No Mundo do Rock

Dream Theater quer voltar a tocar nas rádios e na MTV

Contratado por nova gravadora, grupo aposta em “Systematic Chaos”, nono álbum, para voltar a ter a exposição na mídia que tinha nos tempos de “Pull Me Under”. Íntegra da entrevista feita para a Revista Bizz 216, que sairia em agosto de 2007, mas que nunca foi às bancas. Fotos: Divulgaçâo.

John Myung, John Petrucci, Mike Portnoy, James LaBrie e Jordan Hudess: a excelência musical do Dream Theater

John Myung, John Petrucci, Mike Portnoy, James LaBrie e Jordan Hudess: a excelência musical do Dream Theater

Fazer parte de uma banda como o Dream Theater não deve ser nada fácil. Os caras passam a vida se aperfeiçoando tecnicamente em seus instrumentos, fazem discos cada vez mais intrincados e acabam sendo chamados de chatos por aí a fora. Ou, por outra, vivem dizendo que a música deles, de tão difícil e bem tocada é… chata. Ao mesmo tempo, a banda é tida pelo mercado como uma das “one-hit-bands”, aquele tipo de grupo que só fez sucesso uma única vez na vida - no caso, com “Pull Me Under”, do disco “Images And Words”, de 1992.

Acontece que agora eles querem mudar o rumo dessa história, voltando a tocar nas rádios e na MTV. Ao menos foi o que disse o tecladista Jordan Rudess em entrevista exclusiva, por telefone, direto dos Estados Unidos. Na verdade ele próprio lembrou que o Dream Theater sempre lança singles e respectivos clipes com essa intenção, e o que está animando o quinteto é o fato de terem mudado de gravadora - da Elektra para a Roadrunner. Assim eles esperam que “Constant Motion”, com quase sete minutos de duração, cumpra o papel que já foi da mesma “Pull Me Under”. Será?

Parente próximo do pomposo “Octavarium”, “Systematic Chaos” é um álbum que mantém a nova fase da banda, com um nível de complexidade apuradíssimo, mas no caminho certo, se realmente quer vencer as barreiras do metal e dos alunos candidatos a virtuose. Não à toa há uma breve citação à banda inglesa Muse, um dos queridinhos do rock inglês dos últimos tempos. Ou seria uma devolução à ”homenagem” que o Muse fez no último disco, “Black Holes And Revelations”? Jordan Rudess não entrou no assunto, mas falou de músicas do disco novo, de sua participação na banda e de outros detalhes nem tão relevantes assim, como tensão muscular e punk rock. Vejam o papo que rolou:

Rock em Geral: O que você pode nos contar sobre a feitura deste disco, depois de ter o CD finalizado nas mãos?

Jordan Rudess: Estamos muito animados com ele, é realmente um disco do Dream Theater, um disco que contém tudo que vem do metal, do progressivo, loucuras musicais… Uma coisa muito boa dessa vez foi que nós estávamos aptos para fazer o disco com todo o apoio da gravadora. Eles realmente estavam conosco, ajudando a fazer tudo o que pretendíamos e nos dando as condições necessárias para se trabalhar. Isso resultou numa certa energia por trás da banda, foi um novo frescor.

REG: Você acha que as coisas funcionam melhor quando bandas trocam de gravadora?

Jordan: Nesse caso não há a menor dúvida. A última gravadora só era boa para fazer a distribuição do disco, no mais eles não nos ajudavam muito. Essa está envolvida em tudo, trabalhando conosco e nos deixando à vontade para fazer o melhor.

REG: Há um conceito por trás desse novo álbum?

Jordan: Não, não é um disco conceitual, são só músicas, individualmente falando.

REG: Falando delas, “Constant Motion” tem muitas mudanças de andamento, é a que mais tem isso no disco…

Jordan: É o que sempre acontece no Dream Theater, é um tipo de estilo. “Constant Motion” tem tanto que talvez ganhou esse título por isso mesmo. Além disso, esse é o nosso primeiro single. Acho que é uma música interessante porque é bem metal, é agressiva, e lá pelo meio as coisas mudam para um outro enfoque. Alguém disse que parecia algo experimental quando a tocamos há um certo tempo. Mas tem o sotaque do Dream Theater, é do jeito que a nossa música é. Gostamos de colocar essas variações dentro da música.

REG: Por que justamente ela, com todas essas variações, foi escolhida para ser o primeiro single?

Jordan: A gravadora queria colocar essa música como single, eles gostaram à beça. Nós concordamos, achamos interessante ter logo uma grande música como essa sendo o single de lançamento.

REG: Se em geral o Dream Theater não costuma ter músicas tocando nas rádios ou MTV, então será mesmo importante ter um single?

Jordan: Em todo disco nós sempre fazemos isso, sempre há uma música que nós soltamos com a pretensão de ser um single e tocar em todos os lugares, essa não é a primeira vez em que agimos desse jeito. Eu acho que seria maravilhoso se tivéssemos mais espaço no rádio como tivemos no passado. Afinal de contas foi isso que criou todo o buxixo em torno do Dream Theater, depois que “Pull me Under” fez um grande sucesso nas rádios e também na MTV. Foi isso que marcou o início de Dream Theater, e nesse ponto de nossa carreira, se voltássemos a ter essa exposição, só teríamos a ganhar.

REG: Ainda falando sobre “Constant Motion”, você disse que essa música tem um sotaque característico do Dream Theater. No começo, no entanto, ela se parece como se tivesse saído de um álbum do Metallica. Essa é uma grande influência na banda, sobretudo nessa música?

Jordan: Ah, claro, eu concordo com você. Eu escrevi essa música junto com a banda, mas, no final, na hora de colocar os vocais, eu não estava no estúdio. Quando eu ouvi tudo, disse que parecia muito com o Metallica. Bem, não é nenhum segredo que o Dream Theater é influenciado pelo Metallica, chegamos até a tocar um álbum inteiro deles.

REG: Além do Metallica, às vezes parece que, ao se ouvir um disco do Dream Theater, que há um pedacinho de cada banda que influenciou vocês, como Rush, Pink Floyd e assim por diante…

Jordan: Eu acho que acontece como acontece com todas as outras pessoas. Nós não vivemos trancados em um armário, temos diferentes influências musicais, e elas aparecem na hora de fazer um disco.

O Dream Theater é o tipo de banda na qual os integrantes não têm medo de tocar qualquer coisa que a imaginação pode criar

O Dream Theater é o tipo de banda na qual os integrantes não têm medo de tocar qualquer coisa que a imaginação pode criar

REG: Esse disco parece ser um dos que tem mais partes de teclados em toda a carreira do Dream Theater. É isso mesmo, você teve que trabalhar mais nesse do que em outros discos?

Jordan: Eu não concordo necessariamente com isso… Todos os discos têm muitos teclados, mas é que na maior parte do tempo as pessoas não percebem que tudo aquilo é feito pelo teclado porque elas não sabem disso. Em outras palavras, o que eu quero dizer é que, sim, há um piano, um órgão, cordas, mas há outras coisas que parecem ser feitas por guitarras, mas que saem do teclado. Assim como efeitos sonoros, os teclados podem fazer todo o tipo de som, não só no Dream Theater, e às vezes não é um tipo de som que você logo de cara identifica como sendo de um teclado, mas está tudo ali. Então talvez nesse disco as partes mais caracteristicamente feitas por um teclado estejam mais audíveis.

REG: A música “In The Presence Of Enemies” aparece em duas partes, no início e no final do disco. Por que elas não aparecem juntas, uma após a outra?

Jordan: Originalmente essas duas partes foram compostas juntas, como uma música só, mas em algum ponto ao longo do processo, o Mike (Portnoy, baterista) estava organizando as idéias no disco por trás do álbum, e achou que seria interessante se tivéssemos as duas partes separadas, no início e no final do disco.

REG: Como vocês compõe músicas com tantas mudanças como essa? Vocês escrevem cada parte separadamente e depois juntam tudo, ou fazem tudo, digamos, de uma vez só?

Jordan: Em geral vamos para o estúdio e compomos e gravamos ao mesmo tempo, com todos instrumentos, na sala de gravações ao vivo. Mas a forma que acontece… Em geral levamos três ou quatro dias para escrever uma música como essa. O Dream Theater nunca tem idéias pré-concebidas, às vezes escrevemos coisas mais esquisitas, as idéias surgem rapidamente. Se temos algum tipo de problema, é em organizar todas essas idéias. Há muitas idéias musicais que aparecem nesse grupo de pessoas.

REG: Falando da música “Prophets Of The War”, é outra que fala de guerra, assim como “Panic Attack”, do último disco. Você acha que esse tipo de tema deve ser abordado nos próximos álbuns do Dream Theater?

Jordan: Antes de tudo, eu não escrevo a letras para as músicas, mas sim o James (LaBrie, vocalista). Em todo caso, gostamos de cobrir assuntos sérios, dificilmente se vê, em músicas do Dream Theater, temas de amor, alguma coisa muito simples. No Dream Theater nós gostamos de cobrir coisas pesadas e sérias, mesmo que sejam mera ficção. Nesse caso James decidiu cobrir o 11 de setembro.

REG: Vocês se preocupam, ao escrever uma música, em não só fazer algo tecnicamente muito bom, mas que elas sejam atraentes para o público comum?

Jordan: Deixe-me explicar o que eu acho da boa técnica. Eu acho técnica algo confuso porque muita gente acha que técnica é alguém capaz de tocar bem rápido. Mas eu acho que numa banda como o Dream Theater, nesse nível de músicos… Estamos falando de pessoas capazes de tocar rápido e também devagar, as duas coisas muito bem, e tendo uma técnica apurada, o que significa ser capaz de tocar todo o tipo de coisa que surge na sua cabeça, seja rápido, devagar, expressivo, selvagem, maluca… Acho que o Dream Theater é o tipo de banda na qual os integrantes não têm medo de tocar qualquer coisa que a imaginação pode criar, e no fundo muitas de nossas músicas são bem simples. Então nem levamos a sério quando alguém diz que o Dream Theater é muito técnico e pouco expressivo, nem prestamos muita atenção nisso.

REG: Em geral você considera que a música do Dream Theater é cativante e de fácil audição para o ouvinte comum?

Jordan: Claro que é um desafio, mas a música do Dream Theater não é esotérica, não é de vanguarda. Há muita música nesse mundo realmente muito esquisita, e a nossa música nada mais é que rock. É claro que muitas das nossas músicas demandam um pouco mais de reflexão, exige que as pessoas pensem mais, mas é isso que faz o grupo sar tão especial por todo esse tempo. Acho que temos fãs que querem fazer da audição da nossa música uma experiência, o cara tem que sentar e escutar. Mas em algumas partes pode simplesmente ouvir como fundo de alguma outra atividade. Podemos até fazer uma coletânea do Dream Theater só de baladas, hoje nosso material é muito variado. Há músicas mais fáceis que são parte daquilo que fazemos.

REG: Você já pensou em tocar numa banda de punk rock, só para relaxar um pouco?

Jordan: Numa banda punk? Eu sou o tipo de músico que estudou música clássica por muitos anos, me graduei assim e decidi que tocaria um tipo de música mais elaborado. Então eu nunca pensei em tocar nada tão simples ou mesmo comercial. Sempre me vi como um compositor e tenho minha música como algo bem sério, não penso em tocar nenhum tipo de música só porque está na moda. Eu digo isso, mas ao mesmo tempo gosto muito de música pop, não tenho problema em escutar algo que não é tão complicado. Algumas das minhas músicas favoritas são bem simples. Gosto de Pink Floyd, por exemplo.

REG: Os roadies que trabalham para o Dream Theater devem ser tecnicamente tão bons quanto os músicos?

Jordan: Nem sempre, né? Alguns deles até são músicos e tentam tocar como nós. Mas nós não estamos nem aí. Eles gostam desse trabalho, pois são fãs de rock e estão perto do que acontece.

REG: Algum de vocês já teve algum problema nas mãos pelo fato de ensaiar ou tocar em demasia?

Jordan: Nunca aconteceu, sempre tenho cuidado. Se você já me viu tocando, pode ver que na hora em que não estou tocando, estou balançando as mãos, tentando aliviar um pouco das tensões nos músculos. Todos na banda têm uma forma de se cuidar, temos feito isso por um bom tempo e estamos todos bem.

REG: Você conhece alguma uma banda cover que toca exatamente como vocês?

Jordan: Sim, claro. Recentemente eu fui à Itália para ver um concurso de bandas cover de Dream Theater. Havia bandas muito boas, eu fui um dos jurados e foi bem divertido.

Temos fãs que querem fazer da audição da nossa música uma experiência, o cara tem que sentar e escutar

Temos fãs que querem fazer da audição da nossa música uma experiência, o cara tem que sentar e escutar

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