O Homem Baile

Tim Festival
The Killers mostra ao vivo a força das boas canções

Show arrebatador emociona público como se o grupo fosse um dinossauro do rock; cruzamento de punk e glam rock de Juliette And The Licks não passa de morno aquecimento. Fotos: fotocom.net/Divulgação.

O clima de cabaré representou o segundo disco do Killers, "Sam's Town"

O clima de cabaré representou o segundo disco do Killers, "Sam's Town"

A sensação antes de o show começar era a de que o Killers estava com a faca e o queijo na mão. A falta de uma cortina no palco principal do Tim Festival expunha a montagem do cenário cuja paisagem deixou os fãs e adjacências em ponto de bala: um cabaré cheio luzes daquelas de decorar árvore no Natal e flores para tudo que é lado. Ao fundo, o título do segundo álbum, Sam’s Town”, num letreiro retrô. “Bem-vindos a ‘Sam’s Town’, é por causa disso que estamos aqui”, diria Brandon Flowers, antes de “Mr. Brightside”, a música que fechou o show. No início, ainda com a introdução rolando, ele se aproximava do palco, num modelito “empregado de cassino”, sempre fazendo o gesto de boas vindas, ganhado o público antes mesmo de a festa começar.

O discreto David Keuning trocou de guitarra várias vezes e chegou a usar uma Flying V

O discreto David Keuning trocou de guitarra várias vezes e chegou a usar uma Flying V

Não seria muito difícil para o Killers escolher as músicas para tocar no Rio, considerando que a banda de Las Vegas tem um disco já considerado clássico para muita gente (“Hot Fuss”, de 2004) e outro pretensiosamente grandiloquente, característica reproduzida no palco. Mas a seqüência inicial, incluindo o single de “Sam’s Town”, “When You Were Young”, e “Somebody Told Me”, o maior hit do Killers e das pistas de dança (já tocou até no Faustão, lembra alguém ao lado) foi realmente matadora. Desnorteado, o público só foi se dar conta de onde estava lá pela sétima música ou mesmo na discreta “Uncle Johnny”, que só saiu como faixa bônus em alguns países. Uma pausa pra respirar colocada estrategicamente no meio do repertório.

Brandon Flowers e o teclado todo decorado

Brandon Flowers e o teclado todo decorado

É curioso ver que uma banda que depende essencialmente dos teclados não tem um tecladista em sua formação. Flowers utiliza o seu muito raramente, e chega ao luxo de trazer um órgão que só é usado em raros momentos, como na intro de “Mr. Brighside”, e para ele subir em cima, para, num momento Axl Rose, sacudir o pedestal do microfone em “All These Things That I’ve Done”, no emocionante encerramento do show. Quem cuida das partes de teclado mais discretas é Ted Sablay, músico de apoio alocado discretamente em meio à decoração. Bom para Brandon, que fica livre para andar de um lado a outro. Esguio, o vocalista chama literalmente o público para participar – como se isso fosse preciso. Não chegou a ser surpresa, mas o vocalista se deparou, na verdade, com a força dos hits de sua banda, que estabelece uma distância razoável em relação a outros grupos contemporâneos, como o Arctic Monkeys, por exemplo.

Poucas bandas ousariam abrir um espetáculo com uma música que tem de cara um interlúdio (aquele entre “Sam’s Town” e “When You Were Young”) como o Killers fez. E poucas, dessa geração mais recente, conseguiram colecionar tantas músicas boas em apenas dois discos. “Bones”, com direito ao tradicional “boa noite, é muito excitante estamos aqui”, “Smile Like You Mean It”, “Mr. Brightside” – de novo -, foram outras que levaram forte carga emotiva para a platéia. Para completar a festa uma cover para “Shadow Play”, do Joy Division, com a cara do Killers, usada na trilha sonora do filme “Control”, sobre Ian Curtis, abriu o bis - talvez a única que tenha passado sem muita emoção pelo público. Um show, enfim, definitivo, de uma banda que só está começando.

Juliette Lewis fez de tudo para empolgar o público, mas ficou devendo

Juliette Lewis fez de tudo para empolgar o público, mas ficou devendo

A expectativa pelo show de Juliette Lewis era muito boa, sobretudo depois da passagem dela pela festa anual promovida pela MTV, e conseqüentemente pela mídia brasileira. Na uma hora que lhe coube, entretanto, a também atriz (“Cabo do Medo”, “Assassinos Por Natureza”) não conseguir fazer sua banda engrenar. Por vezes faltou punch às músicas, como na lenta “Mind Full Of Daggers”, escolhida equivocadamente para a abertura. Noutras, a banda, tecnicamente fraca para exibir dotes típicos do glam rock é que não ajudava. E uma terceira razão pode ser a performance da própria Juliette, uma matusquela que, se agitou muito em alguns momentos, fazendo o público vibrar, em outros não teve tanto sucesso, como num mosh anunciado e logo frustrado - por falta e gás - no final do show. Restaram as músicas em que a força do riff salvou a Pátria, caso de “Sticky Honey” e “Purgatory Blues”, a melhor da noite, e o final em que todo mundo tocou tudo e ainda sobrou tempo para pequenos (e debochados) solos de cada músico. Muito pouco para quem – diziam alguns – prometia roubar a cena.

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