Som na Caixa

Júpiter Maçã

Uma Tarde Na Fruteira
(Monstro)

jupitermacaumatardeDentre tantas, a melhor coisa que Júpiter Maçã fez na vida foi o álbum “A Sétima Efervescência”, praticamente uma unanimidade e base daquilo que preconceituosamente decidiu-se chamar de “rock gaúcho” – como se existisse apenas um. Depois disso, nosso artista perambulou em tudo o que é canto, mudou de nome (para Júpiter Apple), flertou até com a bossa nova, e só agora parece ter descoberto que sua melhor intentona estava perdida lá nos idos de 1997. Tanto que experimenta, fermentando nessa tal fruteira, se reciclar em cima do mesmo conceito.

Não é animador (e ao mesmo tempo é) o início do disco, com a “A Marchinha Psicótica de Dr. Soup”, que, se traz de volta a psicodelia que todo mundo quer, usa – como diz o título – uma inóspita marchinha semi-carnavalesca cuja reprise fecha também o CD. Mas a verve psicodélica aparece mais encorpada em todo o disco, e o “Tema de Júpiter Maçã”, a segunda, chega a trazer na letra citações diversas aos temas de “Sétima Efervescência”, como um anúncio de que o que está por vir tem certidão de nascimento registrada em cartório.

Esse rebuscamento, no entanto, não impede que Júpiter se valha de outros ritmos, que não o pop/rock, para mergulhar em suas investidas. Há mpb, samba, jovem guarda, a malfadada bossa nova e até música portuguesa (na engraçada “As Mesmas Coisas”), em que ele canta com sotaque lusitano. Tudo com uma sutileza bem planejada que não chega a comprometer conceito do disco, ou compromete bem pouco. Para isso, tanto na música quanto esteticamente, Júpiter apresenta um ar “cool” de fazer inveja ao paulistano clessemediano metido a vanguarda. Às vezes, se perde, como no encarte que deixa de sê-lo para apresentar um ensaio fotográfico com o próprio cantor, que fuma, bebe e - desnecessário- aparece travestido de mulher.

Ainda que soe gratuito um retorno aos moldes de uma época seminal e consagradora, Júpiter consegue momentos de extremo brilhantismo em sua fruteira/encubadora. Casos da excepcional “Beatle Jorge”; da sutileza porra-louca encontrada para “Little Raver”, onde volta a misturar com precisão inglês e português; e da politicamente pouco correta “Síndrome de Pânico”, que parece extraída do repertório de Rogério Skylab. Mas há exemplos de exageros que ultrapassam o limite do tragável, caso da estridente “Casa de Mamãe” e de “Mademoiselle Marchand”, um verdadeiro deboche démodé. Nada que tire desse trabalho a pecha de “o segundo melhor” de Júpiter Apple. O primeiro, disparado, sabemos todos qual é.

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