Fazendo História

Xô, timidez

Músicos falam sobre como espantar o acanhamento na hora de se apresentar em público. Publicada na Revista Batidas de Violão, Volume 1, Fascículo 2, de junho de 2007.

Tocar bem é uma coisa que estudo, prática e dedicação ensinam, mas mostrar o resultado de tudo isso para o público pode não ser uma coisa tão simples assim. Para se chegar a ter uma boa presença de palco ou a tal “atitude”, é preciso quebrar várias barreiras. Não vale é ficar paradão na hora de, finalmente, mostrar o resultado do aprendizado.

O baterista Guilherme Leão que o diga. Com 15 anos, é aluno da Escola Mais que Música e toca em duas bandas formadas há pouco tempo: Eixo Torto e Incomum. “Se o show não é animado pelos músicos, a música perde a graça. O pessoal tem que pular, senão o público não se mexe. A pessoa às vezes não vai para ouvir a música, mas para dançar, se divertir, na empolgação mesmo”, afirma ele, que toca já há quatro anos e cita a banda australiana Jet e a americana Blink 182 como influências em sua performance. “Na primeira vez em que toquei num palco, foi percussão. Não cheguei a amarelar, mas fiquei no meu cantinho, entre os outros integrantes, então não tive medo”, lembra. “Hoje, faço shows sem nenhum problema.”

Rodrigo Santos

Rodrigo Santos

Se para um baterista que fica lá atrás no palco a atitude é fundamental para o espetáculo como um todo, imagine para quem, além de tocar um instrumento, também tem a tarefa de literalmente falar com o público, desde o tradicional “boa noite” até o “obrigado, vocês são ótimos!”. É o caso de Rodrigo Santos, o baixista do Barão Vermelho, que já tocou com outros artistas consagrados como Kid Abelha, Lobão e Leo Jaime, e que acaba de iniciar uma carreira com sua própria banda, com o disco “Um pouco mais de calma”. “Tudo faz parte de um espetáculo, a comunicação com a platéia… Eu canto, me comunico, faço como se fosse um mestre de cerimônias, divertindo a galera”, conta. Rodrigo chega a alterar o repertório do show em função do que conhece do público de cada espetáculo. Mas nem sempre foi assim. Tímido, no início de carreira teve que se superar para ganhar confiança em cima do palco. “Eu tocava mais olhando pra baixo, concentrado no que estava fazendo. Só com o tempo fui perdendo a inibição, com a certeza de que estava fazendo uma coisa que eu sabia fazer legal, o que te dá liberdade para poder se divertir. Depois fica automático”, garante. Isso em linhas gerais, porque recentemente Rodrigo parecia um garoto ante a primeira apresentação de sua própria banda, que estreou numa temporada na noite carioca. “Pintou um nervosismozinho”, admite. “Eu não sabia se ia ser lotado ou não, e esgotou tudo. No primeiro show, no camarim, antes de entrar, tive uma sensação dessas boas, de adrenalina boa”, diz, aliviado.

Diego Ferrero (NX Zero)

Di Ferrero (NX Zero)

A tal certeza a que Rodrigo se refere pode demorar a chegar para quem está em pleno aprendizado em relação ao instrumento, mas às vezes vem antes, ainda mais no caso de vocalistas. Diego Ferrero, que canta no NX Zero, banda sensação do emocore nacional, é um exemplo de quem se deparou com essa situação bem cedo. “Com 7 anos, cantei para dez mil pessoas, estava um pouco nervoso e no começo fiquei com o olho fechado”, confessa. Mas o grande desafio mesmo veio na participação em um show do CPM 22 (grupo co-irmão do NX Zero), com 40 mil pessoas lotando o Estádio do Pacaembu, em São Paulo. “Tava insano. Fiz igual a quando tinha 7 anos, fechei o olho e pensei: ‘Calma, faz de conta que não tem ninguém te olhando’. E foi animal”, vibra Diego, que hoje dá até conselho: ”Fale com seu público de igual para igual, com naturalidade, seja sempre você, isso é o mais importante”. Já Rodrigo Santos vê na superação dessa dificuldade inicial uma grande experiência. “É o que sempre falo para qualquer pessoa: não desista, até porque isso serve para a vida em geral, é mais uma situação em que a pessoa vai se deparar na vida; se não for nesse trabalho, vai ser em outro”, acredita o baixista. “O cara que está começando não tem a resposta do público, é cheio de dúvidas, se a música dele está agradando ou não… Então ele tem que acreditar no que está fazendo, porque com o tempo vai ganhando cancha de palco”, conclui.

Dicas como estas são úteis para Raquel Pires, outra aluna da Mais Que Música. Ela já teve a experiência de subir no palco da própria escola, num evento semestral que reúne os alunos. Com apenas 11 anos de idade, e um de aulas, tocou guitarra em duas músicas (“Come as you are”, do Nirvana, e “Smoke on the water”, do Deep Purple) e baixo noutra (“My immortal”, do Evanescence). Tudo aconteceu diante de uma platéia de cerca de 300 pessoas, incluindo colegas de turma, amigos e familiares. “Nem vi meus pais muito bem, tinha muita fumaça”, conta a menina. “Fiquei nervosa só na primeira música, mas logo depois me tranqüilizei, me soltei e toquei tudo certo”, avalia, mais preocupada como a perícia técnica – afinal, a apresentação era o resultado de horas e mais horas de aprendizado – do que com a tal performance de palco. “Da próxima vez, vou ficar bem menos nervosa”, garante. Quem sabe aí ela se solta mais, e, como disse o veterano Rodrigo, tenha tempo para mostrar uma melhor movimentação no palco e se divertir pra valer.

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