O Homem Baile

Encontro no palco de criador e criatura emociona fãs de Helloween e Gamma Ray

Turnê com as duas bandas trançadas pela história e precursoras do heavy metal melódico passou ontem pelo Rio e não deixou pedra sobre pedra.

Helloween e Gamma Ray estão historicamente ligados por um cordão umbilical do rock que parece anda não ter sido rompido. Um nasceu do outro, e essa turnê com as duas bandas juntas representa algo, desde já, histórico. Por isso, o sujeito distraído que por ventura entrou ontem no Citibank Hall, no Rio, e deu de cara com o Helloween cantando “Future World” e “I Wanna Out”, com Kay Hansen tocando e cantando, deve ter pensado que acabara de desembocar de uma das viagens do seriado “Túnel do Tempo”. Era, isso sim, o segundo bis do show do Helloween, que fechou uma noite memorável, com as duas bandas no palco, relembrando, com Hansen, os tempos dos álbuns “Keeper Of The Seven Keys”, partes 1 e 2. Ou, se preferirem, o excelente “Live In The UK”, tudo isso há cerca de 20 anos.

Quem abriu a noite foi o Gamma Ray, com a turnê do álbum “Land of the Free II”, tentativa de repetir o sucesso do clássico de 1995. É interessante notar que o grupo não muda de formação há ao menos 12 anos, o que lhe confere um entrosamento ímpar, e ajudar a marcar a performance da banda no palco. Fora isso, Kay Hansen tem o carisma necessário para comandar o espetáculo, que durou cerca de 70 minutos. Além dele, permanecem no grupo Henjo Richter (na outra guitarra), Dirk Schlächter (baixo) e Dan Zimmermann (bateria).

Em “Heavy Metal Universe”, por exemplo, uma ode ao metal, Hansen rege a platéia fazendo o óbvio, porém indispensável, ao pedir que o público de divida em três – esquerda, direita e centro – para cantar trechos da música. Um clichê que funciona lindamente, muito embora o público da banda se concentre mais próximo ao palco, e não parece ser tão grande assim. Empunhando sua clássica flying V, Kay Hansen emblematiza o rock e o metal melódico que ajudou a criar junto ao Helloween, e ainda relembra as twin guitars que inspiraram o gênero, sobretudo quando faz a dança ensaiada de guitarras com Henjo Richter ou mesmo com Dirk Schlächter. É o que acontece em “New World Order”, na mesma “Heavy Metal Universe”, e na clássica “Ride The Sky”. Richter sola muito em “Valley Of The Kings”, e hoje carrega um oclinho que lhe cai muito bem. No final do show ele ganharia (da platéia) uma camisa oficial da seleção alemã que trajou no bis histórico junto com o Helloween.

O repertório do show – com boa produção de palco, diga-se, com direito a pano de fundo gigante e plataforma para bateria -, apresenta duas músicas do novo disco: “Into The Storm”, que abre a noite em clima de correria, e “From The Ashes”, com riff típico do gênero e refrão colante. O restante do tempo é ocupado com um verdadeiro tributo dos fãs e da banda, a si próprios. Os grandes momentos de interação entre ambos acontecem numa versão alongada de “Somewhere Out In Space”, e no bis, com a ótima “Send Me a Sign”, de fácil cantoria. No fim, a flyng V erguida por Kay Hansen sintetiza a história e importância do Gamma Ray.

HELLOWEEN EMPOLGA, MAS SHOW PODERIA TER SIDO MAIOR

Depois de um atraso colossal, “For Those About To Rock (We Salute You)”, no talo, é a senha para a entrada do Helloween, já que há anos a música do AC/DC abre o show deles. Desde o lançamento do álbum “Keeper of The Seven Keys – The Legacy”, em 2005, que a banda tem incorporado mais músicas da “era Keeper” nos shows. Ontem, com som impecável e palco exuberante, a coisa começou já com “Halloween”, com Andi Deris cantando num tom menos alto. Ainda assim, não deixa de ser ousado iniciar um show com uma música de mais de 10 minutos de duração. De cara se percebe o guitarrista Sacha Gerstner e o batera Dani Loeble – os integrantes mais novos da banda – bem mais à vontade se compararmos como o show feito aqui mesmo, há dois anos. Sacha se movimenta muito no palco, e chega a solar com a guitarra nas costas, na ótima “If I Could Fly”. Loeble, que é formado no metal extremo, fez um solo espetacular, todo musical, cujo senão foi uma tentativa frustrada de tocar samba, acompanhado por uma marcação pré-gravada.

Assim como a quilométrica “Halloween” abriu a noite, outras músicas longas povoaram o repertório, como a interessante “King For a 100 Years”, restando pouco tempo para tanta música boa que o grupo produziu nesses quase 25 anos de carreira. A saída foi incluir, no primeiro bis, um medley que durou mais de 15 minutos, açambarcando, em sua maioria, grandes hits justamente da fase com Deris nos vocais. O artifício acabou sendo um dos pontos altos do show, sobretudo nos trechos de “Perfect Gentleman”, onde o vocalista, gaiato, aparece caracterizado como tal e faz o público vibrar. Andi, que foi visto circulando por Copacabana durante a tarde, já não inspira tanta desconfiança dos fãs como no passado, muito embora sua voz se apóie em ecos e outros efeitos “do além”.

Do disco novo, “Gambling With The Devil”, duas pequenas amostras: “As Long as I Fall”, típico single de disco do Helloween, e a inóspita “The Hells of the 7 Bells”, na qual Andi se esforçou para fazer o público cantar, e até que deu certo. Markus Grosskopf continua com uma impressionante disposição, se movimentando de parte a parte do palco. Quando Deris apresentou a banda, no medley, ele foi subitamente o mais aplaudido. Michael Weikath, de seu lado, vê Sacha brilhar e intervém em solos muito bem conduzidos, mostrando boa forma, apesar do aspecto de “bebum de fim de festa” que lhe tem caracterizado ultimamente.

Da “era Keeper”, como de hábito as excepcionais “Eagle Fly Free” e “Dr. Stein”, até hoje tocadas no gás e com todo mundo cantando junto. No final do set, dois senões permanecem. Um é que uma banda com tanta história (e tantas músicas) como o Helloween na pode tocar só por uma hora e quarenta e cinco minutos. O outro, decorrente do primeiro, é que poucas músicas da fase Deris (excluindo-se os discos mais recentes) foram tocadas. Imagine não entrar nada dos álbuns “The Time of The Oath” e “Better Than Raw”…

Helloween e Gamma Ray voltam a se apresentar hoje em Belo Horizonte, no Chevrolet Hall; domingo, em São Paulo, no Credicard Hall; terça, dia 22, em Porto Alegre, no Pepsi On Stage; quinta, dia 24, em Manaus, na Arena Amadeu Teixeira; em Fortaleza, no sábado, dia 26, no Arena; e, encerando a turnê pelo Brasil, em Recife, domingo, dia 27, no Chevrolet Hall.

Set list Gamma Ray:

1- Into The Storm
2- Heaven Can Wait
3- New World Order
4- Fight
5- From The Ashes
6- Valley Of The Kings
7- Rebellion In Dreamland
8- Heavy Metal Universe
9- The Silence
10- Ride The Sky
11- Somewhere Out In Space
12- Send Me a Sign

Set List Helloween:

1- Halloween
2- Sole Survivor
3- March Of Time
4- As Long as I Fall
5- A Tale That Wasn’t Right” 6- Solo de bateria
7- King For 1000 Years
8- Eagle Fly Free
9- The Hells Of The 7 Bells
10- If I Could Fly
11- Dr. Stein
12- Medley: Perfect Gentleman/I Can/Dreambound/Where The Rain Grows/Perfect Gentleman/Power/Keeper of the Seven Keys
13- Future World
14- I Want Out

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