Rock é Rock Mesmo

Semana rock

Três grandes shows em quatro dias garantem a diversão do público carioca. Mas vale a pena colocar bandas de abertura, só por colocar?

Meus amigos, o que é o show de rock. O que é o show de abertura. E o que é a palavra. Impecável. Emocionante. Retrô. Inconveniente. Oculto. Ruim. Parole, parole, parole, diriam Mina e Alberto Lupo. Palavras que falam de seis shows que vi (ou quase) nos últimos quatro dias. Disse seis, mas só vi cinco, quando, na verdade, saí de casa, na pele do Homem Baile, para assistir apenas a três. Numa espécie de pacotão paguei por três e levei cinco. Paguei modo de dizer, né?

Devo explicar. Na verdade fico tentado a, em vez disso, lançar um daqueles exercícios da época do ginásio, cujo enunciado era mais ou menos assim: numere a coluna da direita de acordo com a coluna da esquerda. Se de um lado aparecia praia, com o número 1, este era colocado, do outro, em Rio de Janeiro; se aparecesse engarrafamento, com o número 2, este iria pra São Paulo, do lado oposto; se estivesse o frio do lado direito, com o número 3, era esse o colocado ao lado de Porto Alegre, e assim por diante. Acho que confundi mais do que expliquei, mas o Velho Guerreiro também fazia assim e nunca deixou de ser genial.

Ocorre que o assunto são os show internacionais que passaram por aqui nessa última semana. Ou, por outra,os shows internacionais e suas inefáveis aberturas. No que devo dizer que esta coluna, que vai ao ar no dia 31 de julho, quinta, está sendo escrita no domingo, dia três de agosto. E logo depois de uma estonteante apresentação do bom e velho Suicidal Tendencies no Circo Voador. Digo velho e dou ênfase, já que o show foi, positivamente, retrô. E lembro que o Suicidal foi o responsável pela criação, por parte da imprensa especializada, da expressão “crossover”, à época inventada para designar o mistura de hardcore com metal. Hoje, é possível dizer até que tal artista faz crossover de qualquer coisa com outra. Virou algo que define qualquer som no meio do caminho entre dois ou mais subgêneros da música. Me lembra o amigo Tom Leão, que bravamente foi ao Circo acompanhado se sua senhora, que o Suicidal foi nos anos 80 aquilo que o System Of A Down foi nos últimos tempos: uma fusão de várias coisas feita na Califórnia por imigrantes. Faz sentido. E, segundo o Homem Baile, o show foi retrô, só com músicas da fase inicial do grupo. Lindo isso.

Na quarta, o vivo Rio recebeu aquele que vem sendo alardeado mundo afora como o melhor show de rock da atualidade. Quando escrevo uma frase dessas, o leitor de longa data certamente pensa que vou dizer o contrário, que o show não é isso tudo e quetais. No que surpreendo: o show é isso tudo sim. É, de longe, a surpresa mais grata dos últimos tempos no mundo do rock. Sim, meus amigos, porque, ao vivo, essas bandinhas do rock pós anos 2000 não são de nada. O Muse é. E fez um show impecável, muito embora o som do Vivo Rio não tenha ajudado muito, como bem notou o grande Arnaldo Branco, justamente por não ser “do ramo”. Porque quem é preferiu destacar guitarras, solos, tecladeiras, riffs, evoluções, boas músicas, produção de palco e outras características que fazem do rock… O rock, oras. Afinal, rock é rock mesmo, esqueceram-se?

Sabe quando você vai cobrir um festival e a banda de abertura deixa a sensação de que vai roubar a cena? Fosse a semana passada um festival e eu teria cravado a mesma coisa em relação à apresentação de Joe Satriani, na quinta, no Citibank Hall. E teria cometido um equívoco colossal. Porque Satriani, além de fazer a guitarra falar, tem como missão emocionar as pessoas. Se você é daquele que o considera um guitarrista técnico e infrutífero, está redondamente enganado. O ex-professor de guitarra sabe atingir a notas cativantes que tocam os ouvintes como poucos consegue no mundo do rock, sobretudo como músico instrumental. Não, um show de Satriani não é um solo só, do início ao fim. Suas músicas têm, como todas no mundo pop, introdução, parte 1,2, etc, ponte e refrão. Com uma ou duas ouvidas é possível perceber isso e cantarolar cada uma dessas partes, como faz o público, em geral, nos shows. Quando se supera, então, aí é covardia. Escudado por um som bem melhor que o do Vivo Rio (aí, sim pude perceber a diferença), Joe Satriani fez um espetáculo emocionante.

Falei de cinco shows, falei de seis shows, mas só escrevi sobre três. Os outros três – acreditem – foram inefáveis aberturas. Entrando atordoado logo no início do show de Jay Vaquer, Tom Leão (às vezes não o vejo durante um ano, e aí ele me aparece duas vezes na mesma semana) me explica que a única semelhança entre Jay e o Muse, é que o empresário é o mesmo, e que por isso o cantor estava ali fazendo a abertura. Mas foi, antes, segundo Tom, aprovado pelo Muse, através da audição do CD do cara. Por incrível que pareça os fãs do Muse até aplaudiram Vaquer, que, inconveniente, falava pacas entre as músicas, até ele ser limado pelo manager do Muse, numa cena constrangedora. Se queimou porque quis.

Para o Suicidal, descobri que a abertura seria do Saywoa ao ver o tal pano de fundo. Mas o que dizer de uma banda que tenta ser Sepultura usando justamente o que a banda fez de pior até hoje, colocando quatro surdos de escola de samba na frente das guitarras? Ruim, para dizer o mínimo. E o único show de abertura que tinha a ver com o público e com o artista principal, ninguém viu. Fernando Magalhães tocou praticamente para ninguém antes de Satriani. Porque, claro, poucos sabiam que ele tocaria, e ainda mais antes das nove da noite. Criou-se, assim, uma nova categoria: show oculto.

Meus amigos, não me entendam mal, sou a favor dos shows e acho no mínimo simpático pagar pra ver um show e ainda ter um de quebra. Vale pra gente conhecer mais coisa, sobretudo para quem, como eu, sempre quer ter uma opinião formada sobre tudo. Mas vale colocar bandas de abertura “nada a ver” com a atração principal. Sem qualquer divulgação? É bom para o artista? É bom para o público? É bom pra quem, afinal?

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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