No Mundo do Rock

‘Promiscuidade’ marca novo trabalho de Frejat

Terceiro disco do cantor, “Intimidade Entre Estranhos”, tem, ao todo, 12 parceiros, que vão do rock à mpb, passando pelo rap; músico lamenta preguiça do público em conhecer o novo. Foto: Reprodução.

frejat-1Chega às lojas nessa semana o terceiro disco solo de Frejat, “Intimidade Entre Estranhos”. Nas 11 músicas do CD, o líder do Barão Vermelho abusa das novas parcerias, aprofundando o que chama de promiscuidade musical. Numa variedade de referências, há músicas feitas com Zé Ramalho, Paulo Ricardo, o rapper Black Alien e os escritores Bruno Levinson e Martha Medeiros. E isso sem contar com os parceiros das antigas, como Ezequiel Neves, o poeta Mauro Sta. Cecília (do hit “Por Você”) e Maurício Barros, tecladista do Barão Vermelho e fiel produtor dos discos de Frejat, incluindo “Intimidade Entre Estranhos”. “Eu tô aumentando a minha promiscuidade”, conta Frejat em seu estúdio, montado num antigo sobrado na Fonte da Saudade, zona sul do Rio, onde recebeu a imprensa nessa sexta. “No final das contas isso funciona como a minha maneira de dar um equilíbrio entre o homogêneo e o heterogêneo. São vários parceiros e ao mesmo tempo sou sempre eu um deles, o que dá um equilíbrio”, explica.

Em geral, Frejat se encarrega das músicas, e os parceiros, das letras. Paulo Ricardo, por exemplo, enviou uma sugestão por e-mail que virou “Controle Remoto”, um rock que abre o CD em alto astral. Na maior parte das músicas foi assim, conta Frejat: “A gente não tava junto na hora de fazer a música. Um fez a letra, outro fez a música e depois a gente bateu uma bola para finalizar”. Mas há exceções. “Dois Lados”, por exemplo, encomendada pelos diretores da novela global “Beleza Pura”, mereceu atenção especial do trio Frejat, Maurício e Mauro. Desde fevereiro a música toca direto o horário nobre da TV e já é reconhecida com sucesso nos shows.

A música bem que poderia ter sido escolhida para ser a faixa-título do CD, já que o repertório apresenta um lado sombrio e outro mais alegre. De um lado, “Intimidade Entre Estranhos” (com Leoni), onde Frejat precisa mudar radicalmente o timbre de voz, que fala das relações urbanas de um edifício, estampado na capa do CD; e a bela “Tua Laçada” (letra de Zé Ramalho), sem bateria e conduzida por um soturno violoncelo. De outro, o refrão colante da própria “Dois Lados”; e “Tudo de Bom” (escrita por Bruno Levinson), um funk arrebenta-assoalho de fazer inveja à Banda Vitória Régia. “O disco não é festivo, porque os tempos não são”, acredita Frejat. “Tem esse lado reflexivo, tem histórias como a da ‘Intimidade Entre Estranhos’, que pode se transportar para outros níveis de relacionamento. Não é um disco alegre, a ‘Tudo de Bom’ eu fiz questão que fosse a última, para que o disco não terminasse triste, porque ele tem essa atmosfera mais melancólica, dura”, conclui. O clima pode ser percebido já na expressão do cantor na capa do CD.

De uma forma geral o repertório é recente, exceção feita para o rock “O Céu Não Acaba”, feita em 2003 com Ezequiel Neves e Mauro Sta. Cecília para uma peça de Ricardo Petraglia, e “Tudo de Bom”, composta em 2006, quando Frejat deveria engrenar o processo de composição para o disco, não fosse um problema com a Warner, que quase impediu e atrasou em um ano o lançamento do CD. “Passamos 2007 discutindo a relação”, brinca Frejat, que também já não vê o porquê de se lançar um disco. “Ninguém compra disco, ninguém ouve um disco inteiro, só as pessoas de outra geração é que vão numa loja comprar disco, e é edificante comprar 3, 4 discos legais e passar o fim de semana ouvindo. A internet tem a ver com essa velocidade e superficialidade, porque ela permite o aprofundamento, mas não te joga pra isso, enquanto não tem como não entrar num disco”, teoriza o cantor. “Mas a culpa não é da internet é das pessoas”, aponta. Mas ela – a web - está sendo usada por Frejat na divulgação do novo disco. “Intimidade Entre Estranhos”, a exemplo do que tem feito outros artistas, ficará uma semana disponível para audição no MySpace.com. Só que, talvez por falta de divulgação, até a noite de hoje, o perfil só tinha nove amigos.

Na hora de montar o repertório do show desse novo disco, que estréia no Canecão nos dias 12, 13 e 14 de setembro, Frejat também lamenta a preguiça das pessoas em dar uma chance às músicas novas. “Eu tenho achado o público preguiçoso. A música ficou tão forte como um elemento de entretenimento que perdeu o caráter artístico no sentido de as pessoas se envolverem de uma maneira maior. Antigamente a gente ouvia o disco que um artista ia lançar e ia para o show querendo que ele tocasse uma porrada de músicas do disco novo”, fala, com certa vibração. “Hoje se colocar sete músicas do disco novo no show, em algum momento perde a atenção do público, o que é frustrante”, conclui.

No show, Frejat vai usar a banda que o acompanha desde 2001, quando gravou seu primeiro álbum solo, “Amor Pra Recomeçar”: Billy Brandão (guitarra), Bruno Migliari (baixo), Marcelinho da Costa (bateria) e o brother Mauricio Barros (teclado). Já o disco foi gravado com a participação de outros amigos. Além de toda a árvore genealógica do Barão Vermelho no baixo (Dé, Dadi e Rodrigo Santos), chama atenção a participação do filho de Frejat, Rafael, que tem só 12 anos. “Foi idéia do Maurício, e ele toca guitarra bem para um moleque da idade dele”, conta o pai coruja, antes de entregar que Rafael gosta mesmo é de rock pesado, na linha de AC/DC, Ozzy e Led Zeppelin, embora tenha tocado justamente no funk “Tudo de Bom”. “Ele deu uma reclamada, mas ficou orgulhoso”, acredita o paizão.

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