Fazendo História

Release
Sabrina Sanm coloca peso e atitude no pop rock nacional

Release feito para a divulgação do álbum de estréia da cantora Sabrina Sanm, escrito em julho de 2007.

Tirem as crianças da sala, porque Sabrina Sanm não está para brincadeira. Aquela garotinha, que por volta dos 11 anos cantarolava no recreio e foi chamada para cantar no coral do colégio cresceu e apareceu. Hoje ela solta fagulhas numa banda de rock pesado que não por acaso atende pelo nome dela mesmo. Você já deve ter ouvido falar de Sabrina por causa de “Realidade Freak Show”, a música que puxa o álbum de estréia, cujo clipe roda direto nos programas especializados e de onde a frase inicial foi decalcada para dar início a esse texto.

Sabrina começou a ver que a coisa ia rolar quando um professor de canto a apresentou ao guitarrista e produtor Renato Pagliacci. O encontro deu início ao trabalho que dura até hoje e resultou no álbum de estréia da cantora. Sabrina descobria o Nirvana – depois de Kurt Cobain ter mandado uma bala na cabeça – e se encantava pela música pesada que vinha dos Estados Unidos e atendia pelo nome de nu-metal – ou novo metal, no bom português. Também ouvia Green Day e No Doubt, ao mesmo tempo em que buscava em cantoras como Etta James uma forma de aperfeiçoar o canto, já que nunca quis ser “apenas” vocalista de bandinha de rock. Tudo isso explica como Sabrina Sanm desenvolveu o som de sua banda: uma cantora de verdade cantando músicas próprias, fazendo som pesado e – de novo – de verdade.

Pesado, sim; indigesto, não. A música criada por Sabrina e Renato, enquanto eles se apresentavam tocando covers, rendeu parcerias que aproximam o som pesado, em geral taxado de ser de difícil aceitação, em algo altamente pop. No melhor dos sentidos, porque os riffs e levadas cativantes das 11 músicas desse álbum não deixam o ouvinte de cara amarrada. Nem a cabeça dele cheia de teorias para explicar o porquê do apreço por esse som. Elas batem de supetão porque têm o ingrediente pop procurado por dez entre dez compositores, sem deixar de lado o indispensável ao rock: o tal peso.

O disco foi editado pela Hellion Records, uma das maiores gravadoras especializadas em heavy metal do Brasil, e que tem por excelência o lançamento de bandas com vocalistas femininas, tendência que vem mordendo uma fatia significativa do mercado da música pesada – basta ver o sucesso de Evanescence (Estados Unidos), Nightwish (Finlândia), Lacuna Coil (Itália) e assim por diante. Não, Sabrina Sanm não pega carona em onda nenhuma. Ao contrário, tem um trabalho autoral na acepção da palavra (coisa rara num mundo regido pela Lei de Lavoisier) e que caminha, como já foi dito, na linha pouco tênue que separa a música pesada do apelo pop.

A citada “Realidade Freak Show”, um rockaço cheio de referências ao nu-metal que já diz que “tá ficando tudo ao contrário do que o mestre mandou”, é um cartão de visitas e tanto, deixando claro que no disco não vai ter “iêiêiê”. Ao mesmo tempo, “Dessa Vez” traz riffs típicos do heavy metal clássico e desmonta qualquer iniciativa de taxar a música da moça disso ou daquilo. A faixa foi a primeira a ganhar clipe no disco, e é outra que já deve fazer parte do imaginário coletivo. A trinca inicial tem seqüência nos versos “Sigo as forças de um temporal/me deixei levar nesse vendaval/Eu não vou parar”, de “Não Vou Parar”, que segundo Sabrina, fala de “conquista, luta, dificuldade”. Outra pesada e altamente colante no ouvido da gente.

Na linha “não vou desistir daquilo que eu quero” vem “Esse é o Preço”, onde Sabrina mostra com elegância a tal diferença entre cantora e vocalista. A pausa para respirar está em “Quem Sabe”, que fala sobre esperança e remete ao processo de gravação do disco, um caminho nada fácil no meio independente. “Perdida”, com uma bela evolução de guitarra, fala de relacionamento, assim como “Fez de Novo”, onde Sabrina defende com unhas e dentes (ainda bem) seu jeito de fazer música. Lá no final, “Unleash Me” entra como registro da época em que Sabrina, alfabetizada na língua inglesa, compunha nesse idioma.

Se em disco esse coletivo de boas músicas já assusta pela contemporaneidade, imaginem nos shows. Ao vivo, a banda de Sabrina, que além dela e Renato Pagliacci tem Diego Andrade, na bateria, e Renato Thiara, no baixo, não deixa pedra sobre pedra. Às vezes fica até difícil para a nossa cantora-revelação mostrar seus dotes. Mas a turnê que começou com o lançamento do CD se espalha pelo Brasil e não tem hora para acabar. Logo, logo, Sabrina Sanm vai chegar onde você está. Melhor tirar as crianças da sala mesmo.

Marcos Bragatto, julho de 2007

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