Rock é Rock Mesmo

O ano em que o Humaitá Pra Peixe choveu, mas não molhou

Uma geral no que aconteceu num dos mais tradicionais festivais de novos artistas do País.

Meus amigos, antes tarde do que nunca. Ou, por outra, nem é tão tarde assim. Convocado a contribuir com a cobertura do Humaitá Pra Peixe para a Revista Outracoisa, não pude dar um tiro no próprio pé enviando o Homem Baile para o Sérgio Porto para fazer a cobertura. Prometi, então, usar esta Rock é Rock Mesmo para dar uma geral nos shows, não a título de cobertura – essa você vê aqui -, mas como informação e, como gostam de dizer nossos modernos editores, entretenimento. Como não fiz isso semana após semana, agora vamos dar aquela geral.

Quem achava o festival morno teve a recompensa na última noite, com o esquisito Móveis Coloniais de Acaju. Esquisito na formação (repleta de gente) e adorado por uma platéia das mais empolgadas. Os caras fazem aquele som que o Los Hermanos inventou no disco de estréia e depois abandonou para virar mpb pseudocool. Só que os candangos vão ainda mais longe, com letras de gosto duvidoso, é verdade, e investido pesado nos sopros. Fizeram de longe o melhor show do festival, em que pese a homenagem ao genial Little Quail, com a participação de um febril Gabriel Thomaz e do onipresente BNegão. Este abriu a noite com o Turbo Trio, e, a bem da verdade, pouco acrescentou. O coitado carrega duas malas nas costas as custas de seu carisma. Com banda, se sai bem melhor. Se liga BNegão.

Uma noite, entretanto, serviu para uma reflexão. Alguém poderia dizer qual é a banda de rock nova legal do Rio? Rockz (cujo show do HPP foi comentado aqui) e Cooper Cobras são bem legais, mais ainda um pouco verdes. Aí alguém fala: Eletro e Reverse – essa nem tão nova assim. Pois fui no domingo, dia 21, disposto a apostar tudo nessas duas bandas. O Reverse a gente chama e rock mais por força do hábito, o grupo é uma espécie de Los Hermanos com menos guitarras ainda e mergulha numa mpb semi-eletrificada. A gente pensa se tem algo de interessante nas músicas, fazendo a básica avaliação: tem um riff? Um solo? Tem uma boa introdução? Um bom refrão? Tem uma melodia, ainda que meia boca? Juro que procurei isso nas músicas do Reverse e nada encontrei. Os caras simplesmente não têm músicas boas, defeito de boa parte das bandas de rock formadas nos últimos tempos. Restou a boa voz de Daniel Lopes, e o cover – imaginem – para uma música de Cartola (“Basta de Clamares Inocência”), famosa na voz de Elis Regina. Dá pra acreditar? E o Eletro é uma banda estranha já em sua paisagem. Imaginem a cena: um guitarrista quarentão, que tocou no Eletrodomésticos (aquele do “Choveu no Meu Chip”, lembram?), outro guitarrista, que, sem expressão, jamais sorri, um baixista altão meio desengonçado, e um vocalista chegado a exageros. Ainda assim ele é o que há de melhor, já que a música da banda se parece mais com um bailão Festa Ploc do que com o rock de verdade. Assim foi a noite do rock carioca do Humaitá Pra Peixe.

Alheio a tudo isso o Revolucionnários, a nova banda do Champignon, do Charlie Brown Jr., se deu bem fazendo o simples. Com uma banda bem entrosada, formada por gente que é do ramo, o baixista teve a manha de separar o joio do trigo, trazendo o ska e o reggae branco do Police como referência constante – em “Natureza”, por exemplo - sem deixar de lado o peso típico dos anos 90, vindos de bandas como Rage Against The Machine e Red Hot Chili Peppers. O que pegou foi uma espécie de discurso pró-conscientização (sabe-se lá de que), que foi repetido o tempo todo. No final, a banda levou “Corra Vagabundo”, uma discreta música do primeiro álbum do CBJ. E o Fresno, que vive atualmente uma crise identidade (é emo ou não é?), entrou com o jogo ganho, público na mão mesmo. Só que apresentou uma série de composições pouco inspiradas escoradas em levadas lentas e arrastadas (com um “quê” de metal) e letras que expõem um drama surreal. Tanto que deve ir parar no limbo da história, já, já.

Poderia acabar essa geral por aí, mas é preciso destacar a volta do Vulgue Tostoi, que fez um show denso e compenetrado, com destaque para o jeito bem próprio de tocar do guitarrista Júnior. Definitivamente o som da banda parece mais encorpado, fornecendo às músicas do repertório antigo um frescor de recém nascido. “Vozes”, quase irreconhecível, e “Quebra-cara” que o digam. Outro grupo digno de menção foi o Tom Bloch, bem diferente do que já foi. Hoje o quarteto (na verdade um duo com dois convidados) faz também uma música sombria, até bem parecida com a do Vulgue. Há um certo excesso de efeitos pré-gravados disparados pelo batera Iuri, ou tirados, ao vivo, da guitarra de Ray, o que deixou o show num formato muito hermético. As boas letras de Pedro são o grande cabedal da banda (rolaram as antigas “Simples Química” e “Casa”), mas a falta de intimidade dele com o palco quase coloca tudo a perder.

Ainda vale (só) citar a inocência de Érika Machado e o bom humor de Zé de Riba, porque o resto não cabe aqui, não. Se a pauta não for rock, esta coluna amanhece liquidada. Como avaliação geral, podemos dizer que esta edição do Humaitá Pra Peixe foi bem assim, assim: não fez a mínima diferença. Ao menos ninguém do Carne de Segunda ou do Kassin + 2 foi visto no palco, o que já é uma grande vantagem em relação às edições anteriores.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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