Som na Caixa

Paul Weller

22 Dreams
(Universal)

paulweller22Mais do que em qualquer fase de sua carreira solo, Paul Weller veste o uniforme de cancioneiro, trovador ou algo que carregue o mesmo significado. Pouco solitário – até na hora de compor, dividindo várias das músicas com outros colaboradores – e acompanhado por uma bela banda, ele faz um apanhado de vários gêneros da música pop, sem soar clichê, mas usando de boas doses de inventividade para compor e arranjar músicas com seu impecável senso estético. Em 21 faixas (não teria faltado uma?) Weller passeia pelo soul, rock, música negra à Motown, bolero e assim por diante.

Só que o que a princípio se desenharia como virtude, no fim das contas entra na conta dos defeitos. Em temos de valorização da música – não do álbum - tantas faixas e tão diferentes entre si deixam o disco desigual, com cara de compilação. Embora traga boas músicas, “22 Dreams” não carrega a homogeneidade dos grandes discos. A rigor, olhando para trás, Weller é um pouco assim, sempre atirando em várias direções sem alcançar os objetivos que se pressupõe numa carreira musical. Se encantando com diversos segmentos musicais, esquece-se de traçar o seu próprio.

É impossível não reconhecer a beleza de uma “Empty Ring”, mas onde e como ela interage com as outras vinte faixas? Que “Cold Moments”, talvez a “mais Style Council” do CD, é de uma memorável riqueza em termos de arranjos, é claro, mas onde ela consegue eco nos compridos sessenta e tantos minutos do CD? E também, é bom que se diga, há as passagens menos felizes, como na anacrônica “Why Walk When You Can Run” e em “Invisible”, cantada quase à capela, não fosse um teclado monocromático girando em torno de si próprio.

Como celebrado ancestral do britpop, Weller compôs e gravou com o marrento Noel Gallagher a boa “Echoes Round The Sun”, talvez a mais rock do disco; e chamou ainda o rival dele, Graham Coxon, do Blur, que toca bateria em “Black River”, uma das mas suaves e originais do CD. Os meninos prestam vassalagem ao cinquentão, que, de seu lado, bem que poderia ter feito desse CD um álbum só, safando metade das músicas. Ou, também, planejado um trabalho mais dialogável com ele próprio. Fica para a próxima.

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