No Mundo do Rock

Em novo disco, Wander Wildner aposta no inesperado

Fugindo de rótulos como punk brega e baladeiro, cantor gaúcho busca nova fase para a carreira com a ajuda dos produtores Kassin e Berna Ceppas. Fotos: Rochelle Costi/Divulgação.

Com visual descolado, Wander Wildner busca por renovação em "La Cancion Inesperada"

Com visual descolado, Wander Wildner busca por renovação em "La Cancion Inesperada"

Quando iniciou a carreira solo, há mais de dez anos, Wander Wildner bancou uma trajetória de cantor improvável, misturando raízes do punk e do rock com referências à música brega, ou, se preferirem, popular. Tal qual um andarilho, tocou em tudo o que é canto do Pais e andou até pela Europa, com ou sem banda, e criou, enfim, uma música tipicamente sua. O repertório inclui versões bem sacadas escondidas pelo Brasil, que acabam promovendo os autores das músicas – caso de “Lugar do Caralho”, de Júpiter Maçã – ou sucessos da música internacional, como aconteceu com “Candy”, de Iggy Pop e “Eu Acredito em Milagres”, do Ramones.

Mas Wander também faz das suas, e “Bebendo Vinho”, depois de virar sucesso na versão do Ira!, ganhou as arquibancadas no coro das torcidas gremistas e vascaínas. “Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro”, “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”, de títulos que misturam Ramones e Smiths, e “No Ritmo da Vida” são outras canções que emblematizam bem a trajetória de cantor de churrascaria de beira de estrada mais bem sucedido da música independente nacional.

Para esse ano, um novo Wander aparece de visual descolado e buscando, no terreno musical, mais renovação. “La Cancion Insperada”, o novo álbum, não só recupera o portunhol um pouco esquecido, mas busca um jeito diferente de se fazer música, com o dedo certeiro da duplinha sensação Berna Ceppas & Kassin. A contribuição deles foi tamanha que Wander mal reconheceu as músicas depois de produzidas. Para o ouvinte comum, o disco traz um sotaque notadamente mais folk – em épocas de encontro com a música indie – como um bem inalienável do próprio Wander. Mas isso ele mesmo explica nessa entrevista, feita via e-mail:

Rock em Geral: Fale sobre a gravação desse novo disco, que foi feita em três estúdios diferentes:

Wander Wildner: Gravamos as bases de bateria (Barba) e Baixo (Flu) com minha voz e guitarra guias. Deixei para eles brincarem com as músicas, peguei uma copia delas e fui para Porto Alegre e gravei os violões e guitarras do Jimi (Joe) e a gaita do João Vicenti. A minha idéia era levar cada música para uma direção. Sabendo das qualificações do Kassin e do Berna, imaginava que ia ficar interessante. Eles têm um conhecimento muito vasto de música, gosto eclético, muitas idéias geniais. Quando fui ouvir uma primeira amostra, eu não conseguia identificar a música de inicio, só quando entrava a voz. Estavam virando canções inesperadas. Aí coloquei as vozes e algumas guitarras e violões. Eles perguntaram quem eu gostaria de convidar para participar, falei no cello do Moreno Veloso e no violino do (Jorge) Mautner, e eles conseguiram. Depois disso o Fabiano (França) começou a mixar na casa dele e no final fomos para o AR Studios e fizemos a mix final. Depois passou pelo Ricardo Garcia, que masterizou.

REG: Muitos músicos participaram das gravações, é melhor assim ou você prefere ter uma banda fixa?

Wander: Nesse caso a idéia era essa, pois queria que as músicas ficassem cada uma do seu jeito. Quanto mais coisa diferente melhor. Mas as bases de bateria, baixo, violões e guitarras do Jimi (Joe) e a minha voz, essa é a base de todas as musicas. Aí o que eles colocaram a mais, levou uma para cada lado, pelo menos para mim.

REG: Nos shows de lançamento desse disco você tem uma banda ou está tocando sozinho?

Wander: Os três primeiros shows (Recife, São Paulo e Porto Alegre) eu fiz com duas bandas e vários convidados. Mas ficou muito complicado, não tenho estrutura para fazer um show assim, é caro e estressante. Agora optei por fazer shows mais simples com a banda de São Paulo: Georgia Branco (baixo) e Pitchu (bateria) e o Jimi Joe (guitarra e harmônica), onde ele puder ir. É a formação mais bacana desde a época com o Tom (Capone) e o Mauro (Manzoli).

REG: Podemos chamar esse disco de folk em vez de chamá-lo de brega, ou as duas coisas se misturam no seu trabalho atual?

Wander: Acho que esse disco não pode receber outro rótulo, a não ser o de “canciones inesperadas”.

REG: No início de sua carreira você se intitulava “punk brega”, depois mudou para “baladeiro”. Como devemos chamar a música de Wander Wildner hoje?

Wander: Na verdade eu nunca me intitulei “punk brega”, eu disse que o disco “Baladas Sangrentas” era punk brega. Mas a imprensa, que adora rótulos, me chamou também de punk brega, e eu deixei, mas sempre me considerei mais brega do que punk. Hoje me considero fazendo musica popular, tosca, porém honesta e intensa.

Sempre me considerei mais brega do que punk. Hoje me considero fazendo musica popular

Sempre me considerei mais brega do que punk. Hoje me considero fazendo musica popular

REG: “Os Pistoleiros” é a música mais “indie” que você já gravou? Quem são os autores?

Wander: Não sei o que é “indie” nesse caso. É uma música da banda Os Pistoleiros, que existia em Florianópolis na época que eu morei lá. Eles são sensacionais.

REG: A música “Bocomocamaleão” foi feita sob medida para você ou ela já existia antes?

Wander: Uma vez eu estava divulgando via internet uma temporada de shows no bar Camalehon, em São Paulo, em 2005, com o (Sidney) Magal e o Hyldon. O Totonho Villeroy me respondeu o e-mail com um texto que era uma letra perfeita, não acreditei. Aí em vez de eu fazer a música, passei para o Jimi Joe, para ter uma surpresa. E tive, ficou sensacional. Música popular mesmo.

REG: Diferentemente de outras músicas desconhecidas que você escolhe para gravar, “Amigo Punk” é uma marca registrado rock gaúcho. Por que a escolheu para esse disco?

Wander: Porque depois do “Acústico MTV” (ela está nos extras com todo mundo tocando junto) muitas pessoas começaram a pedi-la nos shows, e eu resolvi tocá-la. Na hora de escolher as músicas para o disco eu resolvi incluí-la.

REG: Você sempre justificou a escolha dos covers que faz dizendo que são músicas ótimas que os próprios autores não aproveitam. Você acha que aproveitam bem as suas, como no caso do Ira!, por exemplo?

Wander: Nunca fiz cover, sempre fiz versão, o que é bem diferente. Não lembro de ter dito isso dos autores não saberem aproveitar, até porque não penso assim. Sempre escolhi as versões por me identificar com elas, e elas saem sempre diferentes porque sou meio surdo e não sei tocar nem cantar direito.

REG: Você prefere fazer – ok - versões de músicas ocultas em relação às mais conhecidas?

Wander: Não, escolho por gosto e identificação, não interessa se é conhecida ou não. Cantei muito “Dormi na Praça” e outras conhecidas, e ainda pretendo fazer versões de “Camila”, do Nenhum de Nós, e de “Infinita Highway”, dos Engenheiros. Tenho uma pequena versão para “Heroes”, do Bowie, e por aí vai.

REG: Você é fã do Badfinger ou “Without You” foi uma coisa casual? Você sabia que os autores dessa música cometeram suicídio?

Wander: Essa já tinha gravado uma versão dessa música para a trilha do filme “Houve Uma Vez Dois Verões”, do Jorge Furtado, e como ela é muito boa de interpretar, e em inglês, resolvi incluir no disco. No começo achava que ela era do Harry Nilsson, agora, fazendo a ficha do disco, descobri que era do Badfinger e que eles tinham se suicidado, que loucura…

REG: “Bebendo Vinho” virou hino de torcida do Grêmio, e depois de outras torcidas, como a do Vasco. Como isso aconteceu e o que você sente ao ouvir tanta gente cantando uma música sua, mesmo que com outra letra?

Wander: Na verdade a torcida do Grêmio fez uma versão dela, com outra letra. Eu achei muito legal, mostra como uma música tem vida própria, e passa a ser de todos.

REG: Você é gremista, se importaria se a torcida do Internacional fizesse o mesmo?

Wander: Jamais fariam. Mas eu não sou o típico torcedor de futebol que tem um time e morre por ele. Meu pai, que quando jovem foi goleiro do Guarani de Venâncio Aires, e um tio me fizeram gremista. Uns anos depois, éramos sócios do São José e meu pai começou a torcer por ele. Quando o Grêmio vendeu o Felipão, Paulo Nunes e Arce para o Palmeiras, fiquei puto com a direção, achei um crime. Foi bem na época que fui morar no Rio, e não passava jogo do Grêmio na TV, mas tinha TV a cabo e comecei a simpatizar pelo Barcelona, em 95, quando não tinha nenhum brasileiro. Morei uma época em Novo Hamburgo e um tempo depois, meus amigos de lá se tornaram presidentes e diretores do Novo Hamburgo, do qual simpatizo também. Em matéria de futebol, adoro ver jogos dos campeonatos europeus.

REG: Valeu a pena ter gravado aquele “Acústico Bandas Gaúchas”? Foi bom para a sua carreira?

Wander: Foi o projeto mais interessante que eu fiz. Muito organizado e prazeroso.

Ainda pretendo fazer versões de “Camila”, do Nenhum de Nós, e de “Infinita Highway”, dos Engenheiros. Tenho uma pequena versão para “Heroes”, do Bowie, e por aí vai

Ainda pretendo fazer versões de “Camila”, do Nenhum de Nós, e de “Infinita Highway”, dos Engenheiros. Tenho uma pequena versão para “Heroes”, do Bowie, e por aí vai

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado