Som na Caixa

Ozzy Osbourne

Black Rain
(Sony-BMG)

ozztblackrainSer uma lenda viva do rock não deve ser lá uma coisa muito simples. Caso de Ozzy, por exemplo. Poderia tranqüilamente viver de tudo o que construiu – e não foi pouca coisa -, ou mesmo da fama gratuita conquistada num reality show mundialmente exibido em redes de TV. Mas ele prefere seguir sua careira em intermináveis turnês e gravando álbuns com músicas inéditas – fato raro para um artista consagrado e de idade avançada (completa 60 esse ano), num mercado cada vez menos factível no que tange à venda de discos.

Talvez por isso mesmo Ozzy comece este “Black Rain” com palavras de ordem convertidas em música. “Not Going Away” (não vou partir) e “Don’t Wanna Stop” (não quero parar) soam como grito de um artista que não se conforma com o passar do tempo, incomodado em não parar e em fazer algo de novo. Só que Ozzy não se renova. Tem como braço direito já há algum tempo o talentoso guitarrista Zakk Wylde, hoje um pouco acomodado no posto. Não que precisasse trocar o cara das seis cordas para se renovar, mas o caso é que Wylde parece guardar o filé para seus próprios trabalhos, sendo o mais reconhecido o grupo Black Label Society. Ou então, junto de Ozzy, ele segue procedimentos que não dão chance para colocar em prática toda a sua criatividade. Neste disco, Zakk Wylde faz o feijão com arroz com muita competência, mas isso é pouco.

Vale registrar que quase todas as faixas são compostas por Ozzy, Wylde e o produtor Kevin Churko, que tem no currículo a autoria de músicas para toda a sorte de pastiches pop: Britney Spears, Lisa Presley e Shania Twain, só para ficarmos com alguns exemplos. Talvez por isso “Black Rain” seja um disco lento, cheio de baladas e músicas de andamento arrastado, porém com pouco (ou nenhum) peso. Mike Bordin, o afamado baterista revelado pelo Faith no More, seguramente gravou o disco menos acelerado de sua carreira. É verdade que Ozzy sempre incluiu em seus discos baladas que se tornaram clássicos, desde “Changes”, ainda no Black Sabbath, até “No More Tears”. Mas aqui a questão parece ser conceitual, o que torna o disco todo meio chocho, quando não é salvo por riffs mais pesados (caso de “11 Silver”, com show particular de Wylde, e “The Almighty Dollar”) ou por solos e andamentos mais inspirados (“Lay Your World On Me”). O fato é que Ozzy já não compõe mais como antigamente.

O que não quer dizer que o Madman tenha saído de casa para ir ao estúdio em vão. Sua voz marcante e indefectível transborda carisma e ainda emociona os fãs “das antigas”, mesmo em baladas familiares como “Here For You”, exemplo mais bem acabado de como se fazer uma “balada-perfeita-para-levantar-os-braços-dos-fãs-na-próxima-turnê”. A já citada “11 Silver”, “Countdown’s Begun” e mesmo “Black Rain”, que dá título ao disco, são também bons exemplos do jeito Ozzy de ser, em pleno 2007. Mas que fique claro que o Príncipe das Trevas não lança um bom disco desde “Ozzmosis”, e isso há 12 anos.

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