Rock é Rock Mesmo

Fim do rock? Nem por decreto!

Ao decretar o fim do rock, jornal de grande circulação escancara distância dos fatos.

Meus amigos, a rapadura é doce, mas não é mole, não. Vejam vocês que estão decretando por aí o fim do rock. Sim, li num jornal de grande circulação que o rock, como diz a música do Moptop, acabou. Diz a matéria que, no Rio, não há mais lugares para se tocar rock. Ocorre que, numa revista semanal distribuída junto com o mesmo jornal, há algumas semanas, uma outra matéria mostrando points de rock estampava a capa. No que eu pergunto: afinal, tem ou não tem lugar para se tocar no Rio? E antecipo, desde já, a resposta: tem, sim.

Se tem, por que cargas d’água alguém do referido jornal pautou essa matéria, e, mais ainda, por que o editor topou fazê-la? Eu mesmo respondo: porque os caras que trabalham em grandes jornais ficam engordando barriga na redação e não sabem o que está, de fato, acontecendo. Vivem de ler e-mail e de receber faxes que vão preencher as colunas do jornal a cada dia, a cada final de semana. Sempre digo e volto a repetir: o jornalista tem que ir onde o fato está. O jornalista que escreve sobre música, sobre rock, tem que ir onde o show está. Senão, cai em asneiras como a matéria que estampou a capa daquele caderno cultural.

Mais ainda. Como já havia observado em outras matérias do mesmo jornal, a escolha das fontes foi terrível. Imagine perguntar para o baterista do Titãs, uma ex-banda em atividade, se existem lugares para tocar. A resposta dele foi hilária e óbvia. Tocamos em feiras agro-pecuárias, disse o baterista. João Baroni, do Paralamas, foi mais longe: adolescente é um saco. Ora, meus amigos, esses senhores já perderam o fio da meada quando o assunto é rock, e logicamente não seriam eles a dizer onde se toca rock no Rio ou e qualquer outra cidade. Eles e suas bandas já fizeram a parte deles e hoje vivem curtindo o sucesso do passado. Nada contra, parabéns! Erro que quem os escolheu para tal matéria.

Se querem saber onde se toca rock no Rio, perguntem ao Renato Martins, vocalista, guitarrista e faz tudo do Canastra. Ou ao Gabriel Thomaz, líder e dublê de empresário do Autoramas. Cito essas bandas e poderia citar outras, não fossem essas que me viessem à cabeça como exemplo de quem faz o novo rock e corre muito atrás para fazer shows e tirar deles o sustento. Esses caras sabem onde tocar, no Rio – tema da reportagem – ou em qualquer lugar. Mas, também, tirem a barriga de trás das mesas e partam para a rua, vão lá ver onde tem e onde não tem banda nova ou espaço para tocar. Senão, não vão conseguir, na clausura das redações, esperando a sacolinha da gravadora chegar, apurar nada.

Não sei se vocês já perceberam, mas o mundo da música tem mudado muito. Não se descobre, hoje, um novo artista tocando no rádio. Ele está, isso sim, na internet, em sites de relacionamento, próprios, ou desses em que se posta e se escuta música gratuitamente, como o MySpace.com. O artista novo, de qualidade, raramente aparece lançado por uma gravadora. Essas empresas cavaram sua própria sepultura durante anos, e ainda tentam se adequar ao mundo mutante (nada a ver com a novela da Record) de hoje. Envergonha-me aqui proclamar o óbvio, meus amigos, mas, como sempre digo, o óbvio é como a luz forte demais, que, de tão clara, cega. Só isso explica matérias como aquela publicada pelo tal jornal.

Já disse, repeti, mas não foi o bastante. A música nova de nossos tempos, sobretudo o rock, passa necessariamente pelos festivais independentes, é lá que se apresentam novos artistas, e eles, por sua vez, se autopromovem na internet, fazendo shows aqui e acolá, no corpo a corpo virtual e físico que o “ter banda” sempre impôs. Não é possível falar de nova música sem os festivais independentes. Até a caquética Petrobrás, do alto de seu conservadorismo, enxergou isso e quer capitalizar em cima. De uma forma intrometida e arrogante, mas não se pode ficar com tudo, não é mesmo?

Aí, sim, talvez cidades cosmopolitas como Rio e São Paulo estejam marcando touca por não ter elas próprias (em profusão, não só o Humaitá Pra Peixe) os seus festivais independentes – se é que essas cidades, badaladas, têm vocação, hoje, para isso. No passado o Rio já teve, senão o rock dos anos 80 não teria saído de dentro do Circo Voador e das ondas da Fluminense FM para conquistar este Brasil varonil. Hoje, o Circo pratica condições inacessíveis para novos artistas e vira as costas para o novo rock, e rádio, como já disse, não existe mais. O Circo hoje são as pequenas casas espalhas pela cidade e a rádio está dentro do computador. Outros tempos, outras formas, mas o mesmo rock e sua vocação para a vanguarda.

Como entusiasta do rock, admito que sempre sofri com a notícia de que ele, o rock, estava para acabar. Agregado à bandeira da juventude de todas as épocas, o rock teme o seu fim a cada dia, e nesse mesmo dia a renovação sempre vem, com novas bandas e artistas, as chamas cenas, movimentos e o escambau. Basta pensar que o rock vai acabar, que é dali que ele renasce, tal qual uma fênix, mais forte e renovado que nunca. Só é preciso olhar em volta para ver o óbvio.

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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