Habituado a excursionar pelo Brasil a cada novo disco lançado ou ainda com o projeto G3, Joe Satriani voltou a Rio apresentando a turnê do álbum “Professor Satchafunkilus And The Musterion Of Rock”, que de complicado tem só o nome. Quando um artista veterano se garante confia no trabalho que faz, e foi assim que o guitarrista incluiu nada menos que seis músicas novas (e ainda uma inédita) no show que durou pouco mais de duas horas. A primeira foi “I Just Wanna Rock” logo na abertura, que tem vocais pré-gravados chamando a participação do público, assim como acontece em “Crowd Chant”, do álbum anterior, “Super Colossal”, que ficou para o bis.

Satriani trouxe a formação com qual gravou seus principais discos, com Stuart Ham no baixo e Jeff Campitelli na bateria, e ainda um guitarrista base para coadjuvá-lo. Sistemático, ele troca de instrumento a cada três músicas e vai alternando grandes momentos de sua carreira – não são poucos – com as músicas novas. Uma delas é “Overdriver”, que estimula o público a fazer o que um show de Satriani tem de melhor: cantarolar a música no ritmo da guitarra. A especialidade do guitarrista é compor músicas onde o próprio instrumental faz as vezes dos vocais, ou, em outras palavras, faz a guitarra “falar”. Pena que o público, talvez o menor entre todas as apresentações dele no Brasil até hoje, tenha optado mais pela contemplação do que pela entrega.

A primeira das antigas que chamou a atenção do público foi “Ice 9”, e na difícil “Diddle-Y-A-Doo-Dat” Satriani levou a guitarra a boca e solou com os dentes – faria o mesmo em “Cool #9” -, sem que a música sofresse qualquer prejuízo em seu andamento. Mas a mais aplaudida entre as mais recentes foi a belíssima “Revelation”, uma dramática baladinha que fez aflorar a emoção do público. Ao Anunciar “Time Machine”, Joe disse que não tocava essa música há 15 anos, e acertou ao incluí-la no repertório, a julgar pela vibração generalizada que ela causou no público, ainda mais se considerarmos que muita gente nunca tinha ouvido essa música, lançada quando ele ainda ostentava uma vasta cabeleira, no álbum de mesmo nome, em 1993. Até “Cool#9”, do disco mais estranho do guitarrista, que leva seu próprio nome, foi tocada, numa versão bem diferente, e houve espaço para a inédita “Ghosts”, uma porrada ultra veloz que indica o caminho que Satriani deve seguir.

Antes do belo solo de Stuart Ham, “Andalusia”, outra das novas, recebeu uma mistura de luzes quentes e mostrou um sotaque hispânico, com Campitelli imitando castanholas na bateria e o público acompanhando com palmas. Na parte final a seqüência matadora incluiu “Cryin’” e o clássico das trilhas de esportes radicais, “Surfing With The Alien”. Entre elas, a belíssima “Always With Me Always With You”, além de arrebatar em definitivo público, ganhou um final estendido superpesado, como se fosse um improviso bem ensaiado. No bis, além da já citada “Crowd Chant”, a arrasa-quarteirão “Summer Song” tratou de destruir o que ainda restava dúvida quanto a genialidade de um dos maiores guitarristas em todos os tempos.

O show dessa turnê não foi tão extenso quanto os demais que passaram pelo Brasil, e músicas extraordinárias como “Crushing Day”, “Crush Of Love”, “Crystal Planet” e “The Extremist”, só para citar algumas, bem que poderiam ter entrado no set. Mas Satriani, qual um atleta olímpico dos dedos, cumpriu o seu papel ao emocionar a todos com suas criativas guitarras falantes.

Set list completo:

1- I Just Wanna Rock
2- Overdriver
3- Satch Boogie
4- Ice 9
5- Diddle-Y-A-Doo-Dat
6- Flying in a Blue Dream
7- Ghosts
8- Revelation
9- Super Colossal
10- One Big Rush
11- Musterion
12- Time Machine
13- Cool #9
14- Andalusia
15- Solo de baixo
16- Cryin’
17- The Mystical Potato Head Groove Thing
18- Always With Me Always With You
19- Surfing With Alien
Bis
20- Crowd Chant
21- Summer Song

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