O Homem Baile

Numa das piores edições, Tim Festival vê ‘farra de ecléticos’

Rock pra dançar do Klaxons e a tecladeira trash do Neon Neon apelam para a intervenção de vocalista bizarro; Gogol Bordello nada tem a ver com isso e transforma show de “entrada franca” numa grande Lapa. Fotos: Marcia Feitosa/fotocom.net (Neon Neon, Marcelo Camelo) e Nina Lima/fotocom.net (Gogol Bordello, Klaxons).

O bigodudo Eugene Hütz comandou a maior festa do TIM Festival desse ano

O bigodudo Eugene Hütz comandou a maior festa do TIM Festival desse ano

Se antes do início essa edição do festival prometia ser a pior de todos os tempos, a escassez de público e a palidez das apresentações praticamente decretaram o fim do Tim Festival, ao menos no formato atual e com o olhar míope da curadoria para o segmento pop rock. As apresentações da última noite deixaram tanto a desejar que a salvação da lavoura veio com um convidado indesejável e com o “farra dos ecléticos” promovida pelo Gogol Bordello.

Gruff Rhys: saudades do Super Furry Animals

Gruff Rhys: saudades do Super Furry Animals

Anunciado como um projeto do vocalista do Super Furry Animals, Gruff Rhys, e o produtor Boom Bip, o Neon Neon surpreendeu ao entrar no palco com formação de banda, ao menos até começar a tocar. Um vocal “em off” num português com sotaque yankee anunciou que o show era temático: todo dedicado a John Delorean, o criador do carro que leva o seu nome, aquele mesmo transformado em máquina do tempo e pilotado por Michael J. Fox na trilogia “De Volta Para o Futuro”. Com a ajuda de vídeos no telão, que incluíam referências a Michael Douglas e Raquel Welch, até que a idéia funcionou, muito embora seja sintomático o telão chamar mais a atenção do que a banda.

Depois de várias bandas chuparem descaradamente o que se fez de bom no rock dos anos 80, agora começam a aparecer aquelas que focam no lado mais trash da década. No caso do Neon Neon, os caras se fincaram no lado B de bandas de gosto questionável como Human League, Culture Clube e outras, tendo como base aquela infeliz tecladeira pasteurizada que havia se perdido nos escombros da história. Até uma bateria digital foi usada por Boom Bip, coisa que não se via sobre um palco há muitos anos, além daquele inconfundível teclado com desenho de guitarra popularizado no Brasil por RPM e Dominó. Soa festa PLOC? Pois então.

Jamie Reynolds prefere pose à música

Jamie Reynolds prefere pose à música

Até a quinta música – de um total de dez – salvavam-se a boa impostação de voz de Gruff e os tais vídeos. Figura fácil no Brasil, com passagem pela Vila Mimosa, o galês insere instrumentos de percussão às músicas, num esforço mal sucedido de dar ao som algo e “original”. Mal sabe ele que, pior que batucada pra turista é a batucada de turista. Mas a coisa degringolou mesmo com a chegada de um baixinho redondamente gay, travestido de integrante do Menudo. Anunciado como “o próximo presidente dos Estados Unidos”, Har Mar Superstar – nascido Sean Tillmann, e que já havia feito uma ponta no show do MGMT, na sexta – cantou rap e em falsete, rebolou, tirou a roupa e arrancou aplausos da platéia. Se não entendia nada do som de plástico do Neon Neon, o público abraçou o bizarro para se divertir. Lamentável.

Embora o Klaxons negue suas origens, seus integrantes não conseguiram evitar a indumentária hippie/forro de sofá de puteiro incapaz de passar o mínimo de credibilidade artística. Com boas sacadas pop em grande parte do repertório, o grupo inglês padece mesmo pelo entorno, não no conteúdo. Se deixassem de lado os arranjos forçadamente calcados em efeitos eletrônicos, talvez a tal new rave não chegasse a existir, e os rapazes seriam reconhecidos como bons fazedores de música pop. Músicas como “Golden Skans” e “Magick”, que detonou o lançamento de pulseiras fosforescentes pelos ares, têm um sotaque pop que beira o brilhantismo de tempos idos do rock inglês. Muito, é verdade, pela performance do baterista Steffan Halperin, destacada em “Two Receivers” e na batida marcial de “Isle Of Her”.

Com portões liberados, Camelo teve bom público

Com portões liberados, Camelo teve bom público

Mas o quarteto não confia muito nesse potencial em fazer boas músicas, e quando aposta no baticum, também se sai bem. “Atlantis To Interzone”, a segunda a ser tocada, transformou o show numa verdadeira discoteca e tratou de levantar a platéia. A idéia era essa: colocar todo mundo pra pular com as músicas mais eletrônicas e deixar o lado mais orgânico no meio do repertório. Pena que a banda não dava seqüência entre uma música e outra, com muitas paradas, e que, após parcos 40 minutos de som rolando e só 11 músicas, encerrou a apresentação.

No retorno mais gay de todos os tempos, os músicos trouxeram de novo o malaco que já atrapalhara o show do Neon Neon. Dessa vez Har Mar Superstar apareceu de cuecas listradas, acompanhado por um outro gordinho de penteado emo. O que poderia ser um final consagrador com um bis longo – em vez de apenas “It’s Not Over Yet” e “Four Horseman of 2012” – se transformou mais uma vez num culto ao bizarro, mostrando a preferência do Klaxons a uma incompreensível piada interna de camarim. Uma banda que, no fim das contas, não tem estofo para carregar a fama que lhe atribuíram.

Roger Glover no Gogol Bordello?

Roger Glover no Gogol Bordello?

Dada a baixa freqüência de público, inclusive na área comum do festival a produção liberou o acesso de todos a todos os palcos – como deveria ser durante todo o evento – e garantiu bom público pra todo mundo. De um lado, um desorientado Marcelo Camelo tentava soar “nata da mpb”, e, de outro, o Gogol Bordello fez um dos shows mais agitados e de maior participação de público. O grupo, que faz o estilo banda marcial ou de quermesse, além de acordeom e violino, tem duas “cheerleaders ninjas” que agitam o público, e conta com o incansável Eugene Hütz, que emplaca uma atitude punk num show genérico feito sob medida para os “ecléticos” que gostam de tudo, mas nada conhecem.

O Gogol lembrou muito a apresentação de outra banda de quermesse, o Arcade Fire, há três anos, neste mesmo TIM Festival, e transformou o festival numa imensa e agitada Lapa. O que não deixa, também, de soar bizarro. Já na alta madrugada, enquanto DJs atormentavam o público que descansava na área comum, uma quantidade de público menor que a torcida do América prestigiava a monocórdica música paraense do grupo Música Magneta. Poderia ser um final pior?

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