Som na Caixa

MGMT

Oracular Spetacular
(Sony-BMG)

mgmtoracularPara um duo que tem na crônica musical o conceito de eletrônico, até que o MGMT é bastante, digamos, “orgânico”. Mais que indesejáveis efeitos sintéticos, que parecem ter ficado pra trás, na época em que o grupo se misturava com a turma do electroclash, hoje ele ecoa é um indie rock influenciado pela psicodelia dos anos 60, ao menos nesse tardio álbum de estréia – a formação inicial data de 2002. Acaba traçando uma daquelas inacreditáveis pontes entre o rock progressivo e o universo da música indie contemporânea, como bem faz, por exemplo, o Flaming Lips, de onde o grupo pegou emprestado o produtor Dave Fridmann, que atuou mais como um terceiro elemento na produção geral do álbum.

O encarte do CD não indica quem toca o que, e é até bem provável que nenhum dos dois - Andrew Van Wyngarden e Ben Goldwasser – não toquem nada em termos de instrumentos, apenas fundam sons extraídos de computadores e equipamentos de produção. A coisa pode dar certo nesse método caso apareçam composições com o mínimo de bom gosto, como a viajante “Electric Feel” ou o hit “Time To Pretend”, lançada anteriormente em outros formatos e grande sucesso das pistas por conta de um videoclipe bombado na MTV americana. Outra boa, com um indelével sotaque tecnopop oitentista é “Kids”; e “Of Moons”, uma das mais colantes, mais parece ter saído de algum grupo vocal dos anos 60, cortesia da produção das vozes dos rapazes, no limiar entre o desafinado e o excêntrico.

Também parece ter vindo para o século 21 através de um túnel do tempo a destacada “4th Dimensional Transition”. Com vocais em off, relembra a forma como Siouxsie Sioux revivia a psicodelia dos anos 60 em plenos 80, sendo hoje referência – quem sabe – vinte anos depois. As citações a tanta coisa do passado podem dar impressão de estarmos diante de um grupo retrô, mas a forma como os rapazes re-costuram tudo isso faz o disco soar, ao mesmo tempo, como moderno, sem cair nas armadilhas que a tecnologia oferece. O que resulta num trabalho - repita-se – que parece ter sido criado e executado de forma absolutamente tradicional.

O tamanho do disco remete ao de um LP em vinil - pouco mais de 40 minutos -, mas os Extras para computador, que prometem um vídeo interativo (para “Electric Feel”), fotos do making of do clipe de “Time to Pretend” e outras da turnê do grupo, pode travar seu computador. Resta saber como eles tocam tudo o que produzem e gravam ao vivo, se com equipamentos ou músicos de verdade – seguramente a melhor opção. Coisa que saberemos todos no Tim Festival desse ano.

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