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Nightwish
Tuomas Holopainen: Eu não acho que o Nightwish existiria sem a Tarja

Nessa entrevista, concedida via e-mail em meados de 2002, o tecladista e chefão do Nightwish negava os boatos da saída de Tarja Turunen e se rasgava em elogios pela moça. Depois da demissão sumária, via internet, três anos depois, hoje é Tarja para um lado e Nightwish, com Anette Olzon nos vocais, para outro. Publicado na Rock Press número 49, de novembro de 2002.

nightwish2002Comendo pela beiradas. Essa é a expressão que melhor reflete o processo que levou o Nightwish a se transformar num dos ícones do heavy metal europeu. Com um estilo único e absolutamente original, o grupo da Finlândia fundiu com maestria o peso do heavy metal tradicional, com ênfase nos teclados, com a “voz de ópera” da vocalista Tarja Turunen.

O Nightwish se formou no final de 1996, e além de Tarja, conta com Tuomas Holopainen, teclados, Marco Hietala, baixo, Emppu Vuorinen, guitarra, e Jukka Nevalainen, bateria. Em 1997, lançaram o discreto álbum de estréia, “Angels Fall First”, mas foi com “Oceanborn”, no ano seguinte, que o grupo decolou para uma carreira internacional. O disco serviu de passaporte para os shows em vários países da Europa, conquistando fãs a dar com o pau. “Wishmaster” de 2000, além de ser considerado o grande álbum do Nighwish, marcou uma nova fase, em que a vocalista Tarja assumiu a liderança dentro do grupo, muito embora seja Tuomas o principal compositor e arranjador.

Em 2002, depois de um DVD/CD ao vivo (“From Wishes to Eternity”) e um EP (“Over The Hills And Far Away”), com o clássico homônimo de Gary Moore, o grupo passou a ter a distribuição mundial da Universal, a partir do último álbum, “Century Child”. Conhecidos dos brasileiros, que já viram duas turnês do Nightwish, os músicos a banda não hesitam em apontar os shows do Brasil como os melhores de suas vidas. No último, no Rio, eles nem queriam deixar o palco, diante de inacreditáveis 3 mil extasiados fãs.

Confira abaixo a entrevista que o tecladista Tuomas concedeu a Rock Press, com exclusividade, via e-mail:

Aos poucos o Nightwish foi conquistando grande sucesso, especialmente na Europa, mas também aqui no Brasil. Como esse processo aconteceu dentro da banda?

Nós temos sido muito honestos com o que fazemos, e vivemos um dia de cada vez. Nós não tínhamos nenhuma expectativa no começo, era tudo por diversão e para externar sentimentos em forma de música. Esse tipo de fórmula acabou dando certo para nós, e depois de algum tempo tocando juntos, quebramos primeiro a barreira da Finlândia, depois da Europa e também da América do Sul.

A primeira vez em que vocês estiveram no Brasil foram apenas dois pequenos shows, e dessa vez vocês tocaram para lugares lotados. Que diferenças você vê entre essas duas turnês?

As duas turnês estão entre as melhores coisas que nós já experimentamos. Na primeira vez em que tocamos em São Paulo foi um grande choque cultural para nós. O público estava bastante entusiasmado, de uma forma que você não vê na Europa. A última turnê superou tudo que nós vimos na turnê do “Wishmaster”, dois anos antes, mesmo já sabendo o que esperar. Brasil e América do Sul têm um lugar especial nos nossos corações.

Existe um tipo de competição entre você, que compõe quase todas as músicas e a Tarja, que canta e é a “front woman”?

Nunca. Eu acho ótimo que ela tenha se transformado na “cara do Nightwish”. Eu escrevo quase todas as letras e músicas, então o Nightwish é uma criação minha e eu sei que os fãs gostam da banda. Todos na banda estão muito satisfeitos com a posição que cada um tem.

Muitos acreditam na saída de Tarja do Nightwish. O que há de verdade nisso?

Esse boato ultrapassou todas as proporções! O que acontece é que Tarja está estudando na Alemanha nesse momento, numa escola de música muito rigorosa, e como ela dedicou cinco anos ao Nighwish, agora é hora de dar um ano para ela se concentrar nos estudos. Nós ainda vamos tocar em alguns festivais no próximo verão e um novo álbum está planejado para o verão de 2004.

No ultimo álbum, pela primeira vez, Tarja dividiu os vocais com Marco Hietala, que acabou de entrar na banda. Ele seria um eventual substituto, no caso de Tarja deixar a banda? Ou vocês só estão interessados em dividir os vocais entre masculinos e femininos, como fazem bandas como Trail of Tears, por exemplo?

Eu não acho que o Nightwish existiria sem a Tarja, e estou realmente surpreso e achando graça sobre algumas reações, de que nós vamos substituir tarja por Marco. É uma bobagem. Eu simplesmente quis tentar alguma coisa nova para o álbum “Century Child”, e o uso de vocais masculinos me deu oportunidades como compositor. E eu não falaria em dividir vocais, desde que definitivamente Tarja é a vocalista solo.

“Century Child” é o álbum mais vendido do Nightwish, mas boa parte dos fãs prefere o “Wishmaster”. Você sentiu-se pressionado a compor alguma coisa semelhante a esse álbum?

Sempre houve pressões. Mas não como se eu precisasse fazer alguma coisa semelhante ao “Wishmaster”, ou algo para satisfazer os fãs. Eu quero me superar a cada álbum e não há razão para fazer o mesmo álbum duas vezes. Para mim é importante sempre buscar alguns novos elementos na música, mantendo o estilo do Nightwish.

Você considera o “Century Child” o melhor álbum do Nightwish?

Definitivamente, e essa é a opinião de toda a banda. Mas todos os álbuns têm sua força, e eu me orgulho deles.

Como acontece o processo de composição na banda? Você primeiro mostra as músicas novas, e aí a Tarja coloca os vocais? Ou, quando você compõe, você já tem em mente o jeito com que ela deve cantar?

Eu sempre escrevo as linhas de vocal, isso é uma coisa que eu aprendi ser essencial ao longo dos anos. Quando eu tenho a base de uma música, como refrões, melodias, riffs, etc, eu a levo para os ensaios, e então nós testamos com toda a banda e arranjamos a música até que todos estejam satisfeitos. Depois disso, eu escrevo as letras finais.

Atualmente há muitas bandas com vocais femininos, muitos no estilo erudito. Você acha que há espaço para todas elas, ou a maioria se repete, tentando soar como o Nightwish?

Eu ouvi algumas comparações, mas todas essas bandas, na minha opinião, têm seus próprios estilos. Se o Nightwish é uma inspiração para algumas bandas, isso é uma gentileza, uma coisa legal da qual eu me orgulho.

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