O Homem Baile

G3, enfim, faz show consagrador

Joe Satriani, Eric Johnson e John Petrucci promovem espetáculo que é ode à guitarra e ao bom gosto. Fotos: Terence Machado.

Quando veio pela primeira vez ao Brasil, há quase dois anos, o G3 deixou a desejar. Em 2004, vieram Joe Satriani, Steve Vai (com uma bandaça de encher os olhos) e Robert Fripp. O problema é que Fripp não captou o espírito da coisa e acabou tendo uma participação bisonha. Desta feita, Vai não participou, mas Satriani esteve muito bem acompanhado com John Petrucci, o guitarrista do Dream Theater, e Eric Johnson, que participou da primeira formação do G3.

Eric Johnson parece que não, mas toca muito

Eric Johnson parece que não, mas toca muito

A coisa funciona assim: cada um faz seu set particular de uns 50 minutos, e no final todos tocam juntos, em geral covers de clássicos o rock. Quem começou foi Eric Johnson, que de cara já mostrou uma perícia extraordinária. Suas músicas muitas vezes começam com um jeito de música pop, e do nada ele desencava solos arrebatadores. Foi assim com, por exemplo, “Desert Rose”, já no final do set. Em “Manhatan”, uma de suas músicas mais conhecidas, o franzino guitarrista solou numa evolução de acordes cativantes que pareciam não ter fim, arrancando aplausos de um Claro Hall absolutamente abarrotado. Quem olha assim o guitarrista de longe, com suas roupas conservadoras, não imagina que dali saiam músicas tecnicamente intrincadas, mas, ao mesmo tempo, de raro bom gosto.

John Petrucci solou horrores...

John Petrucci solou horrores...

John Petrucci é o tipo de cara que, no Dream Theater, já reina deitando e rolando em solos nas longas e tecnicamente bem arregimentadas músicas do grupo. Sozinho ele não deixou por menos e trouxe à reboque Mike Portnoy, o batera do DM, e Dave LaRue, que tocara o passado com a banda de Steve Morse. No repertorio, as duas músicas que estão no álbum duplo do G3 gravado em Tókio em 2005, ”Damage Control” e “Glasgow Kiss” – as seis músicas estão no álbum “Suspended Animation”, lançado por Petrucci em 2005. “Damage Control“, pesadaça, encerrou o set, com um solo espetacular; “Glasgow Kiss” compôs bem a apresentação e revelou um Petrucci em sintonia com os guitarristas solo criativos do naipe de Satriani e Tony Macalpine.

... Mas Mike Portnoy quase rouba a cena

... Mas Mike Portnoy quase rouba a cena

Um show à parte foi dado por Mike Portnoy. Com uma bateria minúscula, se comparada à que usa no Dream Theater, ele esbanjou competência e simplicidade, arrancando aplausos a toda hora com viradas ininterruptas, e, lógico, atirando baquetas para o alto e girando-as entre os dedos. Chegou até a arremessar uma para um roadie, e recebeu de volta sem maiores problemas. Houve tempo até para um solo de baixo de Dave LaRue, em “Wishful Thinking”, que terminou, logicamente, num mini duelo com Petrucci. Outro ponto alto foi a linda balada “Curve”, que deu uma acalmada com classe na platéia.

É aí que chega a vez do chefão Satriani, que, a bem da verdade, é o professor de todo guitarrista que se aventura numa carreira solo desse tipo. Não é preciso ser conhecedor de nada para perceber isso assim que ele entra no palco. Tudo ganha um up grade, desde o som, passando por luzes e, claro, pelo jeito espetacular que Satriani tem de tocar guitarra e, sobretudo, compor, fazendo com a guitarra as partes comuns de uma música com introdução, ponte, refrão e assim por diante. A abertura é com a apenas razoável “Flying In a Blue Dream”, mas tudo começa de verdade com “The Extremist”, faixa-título de um de seus melhores discos. Satriani toca gaita (presa no microfone) e sola alopradamente, com uma desenvoltura sensacional.

Modesto, Joe Satriani se deleita com o G3

Modesto, Joe Satriani se deleita com o G3

O solo de baixo em “Cool #9” faz aparecer, de novo, Dave LaRue, que tocara com Petrucci. Na bateria está o técnico e preciso Dave Campitelli, companheiro de Satriani há muitos anos. Como lançou um disco novo esse ano, o ótimo “Supercolossal”, saemi dele a faixa-título, a pesada e bela “Redshift Riders”, “Just Like Lightnin’”, tocada com os dentes, quando LaRue, Satriani e um segundo guitarrista vão para a frente do palco em performance arrebatadora, e “Crowd Chant”. Essa música, que no disco aparece com samplers da platéia gritando durante um show, ao vivo ganha contornos especiais, num clima de grande interatividade artista/público. As últimas músicas são a excepcional “Summer Song”, a melhor de toda a noite, e a clássica “Always With Me Always With You”, que no final dá a deixa para a entrada de Petrucci, e depois Eric Johnson. E aí Satriani pergunta: “estão prontos para a experiência do G3?”

Satriani, Johnson e Petrucci: o G3 em ação

Satriani, Johnson e Petrucci: o G3 em ação

O público delira, já que as músicas tocadas pelos três, com a banda de Satriani (sem Portnoy, como sonharam alguns), são meros pretextos para que solos oportunos e criativos venham à tona. De cara, “Voodoo Chile” mostra Johnson (que também cantou) dando lição a Petrucci, e ambos prestando vassalagem à Satriani. Joe é, aliás, um caso à parte. Passa a maior parte do tempo fazendo bases irrisórias para que seus convidados realcem mais no palco como uma generosidade exemplar. Quando chega a sua vez, ele sola com uma alegria contagiante, como se fosse um reles aprendiz ali no meio dos leões. As outras duas músicas foram “Red House” e “Rockin’ In The Free World”, de Neil Young, cantada por Satriani, registrada no disco do G3 com Satriani, Vai e Malmsteen. No fim, apesar da ausência de Steve Vai, a sensação foi de que, enfim, vimos o que é verdadeiramente um show do G3: uma experiência emocionante.

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