O Homem Baile

Um Beastie Boys cansado e um Caetano cansativo encerram o Tim Festival

Noite de domingo certamente não foi das melhores para o festival. Fotos: Chris Von Ameln/Divulgação Tim Festival (Beastie Boys), e Publius Vergilius/Divulgação Tim Festival (Caetano Veloso)

Mike D mandando ver, com o DJ Mix Master Mike ao fundo

Mike D mandando ver, com o DJ Mix Master Mike ao fundo

A última noite do TIM Festival 2006, que teve a escalação questionada desde o início, foi das mais mornas, mesmo com a perspectiva de termos um agitado Beaties Boys, e ajudada pela sonolência de Caetano Veloso. Chegou a ser melancólico o encerramento do evento ontem, na Marina da Glória, no Rio.

A expectativa para ver o Beastie Boys onze anos depois que da primeira vinda ao Brasil era se eles tocariam como banda de verdade, executando aqueles hardcores que fizeram história, ou se ficariam só no lero-lero. Quando o DJ Mix Master Mike apareceu fazendo malabarismos com as pick ups no meio do palco, veio a resposta: os três homens brancos mais famosos do hip hop aparecerem trajando terninhos à “Pulp Fiction” e começaram a mandar os raps que sacolejaram o público por pouco mais de uma hora.

Adrock e MCA: faltou gás ao cansado Beastie Boys

Adrock e MCA: faltou gás ao cansado Beastie Boys

Certamente a platéia estava na mão, desde o início, com “Root Down”, até o bis que causou certa surpresa. A cada novo hit executado o palco principal do Tim Festival tremia, literalmente. Acontece que MCA, Adrock e Mike D, todos filhos da classe média nova-iorquina, não são exatamente mais os menos. Antes da metade do set pareciam cansados, trocando o início explosivo por passos cada vez mais lentos no palco, mesmo nas músicas mais agitadas ou em hits do naipe de “No Sleep To Brooklin”. Fato pouco notado, logicamente, pelos fãs que lotaram o local.

No final, veio a surpresa: um pano preto é desfraldado e surge uma bateria em tons verdes, indicando que enfim o trio tocaria pra valer. Em seguida a decepção, já que só duas músicas foram tocadas nesse formato, com os instrumentos mal afinados e os músicos exaustos. Foram “Gratitude” e “Sabotage”, a primeira quase irreconhecível, já que um baixo ultradistorcido estragou tudo, e a segunda, um desfecho que poderia ser irretocável saiu muito meia boca. Eles até disseram que queriam tocar mais e que não podiam continuar por causa do formato do festival, mas certamente agradeceram a Deus por terem terminado o set tão depressa.

Caetano fazendo rock? É ruim, hein?

Caetano fazendo rock? É ruim, hein?

Ele não estava sequer programado, mas topou fechar o Tim Festival na alta madrugada de segunda-feira mostrando só músicas do novo disco, que dizem que é “rock”. Caetano Veloso não precisava disso. Poderia simplesmente lançar “Cê” num Canecão da vida e isso lhe faria muito bem. O público que o aguardava não era nada animador, mas bastante animado; se dependesse dele, Caetano não sairia do palco. Ele chegou a voltar para dois bis, tocado músicas antigas com “I’m Alive” e “You Don’t Know”, já que as 12 músicas de “Cê” esgotaram-se durante o show.

É evidente que “Cê” não é um disco de rock, e o repertório apresentado mostrou isso: uma série de músicas lentas, perto do acústico, que remetem aos piores momentos do artista. Salpicadas aqui e ali, aí sim, referências ao Sonic Youth e à nova mpb de Los Hermanos e adjacências, e ainda “Rocks”, com pegada radiofônica, podem até dar a impressão de que estamos num show de rock, mas são passagens isoladas e pouco significativas que revelam mais oportunismo (lembram de “Velô?”) do que a sinalização para o gênero do qual Elvis é rei.

Os que apontam este álbum como “de rock” devem estar se referindo à simplicidade das músicas – algo que não combina com Caetano - e dos arranjos, todos feitos em cima de baixo, guitarra e bateria. Por isso talvez o show na engrene por um minuto sequer, o que, excetuando-se o gargarejo, levou muita gente para casa antes do fim do set.

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