Rock é Rock Mesmo

Em tempos de revolução da informação é preciso dar uma filtrada no rock

Com tanta coisa jogada por aí no mundo virtual e em tudo o que é canto, cada vez mais as novas gerações precisam de um filtro para saber o que realmente interessa. Será mesmo?

Meus amigos, o que é a natureza. E o que é a tecnologia. E o que é a informação. E o que são os melhores do ano. Nem chegamos em dezembro e já tá todo mundo querendo saber quem é mais isso, mais aquilo, mais aquilo outro. Como diz o nosso editor, a quantidade de coisa pra gente ouvir, ver e conhecer é tão grande que nunca foi tão necessário um filtro pra gente seguir. Concordo. Em gênero, número e grau. O problema é que filtro é esse, e quem vai colocá-lo na minha cozinha.

Imagina-se que cada um deve ter o seu. Explico. Todo mundo, até o mais obcecado por conhecer coisas novas, deve ter em mente mais ou menos aquilo que quer ouvir, uma espécie de balizamento imaginário que lhe dá um rumo. Um só, não, mas, digamos, uma faixa de coisas que devem estar no rol das que lhe interessam. Eu, por exemplo. Se me chamam para ouvir samba-enredo, certamente não querem que eu vá. Óbvio! Lógico! Exclamaria a Dona Assessora.

Acontece que nem sempre esse tipo de filtro tem definições claras do que é o que. O sujeito compra uma revista de música como a Bizz, e acaba encontrando lá a cobertura do show do… Rebelde? Hora de dar uma lavada ou trocar o carvão ativado, não é não? Ou, por outra, o cara decide dar uma pesquisada na web, para achar alguma coisa interessante. Em geral, não se faz isso do nada, há sempre a indicação de um conhecido, ou uma busca por algo que se procura há tempos, ou ainda aquilo que é conhecido, o uso da Internet é só para um teste.

Em todos esses casos estamos falando de gente que, certamente, viveu muitos anos antes dessa revolução digital e de informação que começou sei lá quando e parece não ter previsão para acabar. Ou, por outra, começou há bem pouco tempo – dez anos passados eu sequer tinha um e-mail e hoje é impossível não tê-lo. Pessoas assim estão sempre se adaptando a cada novidade diária e sempre fazendo comparações com o passado recente; se é melhor, pior, o que muda no dia-a-dia de pessoas famintas por música e por rock, como eu e você.

Até aí tudo bem. O que pega é a relação das pessoas que não conheceram esse tempo, que começaram a se interessar por essa coisa de pop depois que toda a balbúrdia da informação, patrocinada pelo mundo virtual, começou. Essas gerações têm tanta coisa para ver e conhecer, que acabam não se interessando por nada. Ou se interessam sem o mínimo de profundidade exigida nesse ramo, ao menos nesse ramo como nós, de gerações anteriores, o conhecemos. Daí a fácil conclusão que essa turma, sim, não tem filtro algum, e, evidentemente precisam de um. Será que precisam mesmo?

Digo isso porque sou do tempo que o fã de rock, ao se interessar por uma banda, fazia o mais hercúleo dos esforços para conhecer tudo sobre ela, desde o nome dos integrantes e o que cada um toca, até detalhes mais obscuros como em que parte de cada um sola, de que disco é cada música, história de como eles se reuniram, e assim por diante. Conversa entre fãs de um determinado grupo, ou mesmo entre o fã de uma banda e o de outra, era sempre uma disputa de conhecimento para provar quem sabe mais sobre a banda em comum, ou que a banda preferida de um é melhor que a do ouro e vive-versa. Saber tudo é o básico.

Com a web, então, a quantidade de informação para se acessar e de pessoas para discutir alguma coisa nunca foi tão grande. Simplesmente não tem fim. Mas, paradoxalmente, considerando somente as novas gerações, essas pós-revolução da comunicação, o que temos não é o aprofundamento dos assuntos, mas a superficialidade. E explica-se. É tanta coisa jogada por aí que os caras não sabem sequer por onde começar, o que olhar, o que fazer, o que ouvir, se interessar por que tipo de coisa. Gostar de que, afinal? E é aí que voltamos ao tal filtro que eu vinha falando lá em cima. Eu, não. A Bizz, na palavra do nosso editor, Ricardo Alexandre. Palavra sob a qual eu assino, reconheço firma e dou fé pública.

Se a Bizz ou outra publicação voltada para a música – onde o rock se insere – é o filtro ideal, isso cabe a cada um julgar. Mas uma publicação desse tipo tem mesmo que se posicionar e mostrar os atalhos, dizer o que é bom e o que é ruim, o que vale a pena e o que não vale. Ao mesmo tempo, é preciso ter pleno conhecimento (ou ao menos uma idéia) de para quem se está escrevendo. Veículos independentes têm dificuldade - por falta de grana - para investir em pesquisas, mas publicações vinculadas a grandes editoras devem ter lá uma verbinha para um estudo, mínimo que seja, para se saber pra quem se está escrevendo – se é que isso é possível em tempos de revolução da informação.

A bem da verdade, esse tipo de coisa sempre existiu. Quem nunca esperou a opinião do crítico preferido para decidir sobre a compra ou não de um disco, ir ou não a um show? Só que nesses tempos em que tudo é farto e amplo, e a própria crítica se perde em meio a tanta informação, nunca o tal filtro foi tão necessário. Ou não?

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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