Som na Caixa

Frejat

Intimidade Entre Estranhos
(Warner)

frejatintimidadeO tom melancólico que a capa desse terceiro disco solo de Roberto Frejat sugere permeia boa parte das 11 músicas, mas há também um outro lado menos sombrio. Se a faixa-título tem um ar sinistro já no nome, e obriga Frejat a variar o timbre de voz de um extremo a outro, “Dois Lados”, embora fale sobre obsessão, tem um refrão dos mas animados – você já deve tê-la escutado embalando as tramas da novela das sete da Globo. Se a parceria com Zé Ramalho rendeu a bela “Tua Laçada”, conduzida por um violoncelo de gelar a alma, “Controle Remoto”, com letra de Paulo Ricardo, abre os trabalhos com certa animação, falando de esperança.

As parcerias não param por aí. Com o Barão Maurício Barros e o escritor Bruno Levinson, Frejat fez “Tudo de Bom”, um funkão daqueles, de letra simplória e requebrado garantido, e aproveitou para promover a estréia de seu rebento, Rafael, de 12 aninhos e com o rock entranhado na alma. Maurício é de novo quem produziu o CD, e enriqueceu os arranjos com o bonito som de mellotron, teclados e outros cuidados. No baixo, se revezaram todos que já passaram pelo posto no Barão Vermelho (Dé, Dadi e Rodrigo Santos); já Peninha aparece batucando em duas faixas.

Há pouco rock no disco, e essa é a grande diferença entre a carreira solo de Frejat e o Barão. Afora um solo de guitarra mais arrojado em “O Céu Não Acaba”, que bem deve ter sido uma exigência do parceiro Ezequiel Neves, e o embalo do pop rock de “Dois Lados”, e do funk “Tudo de Bom”, o restante do disco é feito de canções, levadas de violão que podem embalar ou transmitir tristeza na mesma medida. A abundância de parceiros não conseguiu desalinhavar um conceito para o disco, muito embora o elo entre as faixas seja bem sutil: só vai ser apontado pelo ouvinte menos superficial.

O ponto fraco fica para “Eu Não Quero Brigar Mais Não”, com letra frívola e a típica rima pobre do rap, que, cantada (e não “rapeada”) perde a força. E ainda para a piegas “Eu Só Queria Entender”, que, sob o pretexto da causa ambiental, acabou sendo por demais previsível. Como contraponto, o craque Alvin L. conseguiu de novo, na boa “Fragmento”, e “Dois Lados” – outra vez – é mesmo um achado. Frejat, enfim, consolida seu trabalho solo de maneira bem introspectiva, reflexiva e, acima de tudo, endereçado ao público adulto e menos interessado nas distorções que o lhe atraíram luz no início de carreira.

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