No Mundo do Rock

Veterano, Gotthard se afirma como novidade no hard rock mundial

Entrevista feita com o grupo suíço antes da apresentação do Live N Louder, em outubro. Íntegra da matéria publicada na Bizz número 207, de novembro de 2006.

Antes tarde que nunca: Gotthard faz sucesso depois de 16 anos de estrada

Antes tarde que nunca: Gotthard faz sucesso depois de 16 anos de estrada

Nas voltas que o mundo dá, quem diria, o Gotthard vem galgando espaço no mundo da música pesada como uma das revelações do hard rock mundial. A surpresa não vem em função do som praticado pelo grupo suíço, mas porque ele já está na ativa há 16 anos – tempo suficiente para um artista não ser mais tratado como novidade. O que conta é que nos últimos tempos novos ares tomaram conta da banda, que está em evidência como nunca esteve em toda a sua carreira.

O pulo do gato pode ter acontecido em 2004, com a entrada do guitarrista Freddy Scherer e a mudança no empresariamento, às vésperas do lançamento da coletânea “On Team One Spirit”, como bem conta o vocalista Steve Lee nesta entrevista. As mudanças deram resultado no álbum “Lipservice”, de 2005, ano em que a banda também fez mais turnês, resultando no DVD/CD ao vivo “Made In Switzerland”, ambos lançados no Brasil, onde o Gotthard se deleita com a quantidade de fãs a cada vinda. Na segunda, no Live N Louder, em outubro, eles fizeram certamente um dos melhores e mais empolgantes shows, mesmo tocando bem cedo, ainda com o dia claro. Completam a banda Leo Leoni (guitarra), Marc Lynn (baixo) e Hena Habergger (bateria).

Nessa entrevista, feita dois dias antes do festival, por telefone, o simpático Steve Lee falou, já em São Paulo, dessa virada na carreira do Gotthard, do show do Live N Louder mexicano, das dificuldades de afirma;cão para uma banda suíça, e do que anda acontecendo o mundo do hard rock, além, claro, da música em permanente transformação que eles andam fazendo. Confira:

Rock em Geral: Como você se sente prestes a fazer o primeiro show no Brasil?

Steve Lee: É muito bom estar no Brasil pela segunda vez e eu estou realmente animado. Chegamos há poucos dias porque tínhamos alguns workshops pra fazer em escolas de música, tocamos em shows acústicos e elétricos, e o sentimento é muito bom.

RG: Você já se sente bem familiar por aqui, né?

Steve: Estou me transformando em um brasileiro, ainda continuo com alguns problemas com o português, mas vou aprender. Se bem que falando “cachaça” e “caipirinha” se consegue tudo o que quer.

RG: É o principal.

Steve: Mas falado sério, este é o país perfeito para esse tipo de música, porque eu descobri que há muitos garotos novos que ouvem o hard rock clássico, do jeito que a gente toca, e isso é muito bom.

RG: Como foi o show no México?

Steve: Foi bom, não tivemos a chance de passar o som, entramos no palco plugando as guitarras e torcendo para que tudo desse certo. Foi do jeito que tinha de ser e acho foi um grande show e as pessoas gostaram, foi a nossa primeira vez no México. Estamos sempre descobrindo pessoas que se juntam por causa do rock’n’roll e isso é muito bom. Acho que tinha quatro ou cinco mil pessoas na hora em que tocamos, foi bem grande.

RG: E a expectativa para o show daqui?

Steve: Eu estou muito animado, mal posso esperar, certamente vai ter um grande público, e espero que o tempo esteja bom porque vamos tocar em tornos das duas da tarde, é bem cedo. Mas estou realmente ansioso, acho que as pessoas vão gostar do que vamos tocar. Se tudo funcionar tecnicamente do jeito que esperamos, acho que será um bom momento para nós.

RG: O último disco, “Lipservice”, fez o Gotthard aparecer mais no cenário, você acha que foi por causa do álbum em si ou há outra explicação?

Steve: Passamos por várias mudanças, você deve saber que a banda está na estrada há 16 anos, o que é um longo tempo para uma banda de hard rock, e eu acho que precisávamos de um pouco de ar fresco, pessoas novas trabalhando conosco, então mudamos muita gente na nossa equipe, o empresário, a gravadora. Foi bom em alguns países como o Brasil, por exemplo, e em outros nada aconteceu, então queríamos testar uma forma nova de trabalho. Acho que esses elementos, que no fim das contas são muito importantes, deu uma nova cara para a banda. Queríamos sair dos lugares onde sempre tocávamos e ir para lugares diferentes, e aqui estamos.

RG: Acabou que você não falou nada da música propriamente dita…

Steve: Acho que a música está sempre dentro de você, você tenta coisas diferentes. Quem conhece todos os discos do Gotthard sabe que a banda sempre tenta trazer algo de novo, não se auto copiar a cada álbum, nunca tentando fazer o álbum seguinte soar como o anterior. Fomos fundo no hard rock, em algo no estilo mais pop do rock, fizemos discos acústicos, fizemos coisas mais pesadas, então sempre tentamos dar um colorido novo, mas no fim das contas é sempre Gotthard. Acho que qualquer um pode reconhecer a banda em todas as fases. E acho que o Freddy, o novo guitarrista, e o Leoni, estão se dando muito bem, acho que há um nova abordagem musical, e estamos muito mais felizes do que estávamos há alguns anos.

Fomos fundo no hard rock, em algo no estilo mais pop do rock, fizemos discos acústicos, fizemos coisas mais pesadas, então sempre tentamos dar um colorido novo, mas no fim das contas é sempre Gotthard

Fomos fundo no hard rock, em algo no estilo mais pop do rock, fizemos discos acústicos, fizemos coisas mais pesadas, então sempre tentamos dar um colorido novo, mas no fim das contas é sempre Gotthard

RG: Você acha que este disco tem mais a cara do hard rock americano?

Steve: Eu diria que o anterior, “Human Zoo”, foi mais no estilo americano do que o “Lipservice”. O “Lipservice” tem talvez uma boa mescla do hard rock europeu com o americano. Ele é mais no estilo inglês dos anos 80, tipo as raízes do Whitesnake e Deep Purple, o que eu gosto, porque esses eram os meus ídolos quando eu comecei a tocar em banda.

RG: Vocês sempre foram influenciados por essas bandas clássicas…

Steve: É, do final dos anos 70 e início dos 80, onde está a raiz, mas eu gosto de nos comparar como se fala em relação ao vinho: quanto mais velho melhor. Você tem muitas experiências de tocar e outros países, já fez muitos discos.

RG: Você vê uma cena de hard rock pelo mundo ou o Gotthard é um caso isolado?

Steve: Para responder eu deveria saber sobre tudo o que acontece em todo o mundo, mas certamente eu acho que todo o tipo de música está voltando. Coisas estão voltando à moda, vejo que a muitos garotos tentando entender o que os pais deles costumavam ouvir, o que faz o hard rock voltar com força. Num certo ponto todo mundo estava tentando tocar o mesmo tipo de música. Dez anos atrás, quando todos ouviam grunge, por exemplo, todos tocavam grunge e muitas bandas mudaram o estilo para ficar na moda e esqueceram as raízes. Nós sempre tentamos manter um certo nível sobre que fazíamos, fazendo o que adoramos, por isso sempre tocamos esse tipo de música.

RG: Mas você não acha que tem espaço pra todo mundo?

Steve: Sim, claro, mas isso é com os DJs, as revistas, porque eles tentam ser mais espertos uns que os outros. Mas eu gosto de pensar em outros termos, não importa se é novo ou velho, se é honesto e você gosta do que faz, se há potência nisso, acho que você tem a chance de sobreviver. Isso é uma coisa boa no Gotthard, sempre tentamos manter nosso som em todo o álbum, nunca uma ou outra música boa e as demais diferentes.

RG: Sobre bandas novas como The Darkness e Backyard Babies, você acha que podemos chamá-los de “novo hard rock”?

Steve: Na verdade não é algo novo, basicamente eles não fazem muita coisa diferente do que nós fazemos. Talvez essas bandas tenham sorte porque vêm de países onde o rock’n’roll é muito mais respeitado. Vir da Suíça não é nada fácil, porque lá há uma mentalidade antiga. Se alguém te pergunta o que você faz para viver e você diz que é músico, todos perguntam: “não, falo de trabalho, não é possível um músico ser uma ocupação, é um hobby”. E na verdade somos profissionais há muitos anos, fazemos isso para sobreviver. Não é nada fácil vir da Suíça.

RG: O Backyard Babies é da Suécia…

Steve: Lá é bem melhor porque o país apóia bandas novas, se você tem grana do seu país para estudar música, todos vão fazer isso. É por isso que você vai até a Califórnia e tá cheio de suecos lá estudando, com bolsas custeadas pelo governo para estudar hard rock, por exemplo, é espantoso.

RG: E sobre a influência que o hard rock tem em outros estilos?

Steve: Toda influência é importante, o rock’n’roll só continua vivo porque é influenciado por um monte de coisa, e eu adoro me ver aqui, depois de vinte anos, tentando coisas diferentes. Adoro trazer novos elementos para a música, é o que nos mantém vivo. Se você quer colocar violinos na sua música, por que não? Desde que soe bem, é como deve ser, rock é sinônimo de mente aberta.

RG: Vocês laçaram um disco ao vivo há pouco tempo, há planos para um disco novo para breve?

Steve: Já estamos trabalhando no novo disco. Desde que muitos novos países estão descobrindo o Gotthard, um pouco tarde, mas nunca é tarde para o rock.

RG: Antes tarde que nunca…

Steve: Descobrimos novos países como Espanha e Portugal, por exemplo, onde fizemos grandes shows há algumas semanas. Vamos tocar de novo na Inglaterra, Grécia… Acho que no momento escrever música e coletar idéias é o que fazemos, mas continuamos em turnê. Planejamos lançar um novo álbum na Europa em torno de abril.

Gotthard ao vivo: Leo Leoni, Steve Lee, Hena Habegger, Freddy Scherer e Marc Lynn

Gotthard ao vivo: Leo Leoni, Steve Lee, Hena Habegger, Freddy Scherer e Marc Lynn

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