O Homem Baile

Mudhoney passeia pela essência do grunge

Grupo que ajudou a criar o gênero consagrado por Nirvana evoca sucessos de sua carreira e apresenta músicas novas mostrando que, vinte anos depois, está em forma.

Um show do Mudhoney agrada já pela paisagem. Mark Arm surge impávido no palco, trajando uma calça branquíssima clareada à água sanitária como se fosse um vocalista desde pequeno. Sem guitarra, ele emenda quatro músicas do disco novo, “The Lucky Ones”, e mesmo assim a sorte parece estar do lado de quem saiu de casa para encontrar poucos (e velhos) conhecidos num Circo Voador pouco prestigiado, mesmo numa noite de sábado. Entre as músicas, nosso dublê de Iggy Pop não deixa de dizer uns “obrigados” (em português mesmo), afinal esta é a quarta e maior turnê do grupo pelo Brasil, incluindo a abertura dos shows do Pearl Jam, há três anos.

Não é porque Mark Arm não toca guitarra que o som mais recente criado pelo grupo que sedimentou o grunge propalado pelo Nirvana fica insosso. As músicas novas são porradas natas nas quais o chefe parece ter preferido exercitar seu lado frontman, e com muita disposição, para quem já passa dos vinte anos de tortuosa estrada. Entre idas e vindas, sem o sucesso de bam bam bans do grunge como o Soundgarden, o grupo já se desfez mais de uma vez, para seus integrantes se dedicarem a ofícios menos nobres no o meio artístico, como a carpintaria, por exemplo. Agora não; a porrada come solta. Deu pra ver na premeditada introdução que inclui a faixa título de “Lucky Ones”.

A senha para a inclusão de clássicos do grupo se deu quando um roadie começou a arrumar a guitarra que Arm usaria quase até o final do show. A reação do público é imediata e participativa, cantando e abrindo rodas no meio e pelos lados. Teve gente que não acreditou quando ouviu “Blinding Sun” ou mesmo “Who You Drivin’ Now”, mas era verdade, elas estavam sendo tocadas, e no talo. É curioso ver como o Mudhoney representa bem o que foi o grunge. Às vezes punk, cita precursores do estilo como Stooges e MC5. De outro lado, parece um grupo de metal clássico à Black Sabbath, tocando riffs arrastadões; e, às vezes, é tudo isso junto, fundindo sonoridades, e – o melhor – fãs de todas essas coisas lado a lado.

Depois de cerca de uma hora, de detonação, o grupo retorna ao palco para voltar ao início. Sem guitarra, Mark Arma volta a ser Iggy Pop e emenda quatro petardos do disco novo, e um inesperado cover de “Street Waves”, do experimental Pere Ubu. Surpresa para aqueles que esperavam algo mais identificado com o grupo, mas que, em meio a porradaria, passou batido, num show que só não foi melhor por falta de um público mais numeroso. Mas isso já é outra história. Na abertura, o Rockz mostrou o novo repertório, com o guitarrista Gabriel Muzak acumulando os vocais. Bem melhor que antes.

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