O Homem Baile

Overdose de hits leva Chris Cornell a fazer show de duas horas e meia

Todas as fases da carreira foram incluídas no repertório de mais de 30 músicas. Cantor se apresenta hoje em São Paulo

Imagine um festival onde tocassem as bandas Temple Of The Dog (da pré-história do grunge), Soundgarden e Audioslave. Foi mais ou menos isso que aconteceu ontem no Citibank Hall, no Rio, durante o show de Chris Cornell, o vocalista elemento comum dos três grupos e que esboça uma tímida carreira solo. Tanto que, dela, Cornell deve ter sacado não mais do que seis músicas, num repertório extenso de 33, em cerca de duas horas e meia de show. E isso sem que sua voz recuasse por um minuto sequer.

Está na voz o grande atributo do vocalista. Bem característica, de timbre forte e longo alcance, ela nos leva a concluir que Chris Cornell é uma espécie de Pavarotti do rock. Lá pelas tantas, depois de duas horas de show, lá estava ele se esgoelando a plenos pulmões na veloz “Rusty Cage”, uma dos grandes sucessos do Soundgarden. Talvez por estar iniciando uma carreira como artista solo, Cornell não economiza e manda o maior número de músicas possível – dificilmente algum incauto saiu do show reclamando que ele não tocou “aquela”.

Mas há, no entanto, o que reclamar. Chris Cornell precisa ter sobre controle uma certa vocação que tem para a chatice. Só isso explica um trecho no meio do show em que ele se transforma em um trovador solitário e usa o gogó de ouro junto com o violão para fazer nada menos que seis músicas, incluindo “Billie Jean”, famosa na voz de Michael Jackson. Ou ainda quando submete o público a um segundo solo de bateria (ainda que o primeiro tenha sido breve) já no final do bis. Precisa também, pensar a carreira solo com cuidado, porque não é possível triunfar cantando majoritariamente músicas de suas ex-bandas. Por fim, boas companhias também ajudariam. Os guitarristas dessa turnê são fracos: em nenhum momento emularam o peso das bandas de origem de Cornell, muito menos a perícia técnica de um Tom Morello, por exemplo.

O que não falta no show do vocalista é uma certa intensidade dramática que pontua toda a sua carreira, mesmo nos momentos mais triviais (caso de “Billie Jean”), na estupenda “Hunger Strike”, do “Temple Of The Dog”, um dos pontos mais emocionantes do show, ou ainda na ótima ”Like a Stone”, desperdiçada no set “acústico”. Hits da fase mais pop do Soundgarden, como a setentista “Black Hole Sun” e “Spoonman” conviveram pacificamente com a bela “Outshined” e com a surpreendentemente incluída “Slaves & Bulldozers” (que determinou um final catártico com guitarras lançadas ao chão e cordas destruídas), emendada numa versão porra louca de “Whole Lota Love”, do Led Zeppelin – a banda do momento. Difícil não perceber como o Soundgarden, em suma, fincou um pé no Black Sabbath e, ao mesmo tempo, lançou a semente do chamado stoner rock.

Do Audioslave, outros números indispensáveis, como “Cochise”, a boa “Be Yourself” e a funkeada “Original Fire”, entre outras menos cotadas. De sua carreira solo, pouca coisa foi notada, a não ser “You Know My Name”, a tal do filme do 007 e que está no segundo disco solo, “Carry On”; e a ótima “Can’t Change Me”, do primeiro, “Euphoria Morning”. Mas o que marcou a presença de do vocalista entre nós foi o fechamento (tardio) de um ciclo. Depois de Nirvana e Pearl Jam, na falta do Soundgarden, Chris Cornell completou a santíssima trindade do grunge por estas plagas.

Chris Cornell toca hoje em são Paulo, no Credicard Hall.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado