematográfica. Depois acabei não cedendo a música, e ao colocá-la no disco, ela ficou muito boa, e por isso decidimos que seria o primeiro single.

Você já tem idéia de qual será o segundo?

As estações de rádio daqui dos Estados Unidos gostaram de “Kick The Chair”. Depende também para que tipo de rádio vai o single. Se eles tocam coisas mais pesadas, eu indicaria “Kick The Chair” e “Something That I’m Not”; se querem coisas com menos peso, aí tem “Of Nice And Man”. Tem muitas músicas para rádios, mas eu não tentei fazer músicas para rádio nesse disco.

Sobre a capa do disco, é o presidente Bush que aparece ali falando? O que você acha do governo Bush?

É ele. É bem difícil responder esse tipo de pergunta em cinco minutos.

Mas você vai votar? Em quem? (A entrevista foi feita antes da eleição americana).

Sim, vou votar, mas não vou dizer em quem, isso é uma coisa pessoal. Mas posso te dizer, nesse momento, que não gosto de John Kerry.

Para você que sempre escreve letras sobre guerras, os dias atuais parecem um prato feito…

É verdade, temas sobre guerra é que não faltam, infelizmente o estado do mundo nesse momento é muito perigoso.

Esse disco lembra muito os tempos do “Youthanasia”, você concorda?

Muitas pessoas têm dito que ele se assemelha ao “So Far, So Good, So What…” e ao “Rust In Peace”, sempre comparando com outros discos do Megadeth. Eu acho isso bom, pois todos eles são bons.

Você acha que teria saco para voltar a fazer um álbum tão técnico e veloz quanto o “Rust In Peace”?

É muito difícil voltar a fazer o que fazíamos antes, porque o Megadeth sempre passou por várias mudanças e sofreu pressões da gravadora e de nossos empresários. É possível voltar a compor coisas como aquela, mas se eu vou ou não fazer, não sei.

Você participou do filme “Some Kind Of Monster”, que aborda o difícil relacionamento entre os integrantes do Metallica. Como foi isso?

Bem… Não era exatamente isso o que eles estavam fazendo… Se eu fosse convidado a fazer essa participação de novo, eu provavelmente recusaria.

Foi como interpretar um papel, ou uma conversa real?

Foi uma conversa real e é por isso que eu provavelmente não faria de novo, porque o que nós dissemos… Falamos um monte de coisa, e eles não usaram tudo o que nós falamos, talvez só o que o Lars achou bom.

Nesse filme você aparece reclamando que o Metallica teve mais sucesso que o Megadeth. Você não considera que, num outro patamar, o Megadeth é também uma banda bem sucedida?

Bem, em primeiro lugar, eu não estava reclamando, eu estava dizendo que foi muito ruim tê-los fingindo, como se eu não existisse. Eu tenho muito a ver com o Metallica.

Foi uma surpresa ver você no filme…

Como eu disse, se eu fosse convidado a fazer essa participação de novo, eu provavelmente recusaria porque eles disseram que seria uma coisa e foi outra. O que eu disse e o que você viu… Faz as pessoas pensarem de uma certa forma. Eu disse que queria que eles usassem tudo o que eu falei e eles sabiam que eu havia dito isso. Eu prefiro não falar sobre o Metallica nunca mais.

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado