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Blitz

[Ao Vivo e a Cores]
(Performance Be Records)

blitzaovivodvd“É a mais cariocas das bandas de rock”, diz George Israel, um dos convidados desse DVD gravado ao vivo, no final de 2006, para definir precisamente o espírito da banda que abriu caminho para o boom do rock nacional dos anos 80. Evandro Mesquita, líder da banda e carioca-símbolo, se despede com um sintomático adeus: “Até amanhã, na praia”, num outro exemplo lapidar da carioquice da Blitz. Mas a importância do grupo não se encerrou nos limites da cidade do Rio de Janeiro. No início dos anos 80 todo mundo cantava o rock de breque teatral “Você Não Soube Me Amar”, a tal música que colocou o gingado carioca no seio da juventude em todo o Brasil. Esse DVD, com uma Blitz renascida e quase “cover de si própria” foi feito para celebrar esses e tantos outros sucessos de uma época seminal para o rock nacional.

A bem da verdade, o retorno da Blitz para gravar um DVD soa é bem oportunista, ainda mais usando o formato “cheio de convidados para vender mais” geralmente adotado nessas circunstâncias. Embora tenha optado por amigos contemporâneos como Paulo Ricardo, o já citado Israel e a obrigatória (e esperta) Fernanda Abreu, há desassossegos como Dani Carlos e sua voz de policial inconveniente, e a mais-que-nefasta Ivete Sangalo, que, sem entender o humor da Blitz, foi capaz de vulgarmente desenterrar a calcinha das coxas em pleno palco. Outra bola fora foi incluir no repertório clássicos dos anos 80, como “Óculos” (Paralamas), “Bete Balanço” (Barão), “Sonífera Ilha” (Titãs) e “Perdidos na Selva” (Gang 90). Não que não sejam músicas legais ou não façam parte da história da Blitz, mas é que havia outras do rico repertório a ser apresentado numa noite para ser eternizada.

blitzaovivocdNada disso impediu que os hits da Blitz pegassem o público de jeito (muito menos a configuração de restaurante do Canecão, onde o show foi gravado), nem que a banda usasse e abusasse da tão afamada teatralidade que lhe é – justamente, diga-se – atribuída. Se o véu usado pelas vocalistas sobre um altar em “A Dois Passos do Paraíso” parece óbvio, o “altinho” jogado por Evandro com modelos supergostosas remete – de novo – ao dia-a-dia de uma praia carioca. Embora o “Making Nhoque” nos extras mostre que tudo é sempre bem ensaiado, a espontaneidade de Evandro é impressionante, seja quando a bola vai para a platéia (“lateral, é nossa!”), ou quando ele encerra a noite no meio do público, cantando mais uma, “só de sacanagem”. Outros extras mostram particularidades dos três remanescentes da formação original: o tecladista Billy Forghieri e o batera Juba, além de um peladeiro Evandro Mesquita.

Dentre as músicas da Blitz, o repertório é precioso, e as letras de músicas como “A Verdadeira História de Adão e Eva”, um quadrinho em forma de canção pop, e de “Betty Frígida” soam atuais como poucas. Até faixas menos conhecidas do grande público, como “Última Ficha” e “Dali de Salvador” aparecem muito bem, ainda mais se você tiver comprado também o CD, já que o DVD, sabe-se lá porque, não traz as letras. Mas ele, o CD, só vale por isso, já que tem sete músicas a menos. Apesar do jeitão de especial da Globo e do exagero de convidados, o vídeo vale pelo registro de um das bandas mais importantes em todos os tempos. Ao menos até alguém da gravadora da Blitz nos anos 80 decidir resgatar os momentos da época de ouro, esses, sim, históricos.

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