Fazendo História

‘The Osbournes’ é tributo ao ídolo

Publicado na Tribuna da Imprensa em maio de 2002.

Quem esperava que a série “The Osbournes” fosse um reality show à “Casa dos Artistas” e “Big brother Brasil” pode estar estranhando a forma com a qual o programa é apresentado, na televisão, e tratado, na mídia. Primeiro porque a série não se prende ao cotidiano explorado pelo outros programas, mas faz uma coletânea de momentos insólitos e até temáticos, como no caso do episódio dos cães e gatos, que podem ser interessantes para um público acostumado a ver um ídolo somente da platéia, durante um show.

E depois, porque se no mundo inteiro Ozzy Osbourne é conhecido e respeitado por todos, no Brasil, graças a um preconceito ignorante típico de país subdesenvolvido, ele ganha a pecha de “metaleiro” ou “comedor de morcegos”, e acaba perdido no rol do heavy metal, tratado como exceção. Assim, para muitos brasileiros, mesmo os assíduos telespectadores da MTV, e até fãs ardorosos de rock, Ozzy não representa nada, e ele e sua família sequer são vistos como os famosos da “Casa dos Artistas” ou os aventureiros do “Big brother Brasil”.

Se a falta de referência histórica é comum no Brasil, imagine em se tratando de rock, e ainda por cima heavy metal. Ozzy Osbourne foi a figura central do Black Sabbath, um grupo musical que nasceu à frente de seu tempo e mudou, literalmente, a cara do rock e da música pop. Foi com ele que o rock consolidou o preto que até hoje é usado pelos fãs, foi ele quem iniciou todo esse negócio de cruzes invertidas, braceletes e toda a indumentária heavy metal. Não existe um único grupo dentro do rock e do pop em todo o mundo que não admita a importância de Ozzy e do Black Sabbath em seus respectivos trabalhos. Não é uma opinião, é um fato.

Entretanto, ver Ozzy no seu dia-a-dia, com dificuldades para andar e mesmo de raciocínio, pode dar a impressão de uma certa decadência, o que tem levado certos jornalistas a conectá-lo friamente ao passado. Mas, ao contrário, ele é a prova da resistência do jeito, estilo e atitude rock. O modo rock de ser. Afinal de contas, quem, prestes a completar 54 anos, tendo dedicado 35 deles aos excessos do rock e do show business, ainda conseguiria resistir como Ozzy? Em todo o mundo o cidadão comum já chega a essa idade totalmente consumido pela máquina social. Ozzy não.

“The Osbournes” é, pois, um tributo àquilo que já não existe no mercado pop: o ídolo. E Ozzy Osbourne, que quase foi preso por urinar em um monumento ou por incitação ao suicídio, merece hoje, mais do que ninguém, e ainda com o aval da Casa Branca, que todos nós lhe prestemos esse tributo. Ave, Ozzy!

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