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Siouxsie And The Banshees

Nocturne
(Universal)

siouxsienocturnedvdOs anos 80 sempre serão lembrados por muitos ícones banais. Mas se houve profundidade na nessa década, ela está associada à morte de Ian Curtis, o vocalista do Joy Division, e ao pós punk (ou positive punk ou dark ou gótico, como queiram) desencadeado por ela. Um de seus momentos mais significativos está nesse vídeo, um show de Siouxsie And The Banshees gravado no Royal Albert Hall – palco dos mais tradicionais em Londres.

A chamada “rainha do gótico” estava no auge com o lançamento de “A Kiss In a Dreamhouse” (1981), que veio depois de “Juju” (1982), seu trabalho mais sombrio, considerado por muitos, com certo exagero, como “o primeiro álbum gótico em todos os tempos”. Siouxsie criou uma identidade muito própria para a sua música, com a ajuda de músicos excepcionais como o guitarrista John McGeoch, e seus inseparáveis Steve Severin (baixo) e Budgie (bateria). Mais que isso, criou um emblema para si mesma, encarnando um visual astuto e absolutamente diferenciado dentro do rock, naquela época, e, talvez, até hoje. Ou alguém aí conhece um clone de Siouxsie no mundo da música?

O vídeo foi gravado em duas datas, em 30 de setembro e primeiro de outubro de 1983, e virou mania (no meio) no mundo todo, inclusive no Brasil, tardiamente, até o final da década. O início por si só já é algo a se destacar: em preto e branco, a câmera flagra o indigesto público de moicanos, cabeleiras espetadas e raspadas com toda a sorte de adereços que se pode imaginar, contrastando com o ambiente conservador do Royal Albert Hall. Tudo, tendo como fundo musical um trecho de Stravinsky. Perfeito par o magnético início, com “Israel”, que levanta o público, mesmo sendo arrastada e até sombria – como é, diga-se de passagem, a tônica da música de Siouxsie.

Vê-se no palco um menino Robert Smith na guitarra, já que McGeoch havia deixado o grupo. E ele faz sabiamente o feijão com arroz sem comprometer muito, deixando o trio original dar conta do recado. E eles não dão mole. Budgie, certamente um dos melhores bateristas do período, impinge uma pegada própria, misto de peso e percussão, e é seguido com destaque pelo baixo marcado de Severin, num dueto que coloca a guitarra num minimalista segundo plano – qualquer semelhança estética com o Police certamente não é mera coincidência.

As músicas apresentadas nesses shows que não eram clássicas logo se tornariam. Caso de “Melt!”, “Sin In My Heart” e até da cover de “Helter Skelter”, que aparece no bis. “Spellbound” (título de um outro vídeo que a gravadora precisa lançar no Brasil) e a dramática “Night Shift” representam momentos de verdadeira apoteose gótica e da afirmação do subgênero. Mas é em “Eve White/Eve Black” e “Voodoo Dolly” que Siouxsie, como se possuída, se transforma no palco, cambaleando até cair e rodopiando espetacularmente no chão, enquanto a música cria um clima de esquizofrenia ímpar. Pena na época os vídeos serem tão curtos, senão teríamos mais desses dois shows do que a cerca de uma hora que o vídeo dura.

Como bônus há o lindo clipe de “Dear Prudence”, já do álbum “Hyaena”, de 1984, rodado em Veneza, e duas apresentações para a BBC de Londres, num programa de auditório: “Melt!” e “Painted Bird”. Tem também uma espécie de curta-metragem dirigido pela própria banda, para outra emissora de TV, mas ele é meio sem pé nem cabeça. Vale, no entanto, porque traz, no meio da historinha, clipes dos projetos paralelos The Creatures (com Siouxsie e Budgie) e The Glove (com Severin e Robert Smith).

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