Rock é Rock Mesmo

Na festa dos modernos, o melhor show foi de um dinossauro

Ecos do festival que é a cara da descartabilidade dos nossos tempos e que, de quebra, mostra a decadência da modernidade.

Meus amigos, o que é a modernidade. O que é a natureza. E o que é o Tim Festival, hein? Como um sopro de vanguardas anônimas o evento que melhor simboliza o vazio dos hypes e do culto do novo pelo novo passou rapidamente num final de semana na Marina da Glória, aqui no Rio. Foi, aliás, a primeira edição neste novo local, já que o MAM foi “arrendado” pela Vivo. Modernidade até nisso, não é, não?

Digo isso já tendo como certo o meu fracasso na enésima tentativa de me converter num ser moderno. Se no primeiro dia chaguei a bater a cabeça com a empulhação de segundo escalão chamada Daft Punk, no segundo não consegui arredar o pé do show de uma senhora de 60 anos para ver o TV On The Radio. E isso sem falar que no domingo tive quer dar um pulo ali na Barra, no Claro Hall, para ver o G3 e seu espetáculo de guitarras, antes de voltar correndo para a Marina da Glória a tempo de encontrar o Beastie Boys cansadão e até o Caetano tirando onda de “roqueiro”. Trash pacas, né? Isso graças ao amigo Terence Machado, que produz e apresenta o Alto-Falante na Rede Minas, que estava aqui para cobrir o TIM e providenciou a carona expressa de um ponto a outro da cidade.

Pois foi no meio do show da Patti Smith, que outro amigo, José Flávio Jr., da Veja SP, virou-se e falou: “deixa eu ir ali no Palco Lab buscar meu tostão de modernidade”. Junto com ele, Paulo Terron, meu chefe lá na Bizz, também foi, e nem passou pela minha cabeça dar um passo em direção ao outro lado da Marina. Menos de cinco minutos depois estão os dois de novo ao meu lado. Não suportaram a vanguarda modernosa e voltaram correndo para ver um medalhão do punk rock. Medalhão que nem tem uma carreira tão brilhante assim, mas que fez um show de rock de verdade, capaz de espantar qualquer hype inflado de última hora. Lindo ver Patti Smith empunhando a guitarra e mostrando para o público como é que as coisas são. Irônico, né? Na festa dos modernos, o melhor show foi de um dinossauro.

Mas disse que tive que deixar a Marina da Glória por algumas horas para ver o G3 no Claro Hall, e o fato causou espanto por parte de alguns colegas que, para o bem ou para o mal, ainda não compreenderam muito bem o poder o rock e de uma guitarra. Noutros tempos, me lembro bem, não era preciso essa correria, não. Porque as atrações escaladas no (então) Free Jazz contemplavam artistas com o G3. Quem não se lembra de espetáculos arrebatadores como o de Jeff Beck, por exemplo, que em 1998 espatifou a guitarra no chão, no segundo show, depois de um primeiro, mais cedo, no mesmo dia, esgotado? Ou o do prodígio Johnny Lang? Assim era o festival que foi criado, dizem, à semelhança do afamado Festival de Montreux. Acontece que nos últimos tempos a coisa degringolou para a tal da modernidade estéril, o culto do novo pelo novo ou algo que o valha. Só mesmo o Palco Club se preservou, graças a Zuza Homem de Mello, que não deixa o antropólogo meter a colher ali. Ainda bem, muito embora eu pouco me interesse por jazz. Mas que cabia um show de Joe Satriani e afins numa dessas edições do Tim Festival, ah, isso cabia. Difícil é compreender o prisma antropológico.

Com um orçamento generoso – que leva jornalista para a Europa para ver as atrações, antes, para bombá-las a tempo – a produção do Tim Festival bem que poderia ter descolado um lugar para estacionamento e pontos e ônibus. Digo isso e já me lembro que o festival é elitizado, custa caro, restringe acessos e ainda permite que os off-stage fiquem circulando na área externa pela bagatela de vinte reais. Aí, dá-lhe conforto classemediano. Eu, por exemplo, no primeiro dia, decidi pegar uma das vans que levavam o público de um dos estacionamentos para o festival - no Tim, van se chama “shuttle” – e acabei irritado com a falta de organização da coisa toda, que me fez perder uma hora. A sorte é que contei com incompetência geral, que fez com que todos os shows começassem com o mesmo tempo de atraso. Nos segundo dia, renunciei às facilidades da modernidade e fui a pé. Não deu outra: cheguei sem nenhum atraso. E no terceiro, o expresso Terence funcionou na conexão Tim Festival-música boa.

Estou falando a rodo e não comento os shows. Explico. Isso aqui não é resenha, não. Quem quiser ver a cobertura propriamente dita, que vá atrás d’O Homem Baile. Ta tudo lá, timtim, por timtim. Aqui, não, aqui tenho que reconhecer o meu fracasso ante à modernidade generalizada que freqüentou a Marina da Glória no último final de semana. Tinha de tudo meus amigos. Até moçoilas bem vestidas usando caixas de som no pulso como se fossem relógios. A idéia era mostrar um aparelho e telefone celular que identifica uma música qualquer. É só aproximar que ele diz nome, autor e o escambau. A demonstração das moças, claro, não funcionou, e eu vi a modernidade decair ali, bem na minha frente. Só as simpáticas belezocas é que valeram a pena.

O melhor do festival é que ele, ao que parece, se fixa no Rio em definitivo. Nada mais justo que um evento que vive de hype aconteça numa cidade que sobrevive da badalação, como o verdadeiro tambor cultural que sempre foi. Digo isso pra registrar a presença de uma série de artistas, globais e afins, devidamente flasheados logo na entrada do evento. Até o bom e velho Caetano se rebolou todo ante ao fã Devendra Banhart. De outro lado, se o evento é no Rio, jornalistas do Brasil todo e de São Paulo desembarcaram por aqui, numa inapelável migração do bem. Nessa balbúrdia toda, com cerveja na promoção de três por R$ 12, não consegui encontrar, vejam vocês, meu amigo Moderninho de Plantão. Ok, a Marina da Glória é um pouco maior e tem uma grande área à céu aberto, mas como não me esbarrar com esta inefável figura? Eis aqui um grande mistério.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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