No Mundo do Rock

Charlie Brown Jr. continua no Revolucionnários

Baixista Champignon se livra da banda que o revelou com sua nova empreitada, mas segue com a mesma identidade sonora. Fotos: Marcos Hermes/Divulgação.

"O objetivo do Revolucionários é conscientizar, criticar e mostrar pontos de vista e entreter as novas consciências"

"O objetivo do Revolucionários é conscientizar, criticar e mostrar pontos de vista e entreter as novas consciências"

Aconteceu mais ou menos assim. Em março de 2005 o idiossincrático Chorão decidiu dar uma varrida geral no Charlie Brown Jr. e colocou pra fora da banda todos os integrantes. Convocou músicos contratados e seguiu em frente. Parte pensante da formação original, o baixista Champignon já vinha matutando uma carreira solo que, a partir dali, se transformou em sua banda principal. Longe das agruras de uma carreira bombada como a do CBJ, e de cara limpa, ele decidiu fazer da música uma proposta de conscientização para o público, de onde decorre o nome Revolucionnários, com dois “n” mesmo.

Para o grupo, Champignon convocou músicos que conhecera pela noite, incluindo o veterano guitarrista André Fonseca, que já foi da Patife Band e do Okotô. André gravou a maioria das músicas do álbum de estréia, “Retratos da Humanidade”, lançado pelo próprio selo de Champignon (Champirado Records), e distribuído pela Universal. Em seu lugar entrou Fábio Cavêra, e completam a banda Nando Martins (guitarra), Pablo Silva (bateria), filho do consagrado baterista Robertinho Silva, e Diego Righi (percussão).

Nessa entrevista concedida por e-mail, Champignon apresenta sua nova empreitada, fala da “ideologia” contida em suas músicas, suas referências musicais e muito mais. Só não se sente à vontade quando o assunto é Charlie Brown Jr., porque na separação, ao que parece, o bicho pegou pra valer. Confira:

RG: Foi difícil montar uma banda depois de tanto tempo no Charlie Brown Jr.?

Champignon: Foi um processo natural de qualquer novo projeto. Eu já queria fazer um projeto paralelo à antiga banda, já tinha composto algumas músicas. Com a minha saída esse projeto passou a ser prioridade.

RG: Como você escolheu os músicos?

Champignon: Eu já tinha tocado com o Pablo Silva na noite santista em 1996. Fizemos muitos bares de Santos juntos, como eu já conhecia o talento do cara acabei descolando o telefone dele e convidando para tocar comigo. Depois de tanto tempo sem ver o cara tocar me surpreendi, ele tá um monstro. Já o Nando Martins eu tinha acabado de me mudar para o prédio onde ele estava morando e encontrei com ele no elevador. Falei que estava montando um projeto novo, acabei indo na casa dele ver o cara tocar e o chamei para integrar o Revolucionnários. Perguntei se ele conhecia algum percussionista pra tocar na banda e ele me apresentou o Diego Righi. Já o Fábio Cavêra entrou na banda logo após a saída do André Fonseca, que gravou 10 músicas do álbum. O Cavêra gravou as últimas quatro.

RG: Como você escolheu esse nome? Ele parece ser temático em todo o disco…

Champignon: Eu escolhi esse nome devido a abordagem dos assuntos das letras que vinha escrevendo. O objetivo do Revolucionários é conscientizar, criticar e mostrar pontos de vista e entreter as novas consciências.

RG: Afinal, o que tem de revolucionário na música de vocês?

Champignon: A abordagem dos assuntos que também falam de coisas cotidianas.

RG: O que há de diferente no som do Revolucionnários em relação ao do Charlie Brown Jr.?

Champignon: No som é a continuidade do que sempre fui, mas nas letras o conteúdo não tem nada a ver com Charlie Brown.

RG: Como tem sido a participação do público nos shows? Você acredita que há uma nova galera ou os fãs do CBJ passaram a ser também fãs do Revolucionnários?

Champignon: Ainda não fizemos tantos shows, mas todos que temos feito a galera tem correspondido, e isso me faz acreditar no Revolucionnários, estamos conquistando nosso espaço. É claro que a galera espera estádio lotado e público gritando, mas todos nós sabemos que temos que conquistar muita coisa ainda. Uma carreira não se faz da noite para o dia.

RG: Durante quanto tempo você ficou compondo e preparando essas músicas? Tem material da época do CBJ?

Champignon: Pouca coisa de época do Charlie, eu pensei em me superar e esse foi apenas o primeiro passo. A maioria das coisas é de dois anos pra cá.

"No mundo atual o positivismo é uma coisa defasada e brega, mas acredito em plantar coisas boas na cabeça dessa molecada"

"No mundo atual o positivismo é uma coisa defasada e brega, mas acredito em plantar coisas boas na cabeça dessa molecada"

RG: O reggae é uma coisa presente na banda, não só na citação de “A Nova Era de Aquarius”, mas em todo o disco. Isso é determinante para a banda?

Champignon: As músicas que componho simplesmente fluem. O reggae é um estilo que faz parte da minha vida, assim como o hip hop e o rock, e esses três elementos sempre vão estar presentes no meu estilo de compor e tocar.

RG: De outro lado, a mensagem positivista demais (do reggae) não pode levar ao descrédito da própria mensagem?

Champignon: Acho que falta um pouco disso na sociedade em geral, por isso apostamos nas novas consciências. No mundo atual o positivismo é uma coisa defasada e brega, mas acredito em plantar coisas boas na cabeça dessa molecada. Quantos amigos eu perdi no meio do tráfico e outros problemas da sociedade? Acredito estar contribuindo, o positivismo e a conscientização são mais uma arma contra esses valores da sociedade atual. Acredito que essas pessoas que cometem esses crimes sofreram muitas influências negativas junto aos problemas que passam, devido ao descaso do governo ao ensino e a saúde, que desencadeiam essas atitudes criminosas.

RG: Por que duas músicas, “Conceito de Aprendiz” e “Faces da Humanidade”, não têm as letras impressas no encarte do disco?

Champignon: Por que o espaço era pequeno, não cabia no encarte, então colocamos só no site da banda. Lá podem ser baixados músicas e clipes, além de fotos e wallpapers, biografia de cada um e uma lojinha que vende artigos da banda e tem sorteios de prêmios para os cadastrados.

RG: Havia muitas referências ao Police no CBJ (sobretudo baixo e bateria) e há isso no Revolucionnários também. Como baixista você considera a banda uma espécie de “referência oculta” pra você?

Champignon: O Police é uma referência para todos que admiram música boa, acho que os caras foram um marco na música mundial, além de várias outras referências que tenho. Flea, baixista do Red Hot foi um grande professor, não que eu tivesse tido aula com o cara, mas indiretamente, tirando as músicas do Red Hot. Tem também Suicidal Tendencies, Infections Groovies, Primus, Rage Against The Machine, Iron Maiden e muitos outros.

RG: Vocês fizeram fotos com uniformes, mas vocês não usaram esses uniformes no show. Por que?

Champignon: O camuflado é uma referência, mas cada um veste como se sentir melhor e às vezes todos tocam de preto ou camuflado. Não existe uma regra.

RG: Você tem adotado um discurso antidrogas. O que te levou a isso?

Champignon: Devido às experiências vividas na minha vida e a “conscientização das novas consciências”.

RG: Como você vê o futuro do Revolucionnários? Já pensa/tem material para um segundo disco?

Champignon: Queremos nos apresentar onde puder e construir nossa carreira. Temos material para um próximo disco, porque compor faz parte do meu cotidiano. Vamos trabalhar esse disco e ano que vem lançar um próximo.

RG: Você e Chorão ainda têm uma relação amigável? O que achou da separação do CBJ, digamos, “original”?

Champignon: Não nos falamos, toda a separação sempre é dolorosa.

"O Police é uma referência para todos que admiram música boa, acho que os caras foram um marco na música mundial"

"O Police é uma referência para todos que admiram música boa, acho que os caras foram um marco na música mundial"

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