Rock é Rock Mesmo

Os Engenheiros do Hawaii estão batendo à minha porta

Por força dos fatos, colunista foi obrigado a ouvir toda a discografia da banda gaúcha, antes de advogar – de novo - em favor deles.

Meus amigos, nada como um dia atrás do outro. Estava eu outro dia entulhando este site de coisas quando reparei que, num passado não muito distante, fiz uma bela entrevista com Humberto Gessinger, o homem por trás do Engenheiros do Hawaii. Publicada na Revista Dynamite, a matéria, em sua introdução, exaltava certas qualidades no grupo, entre elas a de nunca ter se rendido ao formato acústico pausteurizante da MTV. Não passou muito tempo eles desandaram a fazer acústico ou similares, um atrás do outro. Uma pena. Mas ainda bem que fiz aquela matéria naquele momento, senão, não faria jamais.

Começo esta querida coluna falando de Engenheiros do Hawaii porque, recentemente, fui convidado para participar do programa “Discoteca MTV”, falando, justamente, do disco “A Revolta dos Dândis”. Não sei se os leitores conhecem, mas o tal programa, durante cerca de 45 minutos, destrincha um disco considerado clássico no rock nacional, através de entrevistas com o próprio artista, produtores, críticos e afins – e é aí que eu entro. Na primeira temporada, pude ver (em pedaços) dois programas, com “Ronaldo Foi Pra Guerra”, de Lobão e Os Ronaldos, e “Da Lama ao Caos”, de Chico Science & Nação Zumbi. Achei bem legal, sobretudo numa fase em que, sob o pretexto de uma previsão do fim do videoclipe, a emissora tem investido em programas de auditórios de se lamentar. Fiz uma matéria sobre o assunto, há cerca de um ano para a Revista Outracoisa que logo vou postar aqui, na “Fazendo História”.

Não sei porque cargas d’água me chamaram para falar sobre os Engenheiros, mas algo me diz que tem a ver com essa matéria ou por uma RERM sobe o grupo, feita no mesmo período, fácil de achar numa busca no Google. E, também, porque talvez poucos críticos se disponham a analisar o trabalho do grupo gaúcho com cuidado e isenção. Vítima do preconceito da crítica da época, sobretudo a paulistana, mais especificamente da Revista Bizz, que sempre tratou de rechaçar o trabalho deles, o grupo ganhou uma eterna fama de “mala” que não condiz com seu trabalho e com a repercussão junto às massas. Atribui-se esse preconceito ao fato de Humberto e cia. sempre carregar as tradições gaúchas e as referências ao rock progressivo, duas coisas odiadas por aqueles, que, longe demais do interior, se achavam a vanguarda de tudo com seus grupelhos de garagem. Uma pena.

Coincidência ou não, o fato é que, ontem, segunda, dia 28, vi Humberto participando do programa “Bem Amigos”, no Sportv. Não sei se os amigos sabem, mas às vezes escrevo esta coluna em atraso e altero a data para tirar onda do cumpridor de prazo que em geral sou. Assim, essa coluna que escrevo agora, por exemplo, vai ao ar dia 24, mas já comento algo do dia 28 – maravilhas da internet e do mau-caratismo humano. Mas dizia que vi Humberto e seu violão, e creditei o fato à sincronicidade do rock’n’roll, e isso sem falar que, ao atualizar a “Filipetagem”, aí sim, na semana passada, anotei duas apresentações do Engenheiros no Canecão, depois de outras duas em São Paulo, no Citibank Hall. Sem nem saber o que o grupo está tocando, como e com quem, fiquei tentado a ir dar uma conferida. Tem horas que rock bate à sua porta, e aí não tem jeito. Ainda mais que a única música que ouvi com Humberto (vitimado que sou pelo controle remoto) no programa foi a emblemática – para mim – “Até o Fim”.

Sempre querem comparar Humberto, como letrista e compositor, com outros ícones de sua geração, principalmente Cazuza e Renato Russo, que, por si só, os dois, já têm trabalhos bem diferentes. Em comum, os três, como qualquer artista pop – no sentido de agradar a multidões – têm o apelo de suas letras. Explico. Eles têm o dom de fazer qualquer sujeito escutar aquela letra, e, de alguma forma, por algum motivo, se identificar na hora. Cada qual no seu grupo, com seu jeito de escrever e (importante) de cantar, chegam no objetivo final, que sempre será a pessoa. E não são os únicos, isso acontece em todo o mundo com os compositores e letristas mais diversos, incluindo os que produzem música de gosto duvidoso, que são, em geral, a grande maioria.

No caso de Humberto, ele soube, como poucos, usar o recurso literopoético da aliteração (repetição de fonemas idênticos), certeiro porque dá à língua portuguesa a plasticidade que ela sempre ficou devendo, por exemplo, à língua inglesa. Gilberto Gil é outro que descobriu isso bem cedo, e não deixa o recurso por nada desse mundo, talvez só quando decide virar forrózeiro. Como tudo que Humberto faz, no entanto, as aliterações dos Engenheiros irritam a crítica, num desprezo inversamente proporcional às injustificáveis barbas que os Hermanos insistem em exibir, por exemplo. Humberto, de seu lado, também nunca cedeu, e só por isso temos hoje o clássico “O Papa é Pop”, o disco mais vendido durante o famoso confisco da poupança do Presidente Collor, onde ninguém nesse país tinha mais do que 50 dólares no bolso.

Essas defesas do Engenheiros já foram feitas por mim diversas vezes, e não quero soar, ao menos dessa vez, repetitivo. Não podia, contudo, deixar de voltar ao tema, mesmo porque, como disse, ele é que veio até a mim. E quando isso acontece, meus amigos, não há como escapar. Ah, só para registrar, no embalo do programa sobre o “Revolta dos Dândis”, também gravei depoimentos sobre “O Concreto Já Rachou”, da Plebe Rude, e sobre “Capital Inicial”, do próprio.

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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