No Mundo do Rock

Biografia de Slash expõe relação conturbada do Guns N’Roses

Íntegra da entrevista feita para a matéria publicada hoje no Jornal do Brasil. Fotos: Reprodução/Divulgação.

Slash junto com seus instrumentos de trabalho e usando a cartola que afanou num brechó e transformou numa de suas marcas registradas

Slash junto com seus instrumentos de trabalho e usando a cartola que afanou num brechó e transformou numa de suas marcas registradas

Existe um sem números de biografias do Guns N’Roses, em geral com o carimbo de “não autorizada”, mas nunca um gunner da formação original veio a público contar detalhes tão íntimos da história do grupo, como fez agora Slash em sua autobiografia. “Fez” é o modo de dizer, porque quem se encarregou de extrair toda a história do guitarrista foi o jornalista e escritor Anthony Bozza, que já tem no currículo livros com os polêmicos Tommy Lee, baterista do Mötley Crüe, famoso por uma fita de sexo que circula na internet com a atriz Pamela Anderson, e o rapper Eminem. E o subtítulo “Parece exagerado, mas não significa que não aconteceu” já dá pistas do conteúdo de “Slash”.

Lendo o livro todo é difícil imaginar que um sujeito como Slash, que tem cobras como animais de estimação e leva uma vida sob padrões estranhos até para um rock star, tenha se sentado à frente de um computador e digitado algo. Claro que isso não rolou; coube à Bozza transformar o papo de contador de histórias do guitarrista em texto de agradável leitura. Ou não, já que o assunto principal não é exatamente a música, mas sexo e drogas e rock’n’roll, incluindo aí os detalhes mais sórdidos que levam o leitor a duvidar se eles realmente aconteceram. Mas se o que vale é a história…

O que não quer dizer que não se possa fazer uma checagem dos fatos, e para tanto fomos conversar com o “autor fantasma” do livro, que nos atendeu via e-mail, apesar de estar ocupadíssimo com o fechamento de outros trabalhos. Afinal, quem escolheu falar de celebridades polêmicas para pagar as contas, não deve vender pouco livro nem deixar de receber novas ofertas. Anthony Bozza acredita piamente que tudo que Slash contou é verdade; só duvida do guitarrista, discretamente, quando o assunto é o retorno dele ao Guns N’Roses. Dá uma olhada aí:

Rock em Geral: Como você e o Slash se conheceram e como decidiram escrever essa biografia?

Anthony Bozza: O empresário dele entrou em contato comigo, ele me conhece há anos, desde que eu escrevo para a Rolling Stone. Ele é fã dos meus livros e do que escrevo na revista. Ele também trabalha com o Tommy Lee, e desde que “Tommyland”, o livro que eu escrevi com o Tommy, foi um best seller aqui nos Estados Unidos, ele pensou em mim como o primeiro nome para escrever com o Slash.

REG: Não seria melhor você escrever uma biografia você mesmo, em vez de escrever e do protagonista assinar?

Anthony: Se você tem um ponto de vista único e um acesso exclusivo a celebridade, nesse caso seria, mas em geral não é assim. Minha biografia do Eminem, “Whatever You Say I Am”, deu certo porque eu tive um acesso a ele que ninguém mais vai ter. Tive sorte de poder fazer isso. E também, o livro é muito mais sobre o que ele representa como um símbolo americano do que a história de sua vida. O livro do Michael Azerrad, “Come As You Are”, sobre o Nirvana, é o único livro que eu conheço na história recente em que o autor teve o mesmo tipo de situação que eu quando escrevi sobre o Eminem. A maioria das biografias escritas sem o acesso à celebridade não diz nada que um fã não saberia, porque as notas geralmente são retiradas de matérias publicadas em revistas. Em geral tudo o que se tem é o ponto de vista do autor sobre a banda ou o artista. Agora, quando você escreve sobre a vida de alguém, junto com esse alguém, você ouve apenas o lado dele da história, assim como tudo que é escrito em primeira pessoa, é preciso lembrar isso, como escritor e como leitor. Mas há algo que você tem num livro autorizado que não encontra em nenhum outro lugar: detalhes exclusivos do próprio trabalho da banda ou artista.

REG: O Slash escreveu alguma coisa, usando um computador, ou ele só foi entrevistado por você?

Anthony: O Slash não escreveu nada no computador. Eu não tenho certeza se ele realmente sabe usar um. Ele foi entrevistado por mim e eu escrevi tudo. Ele me enviou uns poucos parágrafos para acrescentar usando o Blackberry e me deu umas páginas escritas à mão. Mas ele falou sobre tudo e leu cada página do livro, então nesse nível nós trabalhamos juntos. Mas no geral eu fiz entrevistas e então escrevi tudo.

REG: O assunto que mais aparece nesse livro é o Slash usando drogas. Vocês pensaram duas vezes antes de escrever toda a verdade? Aliás, vocês escreveram realmente toda a verdade?

Anthony: Algumas coisas nós tivemos que tirar porque as histórias poderiam ferir terceiros, mas tudo que escrevemos no livro é verdade. O Slash é um cara muito aberto sobre o seu uso de drogas e quis ser bem honesto sobre tudo. Ele não queria que parecesse que ele estava sempre drogado, então tivemos cuidado com isso, mas era importante para ele contar a verdade e os fatos de uma maneira bem honesta.

REG: O modo de vida do Slash parece ser bem fora dos padrões, mesmo em se tratando de um rock star. Foi difícil trabalhar com ele, agendar as entrevistas?

Anthony: Sim, o Slash é único. Ele me deu o tempo que eu precisei para fazer tudo, só que em períodos do dia bem estranhos. Fizemos quase todas as entrevistas entre meia noite e quatro da manhã. Fizemos edições por telefone de qualquer lugar onde ele se encontrasse no mundo, entre três e oito da manhã. Isso foi estranho. Não acho que vi a luz do dia nos últimos dois meses de trabalho. Tive que trabalhar nos horários dele.

Capa da biografia: identidade visual garantida

Capa da biografia: identidade visual garantida

REG: Quanto tempo levou para o livro ficar pronto?

Anthony: Eu escrevi e editei todas as 480 páginas, impressão final, em quatro meses. Esse é o meu recorde pessoal escrevendo um livro, mas não me importo em quebrá-lo. O livro saiu um mês depois. Fizemos entrevistas por quatro meses, com muitas paradas, antes disso.

REG: Nesse período, foi difícil pegar o Slash sem ele estar drogado ou no meio de uma turnê?

Anthony: O Slash estava totalmente limpo durante o processo de escrever o livro, e ele estava gravando o último disco do Velvet Revolver, então estava em Los Angeles. Durante os estágios finais do livro, eu fui ao Canadá durante os primeiros shows da turnê do Velvet Revolver para fazer a edição com ele.

REG: Você entrevistou outras pessoas para checar as informações passadas pelo Slash?

Anthony: O Slash está numa banda com dois dos ex-integrantes do Guns N’Roses, então não foi difícil verificar algumas coisas.

REG: O tempo todo no livro o Slash fala sobre Axl com extremo cuidado, sempre fazendo ressalvas de que Axl deve ter um ponto de vista sobre todos os assuntos. Você acha que essa abordagem cuidadosa ocorreu pelo temor de causar mais problemas entre eles, já que eles têm causas judiciais em andamento?

Anthony: Eles já resolveram as pendências legais deles, estou certo disso, mas é claro que ele teve cuidado com o que disse por causa disso. Eles estiveram envolvidos em processos judiciais por 11 anos! O Axl tem um histórico de processos, e por isso tivemos cuidado em como dizer certas coisas.

REG: No livro, mais de uma vez o Slash disse que é impossível para ele voltar a tocar no Guns N’Roses. Mas, olhando para a história do rock, todo o tempo bandas que acabaram, com o passar do tempo, voltam. Você acha que isso poderia acontecer no caso do Guns N’Roses?

Anthony: Eu não acho que isso aconteceria. Mas coisas estranhas têm acontecido…

REG: Mesmo que a banda não se reúna, você acha que eles conseguem chegar a um acordo para lançar material antigo, que continua inédito?

Anthony: Seria ótimo. Eu tenho certeza que eles têm horas e mais horas de filmagens de palco e cenas de bastidores, da turnê do “Use Your Illusion”. Como fã eu adoraria ver isso.

REG: Como anda o livro aí os Estados Unidos?

Anthony: Um sucesso, ficou 20 semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times e atingiu o sexto lugar.

REG: Quem lê esse livro fica interessado numa biografia do Guns N’Roses. Já pensou em pegar esse trabalho?

Anthony: Eu já escrevi biografia de banda, e foi muito difícil fazer um acordo com todas as personalidades – e todos estavam juntos. Eu não consigo imaginar esse tipo de projeto trabalhando separadamente com todos os caras do Guns N’Roses, mas eu definitivamente toparia fazer. Pessoalmente, eu gostaria de ouvir o lado do Izzy (Stradlin, ex-guitarrista do Guns N’Roses) mais que todos.

REG: Em poucas palavras, como você definira um cara como o Slash?

Anthony: Depois de escrever cerca de 120 mil palavras sobre ele, eu diria que em algum lugar do livro você vai encontrar como defini-lo…

REG: Você escreveu livros sobre Eminem, Tommy Lee e INXS. É possível comparar esses trabalhos com “Slash”?

Anthony: São todos livros diferentes. O do Eminen eu escrevi sozinho, o do Tommy eu morei na casa dele, ele ficou do meu lado e participou de cada parte. O INXS foi tipo uma mediação entre irmãos que não chegavam a um acordo, e o Slash foi exatamente como está no livro. Ele e eu numa sala enfumaçada enquanto me contava a história.

REG: Está trabalhando em algum projeto novo agora?

Anthony: Acabei de finalizar um livro com o Artie Lange, que é um comediante muito popular nos Estados Unidos. Ele também faz parte do programa do Howard Stern, que é o maior programa de rádio diário. É transmitido via satélite por rádio, então eles podem dizer o que quiserem – liberdade de verdade! Depois desse livro, que sai aqui em novembro, estou escrevendo um livro com Tracy Morgan, outro comediante, que trabalhou sete anos no “Saturday Night Life” e agora está no “30 Rock”. Aprendi a duras penas que os comediantes são mais sinistros que os rock stars!

Anthony Bozza apareceu na Rolling Stone americana, e agora vive de escrever livros sobre celebridades polêmicas

Anthony Bozza apareceu na Rolling Stone americana, e agora vive de escrever livros sobre celebridades polêmicas

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