O Homem Baile

Aerosmith faz show arrasa-quarteirão para Morumbi abarrotado

Treze anos depois da última passagem pelo Brasil, grupo americano volta a encantar platéia. “Não esquecemos de vocês”, disse o vocalista Steven Tyler. Show consolidou a importância dele e do guitarrista Joe Perry, uma das maiores duplas do rock em todos os tempos. Fotos: Marcelo Rossi/Divulgação Media Mania.

Um público de 62 mil pessoas lotou o Morumbi para ver o Aerosmith

Um público de 62 mil pessoas lotou o Morumbi para ver o Aerosmith

Aos 59, Steven Tyler mostrou estar em grande forma

Aos 59, Steven Tyler mostrou estar em grande forma

Que Jagger/Richards que nada. Lennon e McCartney? Nem pensar. O que se viu na noite da última quinta-feira no Morumbi foi a apoteose do mundo encantado de Steven Tyler e Joe Perry. Juntos, ele levaram ao delírio absoluto e contínuo cerca de 62 mil pessoas que compraram todos os ingressos disponíveis. Alçados ao meio do público através de uma passarela que se salientava do palco, Steven e Perry deram um show à parte, cantando juntos no mesmo microfone, ou cada qual à sua maneira: Steven com o peculiar modo de carregar o pedestal, fazendo dele um elemento cênico a mais, e Perry solando como um adolescente que recém descobriu a guitarra. Evidentemente a cozinha lá atrás foi muito bem marcada: Tom Hamilton está em plena forma, e o batera Joey Kramer, que parece não ter visto o tempo passar, continua dando conta do recado. Só o guitarrista Brad Whitford demonstrou certo cansaço, embora em alguns momentos tenha sido decisivo para as viagens de Joe Perry.

Steven Tyler e Joe Perry deram um show à parte: juntos eles formam uma das maiores duplas que o rock'n'roll já conheceu

Steven Tyler e Joe Perry deram um show à parte: juntos eles formam uma das maiores duplas que o rock'n'roll já conheceu

Cansaço realmente não é uma boa palavra, ainda mais se consideramos que, praticamente num take só, a banda mandou “Love In An Elevator”, “Toys In The Attic”, “Dude (Looks Like a Lady)”, “Falling In Love (Is Hard On The Knees)” e “Cryin’” – quase meia hora de pura energia rock’n’roll sem que desse tempo para a platéia se dar conta de o que estava acontecendo ali. Tyler entra no palco soberbo, com trajes predominantemente brancos, lenços e cachecóis agarrados ao microfone. De cara se movimenta na tal passarela e enlouquece o público. Ao receber uma garrafa d’água, entre uma música e outra, a devolve para a multidão como se estivesse tendo um orgasmo, e o público feminino delira. Com impressionante disposição, se considerarmos as 59 primaveras que o rapaz completou há um mês, e o passado de abuso de drogas, Tyler recupera fôlego para dizer que o Aerosmith não esquecera dos brasileiros. O telão de alta definição mostrava o vigor da banda em grandes dimensões, quando não exibia trechos de clipes das músicas que estavam sendo tocadas. “Cryin’”, por exemplo, foi emocionante até pela recordação das imagens em que a bela Alicia Silverstone aparece vestida de colegial.

Tyler se projeta no meio ao público

Tyler se projeta no meio ao público

Pausa mesmo só veio quando Joe Perry assumiu os vocais para um setzinho de blues (afinal o hard rock tem raízes lá) com “Baby Please Don’t Go” e “Stop Messin’Around” (ambos clássicos do gênero), que tem Tyler numa harmônica e Joe Perry solando horrores no final, com direito a guitarra tocada nas costas e tudo. A obscura “Seasons Of Wither” manteve o clima e fez a transição pra outra saraivada de hits daqueles que colam na cabeça de qualquer ser vivo. A baladaça “Dream On”, “Janie’s Got a Gun” e “Livin’ On The Edge”, esta com Joe Perry usando uma guitarra double neck para conduzir (no braço de 12) e solar (no de seis). Steve Tyler continua com a voz impecavelmente boa, atingindo as notas mais altas com uma naturalidade espantosa. A iluminação do palco, com aqueles conjuntos de luzes bem anos 70 (Thin Lizzy e Queen adoravam isso), e o ventilador que esvoaça a cabeleira do vocalista contribuem para o espetáculo visual como um todo. Mesmo as partes mais babas do set, como em “I Don’t Want to Miss a Thing”, de Diane Warren, o público delira e participa com um festival de isqueiros e celulares acessos que decorou as arquibancadas do Morumbi com muita emoção. Em “Rag Doll”, Perry toca slide guitar numa mesa e Brad sola à frente da música.

No final, Joe Perry se estatela em cima da bateria, mas Joey Kramer não pára de tocar

No final, Joe Perry se estatela em cima da bateria, mas Joey Kramer não pára de tocar

“Sweet Emotion” e “Draw The Line” fecham o espetáculo com fugazes e ao mesmo tempo generosos 90 minutos de duração. A primeira ganhou um arranjo funkeado, como, aliás, é a sua origem, e terminou com um solo dos mais inebriantes. Na segunda, enquanto Steven Tyler e Joe Perry vão para o meio do público, a banda instala um jam session lá atrás. No encerramento, um enlouquecido Perry se joga sobre a bateria, numa atitude à Nirvana que realçou o lado punk da banda. Para o bis havia uma lista no imaginário coletivo que não tinha fim. “Crazy”? “Mama Kim”? “Eat The Rich”? “Amazing”? “Hole In My Soul”? “The Other Side”? A banda preferiu o grande clássico “Walk This Way”, tocado solitariamente para fechar o show com cerca de uma hora e quarenta minutos. Muitos hits ficaram de fora e houve que reclamasse de muitas baladas e o pouco hard rock no set, mas como dissociar uma coisa da outra? No compito geral, prevaleceu um espetáculo de rock inesquecível, uma noite de grande impacto histórico e semblantes emocionados. E uma certeza inapelável: Steven Tyler e Joe Perry é que são os caras.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado