Fazendo História

Queens Of The Stone Age
À frente do stoner rock

Entrevista exclusiva feita com Nick Oliveri, então integrante do Queens Of The Stone Age, na semana em que a banda iria tocar no Rock In Rio de 2001. Após o show em que tocou pelado, o baixista foi detido pela polícia brasileira, acusado de atentado ao pudor. Irônico, indagou: “Ué, no carnaval de vocês não é assim? Pensei que em show de rock também pudesse”. Publicada na edição númerto 43 da Revista Rock Press, de março de 2001.

qotsa01-2Às vésperas de aportar no Brasil para a apresentação no Rock in Rio, o Queens Of The Stone Age já era apontado como uma unanimidade. A diversidade musical apresentada pela banda em seu último álbum, “Rated R”, num clima de chapação total, traz as misturas mais inusitadas possíveis, e tem muitas participações especiais, o que o torna mais curioso ainda. Curiosa também estava - mais do que o público - a nossa crônica musical, ainda não acostumada com a avalanche retrô/setentista conhecida na América como stoner rock. Também pudera, o QOTSA, apontado como integrante dessa turma, é o grupo que mais difere dos outros, e que busca (já) estar à frente de toda essa coisa.

A solução do enigma foi dada sobre o palco do Rock in Rio, onde o grupo foi, equivocadamente, escalado para a noite do metal. Em pouco menos de uma hora o QOTSA mostrou nitidamente ser uma legítima representante do stoner rock, mas que, em estúdio, trilha outros caminhos. Antes porém, o baixista Nick Oliveri (na foto, o da esquerda), que, tal qual o guitarrista Josh Homme, passara a adolescência tocando nos desertos com o Kyuss (banda seminal para a geração stoner), concedeu uma entrevista exclusiva para Rock Press. Oliveri, que ganhou fama e voz de prisão por entrar no palco completamente nu, relembrou sua passagem no Kyuss, analisou a cena stoner americana, e comentou o sucesso repentino do QOTSA.

Vocês se consideram uma banda de stoner rock?

Não, nós nos consideramos uma banda de rock’n'roll. Eu acho que rock’n'roll é um termo mais aberto, abrangente e nos deixa à vontade para escrever as músicas que sentimos sem ter que fazer nada que já tenha sido feito antes. O Kyuss era mais uma viagem, jams sessions, pegar as músicas e fazê-las ficarem longas, e o Queens Of The Stone Age tem as melodias mais trabalhadas. São músicas criadas ao vivo, que nós levamos e acertamos em estúdio. Nós simplesmente começamos a tocar, e um olha para cara do outro para descobrir qual é o caminho a ser seguido, para depois finalizar tudo no estúdio.

De onde saiu o nome Queens of the Stone Age?

Quando montamos a banda, ela se chamava Gamma Ray, mas esse também era o nome de uma banda alemã. “Queens of the Stone Age” era o nome de um single que lançamos com o Kyuss, mas como a banda acabou, não exploramos o nome o bastante. Era quase um apelido que tínhamos, por tocarmos muito no deserto.

Vocês costumam trocar de instrumentos durante uma apresentação?

Não, mas fazemos isso em estúdio. Às vezes Josh toca bateria numa música, eu toco guitarra numa outra, alguém toca baixo. No disco temos mais liberdade para fazer isso, mas ao vivo, eu não acho que daríamos o melhor de nós.

Vi uma foto sua tocando sem roupa numa revista, apenas com o baixo na cintura. Você pretende fazer isso no Rock in Rio também? (Esta entrevista foi concedida dois dias antes do show no Rock in Rio.)

Não, não é sempre que toco nu, depende do show e do meu estado de espírito, mas tudo pode acontecer, afinal, para que serve um show de rock?

Voltando ao stoner rock, é um estilo que você tem curtido?

Eu sei que todas as bandas de amigos nossos são consideradas pelos jornalistas como stoner rock, talvez assim seja mais fácil de se conseguir uma gravadora e uma carreira. Mas eu nunca ouvi ninguém dizer que sua banda é uma banda de stoner rock. Eu não sou completamente contra esse rótulo, mas também não acho que o QOTSA seja stoner rock.

E o Goatsnake, dessa sua camisa?

Goatsnake é uma grande banda, soa com heavy, é uma das bandas pesadas que ainda vai fundo no som setentista. É a banda do meu amigo Pete Stahl, ele tocou com Dave Grohl no Scream, sua primeira banda. Mas há um monte de outras bandas.

De qualquer modo, você acha que o QOTSA está abrindo um certo espaço na mídia para o que é chamado de stoner rock?

Nós somos amigos de todas essas bandas, conhecemos todos os caras do Nebula, Fu Manchu, Orange Goblin… É muito incestuoso, quando cada um de nós se conhece muito bem em cada banda ou em projetos paralelos. Apenas tocamos música pesada e também explorando a própria música, de uma forma mais ampla, algo que não tem que tocar a mesma coisa por todo o tempo. Vamos escrever a mesma música duas vezes, e não reproduzir ao vivo o que está no disco.

Vocês foram indicados para tocar no Rock in Rio pelo Foo Fighters?

Isso seria verdade se nós estivéssemos escalados para o dia do Foo Fighters. Eu adoraria tocar nessa noite. É meio estranho tocar no dia do metal. Eu gosto de todas as bandas do dia do metal, nós tocamos com o Iron Maiden e o Halford em Buenos Aires, num estádio de futebol. Os fãs dessas bandas nos xingaram bastante, o que foi legal. Há mais no jeito de tocar do Josh, do que Adrian Smith ou Dave Murray, mas há muitas pessoas que gostam deles dois, e foi engraçado, curtimos bastante. Além do mais, pude sair do show, comer um bife gigante, e tomar umas cervejas sem nenhum problema!

Você não acha que se dá muito mais importância ao Kyuss hoje do que quando a banda estava na ativa?

Exatamente. Quando alguém morre ou uma banda acaba isso sempre acontece. Trabalhamos muito naquela época, mas não estou nem aí, foi bom para nós e entre nós naquela época e para as pessoas que curtiam o som. O Kyuss é especial porque muitas pessoas ouvem a banda agora, tentam copiar e fazem coisas muito boas também.

Com o Kyuss vocês tocavam em raves no meio do deserto?

No primeiro álbum, tínhamos todos em torno de 13, 14 anos. No Arizona você toca em festas no meio do deserto, mas em geral, era porque não havia clubes na cidade em que vivíamos que é muito pequena no meio do deserto, chamada Palm Springs. E não havia clubes para se tocar com uma banda, então tínhamos que fazer nosso próprio clube, que era sair batido para o deserto. Agitar o som, levar as cervejas, chamar a garotada para o show. Realmente curtíamos esse tempo.

No palco, vocês só tocam com quatro músicos…

Está sendo bem diferente tocar nessa turnê, porque a maioria das músicas poderia ser tocada somente por um trio. Se pudéssemos tocar mais músicas, com certeza o envolvimento do Dave (Catching, tecladista) seria maior.

Não é bem diferente de tocar no estúdio, quando vocês têm muitos convidados?

No estúdio nós gravamos baixo, guitarra e bateria ao vivo e então começaram as participações dos nossos amigos. Temos muitos convidados nesse álbum, todos muito profissionais.

Vocês tentam reproduzir no palco os mesmos arranjos que fazem no estúdio?

Ao vivo é mais rock, é ao vivo, oras! Nunca estivemos aqui, e gostaríamos de um tempo maior para tocar muitas músicas grandes que o público iria gostar. Mas é um festival.

E a música “Feel Good Hit Of The Summer”, que cita várias drogas?

É uma música com refrão colante, e não é o tipo de música que diz faça isso ou faça aquilo. Mas ouça e faça o que quiser, que cada um aproveite sua própria vida.

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