Som na Caixa

Queen + Paul Rodgers

The Cosmos Rocks
(EMI)

queenthecosmosrocksNem nos sonhos dos fãs mais otimistas os remanescentes do Queen conseguiriam fazer um disco “tão Queen” como este “The Cosmos Rocks”. O álbum, que é bom lembrar, leva a assinatura Queen + Paul Rodgers, soa exatamente com um bom e velho álbum da banda britânica, aquela coisa entre um hard rock pouco exagerado e o rock de arena que consagrou Freddie Mercury, para quem, aliás, o CD foi dedicado. Se soa ruim admitir que um dos maiores vocalistas da história foi substituído, melhor pensar que este é um novo grupo, afinal Rodgers não é um sujeito qualquer. Tem passagens importantes na história do rock, em bandas como Free e Bad Company, ambas dele, e no The Firm, de Jimmy Page, além de uma admirável carreira solo. Prestes a completar 60 primaveras, empresta a Brian May (guitarras) e Roger Taylor (bateria), um imbatível vozeirão.

Não é difícil associar, porém, cada faixa do disco a uma música clássica do Queen, ou a um dos subgêneros nos quais o grupo se apoiava. “Cosmos Rockin’”, por exemplo, é um rock de raiz que abre o CD como se fosse “Another One Bites The Dust”; “Time To Shine” é um rockaço de arena que lembra The Who; e o que são as palmas de “Still Burnin’” senão as mesmas que batem há anos em “We Will Rock You”? O artifício, se remete a uma espécie de compilação imaginária de grandes sucessos do Queen, não se apresenta retrô, considerando uma produção e arranjos em sintonia com os novos tempos. “The Cosmos Rocks” é bem mais pesado do que se podia esperar de, basicamente, uma reunião de semi-sexagenários – ou quase isso. Que o diga a ótima “Warboys”, que tem show particular de Brian May.

Embora a voz de Rodgers seja marcante, Brian May é, no fim das contas, quem aparece muito bem e conduz o álbum ao seu destino: representar com precisão o legado deixado pelo Queen. Nesse sentido, fosse possível repartir a carreira do grupo em fases, é na melhor delas, entre o início do grupo e meados dos anos 80, que o guitarrista fincou as bases das músicas que estão neste álbum. E é muito louvável vê-lo fazer isso, cerca de vinte anos mais tarde, com boa desenvoltura e sem mostrar sinais de cansaço. Parece que o nosso astrofísico praticou guitarra secretamente todos esses anos. Músicas como “C-lebrity” – que tira sarro com as celeridades fakes – mostra não só o peso já citado, mas adiciona um frescor difícil de encontrar em artistas veteranos e que, como Brian, ficaram parados por tanto tempo.

Mesmo nas levadas menos intensas, como em “Through The Night” e “We Believe”, balada piegas de tom popularesco que pode trazer à mente, com boa vontade, “We Are The Champions”, May se sai muito bem, em termos de melodia e nos solos, com muita criatividade. Outra faixa tipicamente Queen é “Say It’s Not True”, que parece ter a colaboração vocal do de Roger Taylor, como nos velhos tempos. A música é daquelas baladas que inicia com certa despretensão e deságua numa espetacular seqüência de solos, com uma necessária interpretação dramática de Rodgers. De grande apelo pop, é séria candidata a permanecer com destaque no repertório dos shows. Pouca coisa aqui, aliás, não faria bonito junto aos clássicos do Queen.

Assim, o que tem de improvável, “The Cosmos Rocks” traz de surpreendente. Não vai destoar ao ser colocado na prateleira ao lado dos álbuns do Queen. É, a rigor, superior aos últimos discos da banda, em que Freddie Mercury desorientava-se por uma fraca carreira solo e era perturbado pela fragilidade que a doença lhe trouxe. Que de algum lugar ele tenha bons olhos para este tiro certeiro de seus eternos companheiros de banda.

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