O Homem Baile

Embuste eletrônico dos anos 90 marca a primeira noite do Tim Festival

Segundo escalão da eletrônica da década passada, Daft Punk transforma palco em boate; Modernidade retrô de Devendra Banhart arranca risos do público e empolga Caetano Veloso. Fotos: Alexandre Schneider/Divulgação Tim Festival (Daft Punk) e Publius Vergilius/Divulgação Tim Festival (as demais).

Muitas luzes para atenuar a deficiência musical do Daft Punk

Muitas luzes para atenuar a deficiência musical do Daft Punk

Na estréia da nova locação do TIM Festival no Rio, ontem, até que as coisas correram bem. Fora do MAM, o visual futurista deu lugar ao daquela típica festa junina de interior, e as atrações contribuíram para que os shows ficassem vazios, e os espaços externos, lotados.

O Daft Punk era tido como a grande atração da noite, já que havia esgotado os ingressos do palco principal. A dupla de DJs se apresenta sobre um tronco de pirâmide em cujas superfícies laterais são projetados vídeos que acompanham o ritmo de um repetitivo baticum. Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter apareciam no topo travestidos de seres espaciais, dublando como se estivessem fazendo som ao vivo. Era o bastante para que, a cada entrada de um timbre mais grave, o público entrasse no ritmo da discotecagem frenética imposta pela bem equalizada aparelhagem. O embalo era auxiliado – e muito – pelos efeitos de iluminação e vídeo, indispensáveis ao espetáculo. Tanto que eram eles que comandavam os momentos de maior interatividade com a platéia.

Seres de outro planeta musical aportaram no Rio

Seres de outro planeta musical aportaram no Rio

O set foi até curto – cerca de uma hora e quinze – se comparamos com as mais de três horas que o Daft Punk faz no exterior. As músicas se dividiam entre simples repetições de si próprias e outras com riffs “chupados” de outras artistas. No fim das contas, fica a sensação de que o espetáculo em si é um grande embuste, o que de certa forma representa bem o engodo que foi a eletrônica dos anos 90, muito embora o Daft Punk tenha sido, vamos e venhamos, um nome de segundo escalão nesse metiê. Espertos foram os paulistas, que transferiam a tempo o show deles lá para um lugar menor que o inicialmente planejado. Porque, como se viu ontem, a música de boate do Daft Punk só acha eco mesmo em playboys de última hora e suas Pats; não apetece sequer os fãs de musica eletrônica. Ou seja: tivemos ontem, em pleno Tim Festival, a boate mais cara do ano.

DEVENDRA BANHART BOTA CAETANO PRA DANÇAR

dupla malesa lembrou o som caribenho de Carlos Santana

dupla malesa lembrou o som caribenho de Carlos Santana

Enquanto isso o Placo Lab, atrasadíssimo, via a apresentação da cantora Céu, revelação da nova mpb. Depois dela, foi a vez da dupla Amadou e Mariam, um casal de cegos do Mali que vem acompanhado por uma banda enxuta, mas que remete aos melhores momentos de Carlos Santana, por conta das percussões e dos solos – modestos e pouco inventivos, é verdade – de Amadou Bagayogo. A indumentária dos músicos, típica da região, esconde um pouco a referência caribenha, que é forte na música deles, mas realça aquilo que o primeiro mundo convencionou chamar de “world music”. Só que, vazio, o Palco Lab pouco aproveitou, exceto aqueles que precisavam aplacar o frio cruel soprado pelos refrigeradores.

O maldito hippie sujo atacou no Tim Festival

O maldito hippie sujo atacou no Tim Festival

Os que ficaram até a alta madrugada puderam ver a banda de Devendra Banhart passar o som no prório palco no maior estilo espelunca de underground, só que no suntuoso Tim Festival. O figura é uma espécie de versão retrô de si próprio, parece ser uma alma reencarnada de algum violeiro folk pré-Woodstock que se recusa a sair de um perene túnel do tempo. O tal do folk psicodélico que a mídia tanto propaga, entretanto, não chegou a empolgar o público, exceto por raras exceções no meio de uma platéia, já escassa. Lenta e arrastada, a banda, apesar de ter três guitarristas, não decolou, ao menos até o primeiro fato inusitado acontecer. Devendra chamou para o palco quem “soubese tocar”, e logo um gaiato sem voz fez as vezes da banda, num mico extraordinário aplaudido pela platéia do Tim Festival, notadamente a mais condescendente da história do pop. Depois o grupo voltou mais animadinho, tocou uma de Bob Dylan, se assemelhou ao Black Crowes e ainda levou uma de Caetano Veloso, referência confessa. A essa altura, depois das 4 da matina, o próprio Caê dançava no meio da platéia, protagonizando o segundo fato inusitado da noite. Para muitos, segundo consta, muito melhor que o próprio show. Fala sério, Devendra.

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